29.12.10

Fechado pela segunda vez


Eu me encontro num estado de estafa mental onde não quero conversa com quase ninguém. Eu estou fazendo a contabilidade desse ano que passou, do trabalho, do primeiro namoro, das novas amizades, do péssimo ano na faculdade, dos quilogramas a mais e dos neurônios a menos. Estou tentando entender as duas mortes que chegaram com o fim do ano e acabaram com quase todas as forças da minha família. Estou tentando entender porque, mesmo com saudade e medo, não consigo voltar a morar em Apucarana. Estou tentando entender porque eu falo sem pensar, porque sinto tanto medo das coisas e essa dor de cabeça que não sai de mim desde quando o meu primo se foi.
Estou tentando entender a vida e o azar, tentando entender a dor. Eu preciso mais do que nunca de compreensão, silêncio e carinho. Doses intensas de carinho. Eu preciso entrar no controle de novo, porque o meu "emocional" está despedaçado.

Vou ficar ainda mais dias fora e esse ano eu não vou fazer um agradecimento por 2010, embora eu tenha realizado um dos maiores sonhos da minha vida por ajuda de uma grande amiga, embora tenha tido um emprego maravilhoso, conhecido pessoas de ouro e, principalmente, encontrado o amor da minha vida sem esforço
algum. Eu amo vocês que me ajudaram, amo meus Castro, meu namorado, meus amigos. Mas eu tô cansada, não sei quando vou recuperar meus ânimos de volta. Estou fechada pra balanço e num luto mudo até quando for necessário.
Feliz 2011, saúde.


6.12.10

9 itens

Bom, kibando gostoso um post do blog da @carolbqc que já andou kibando um tumblr x por aí, eu quero fazer 9 coisas básicas sobre mim nesse post. Como eu sou egocêntrica, nem achei difícil listá-las. E foi ainda mais fácil porque tô entediada.
Então tá aí, em ordem aleatória de escolha:

1 - Quando eu esqueço alguma coisa rapidamente, esses lapsos de falta de memória, brancos rápidos, eu viro a cabeça levemente para a direita, semicerro os olhos e franzo a cara. Nessa linda expressão, paralizo todos os movimentos. Só assim, nessa sequência automática de ações, é que eu consigo lembrar a parada que acabei de esquecer. Isso acaba de acontecer. Eu acordei com uma música na cabeça e esqueci por uma fração de segundos o nome dela. É My Sweet Lord do George Harrison, no caso.

2 - Toda vez que eu lembro de uma gafe do passado, alguma situação de vergonha intensa, eu grito "ai". Não importa se eu esteja fazendo vestibular, num velório, beijando, no cinema, cozinhando, dançando a valsa vienense. Eu entro num universo paralelo de vexame e arrependimento e exclamo "ai" para mim mesma como se não houvesse amanhã. Isso já aconteceu tantas vezes na minha vida que eu já criei artefatos básicos de fuga quando tem gente por perto. A saída mais comum é dizer "me deu uma pontada na cabeça".

3 - Eu cutuco embaixo da unha até sair sangue quando estou fazendo a sobrancelha. Explico. Fazer a sobrancelha não dói tanto assim, mas irrita. É uma agonia extrema. Uma pessoa debruçada sobre você, com a base da mão afundando seu globo ocular, uma pinça afiada arrancando fio por fio e puxando a pele junto, sem parar, passando um algodão irritantemente seco. AAAAAAAH. É angustiante. O meu desvio de dor é cutucar a unha do dedo do meio com a unha do dedão até sentir dor, dor mesmo, para ver se desvio a atenção do meu cérebro para outro tipo de má sensação, afinal, dor é melhor que aflição. Pelo menos pra mim.

4 - Eu perco o sono quando não uso despertador. É que, assim, eu fui acordada pela a minha mãe até os 18 anos. Até atingir a maioridade eu nunca usei despertador. Aí eu fui morar fora e, infelizmente, comecei a trabalhar. Para isso eu usava meu celular e me acostumei rapidão, acordei quase o ano todo ao som de You Only Live Once e boa. Mas vocês mal podem imaginar o inferno que são os dias de folga, fim de semana e afins. O meu lindo corpinho curte muito dormir. Como ele sabe que, por mim, durmo 24 horas seguidas sem nem notar, ele fica me acordando de 20 em 20 minutos porque não botei o maldito do despertador para acordar. Deu pra entender? "Uau, poxa, que feliz! Amanhã dá pra eu acordar às 11 horas." Aí meu cérebro começa a me acordar às 7 da manhã. É eu dormir de novo que ele me sabota, acordo com um susto "PORRA, JÁ DEVE SER 8 DA NOITE!" E eu sou tão masoquista que, mesmo assim, não programo o despertador. Fico esperando o meu corpo acostumar que agora tô de férias, livre, sem trabalho. Mas o lindo me quer proletária mesmo, não tem jeito.

5 - Eu odeio figo, leite com achocolatado, molho de macarrão com cebola e frutas cristalizadas. Essas coisas pra mim são tão nojentas quanto morder nervo de frango. Odeio fígado também, mas acho que isso é questão de nivelamento social. Uma curiosidadesinha, rssss: eu amo panetone. Virou um ritual de, sei lá, uns 16 anos eu comer panetone tirando cuidadosamente cada grão daquele capeta em forma de goma que eles chamam de fruta cristalizada. E eu nem reclamo, curto mesmo essa tarefa. Tiro, deixo só as uvas passas, e amasso o panetone pra ele ficar meio encruado e como. That's how I roll.

6 - Meus pés são horríveis. Eu sei que não sou nenhuma Lady Di e só Deus pode me julgar, mas vocês não sabem como são meus pés. Ok que alguns sabem, né, a merda da convivência. Mas os bichos são escrotos. Digamos que de comprimento eu calço 32 e de largura eu calço uns 42. De modos que eu calço de verdade, em geral, 34-35 e sempre, digo, SEMPRE, deformo a lateral dos calçados. Aí você pensa "porra, mas isso também acontece comigo". Aí é minha vez de te dizer: qualquer largura absurda que seu pé possua, saiba que o meu é maior. E é. Quando eu engordo mais, a coisa passa do limite do aceitável e vira tipo uma... Prancha de surf. Aí você acha que acabou o drama, né. Bem que eu queria. Não tenho unha no dedinho - isso muita gente também sofre, né, que merdinha - e as outras unhas crescem pra cima. Imaginem assim, uma unha deve crescer meio reta, tipo uma prancha mesmo. A minha cresce tipo um ralf, aquela pista de skate que é uma rampa. Minha família me chamava de "unha rampada" quando era criança. Pé de onça também já chamaram. Devido a essa anomalia eu não sei fazer as unhas dos pés em casa, é bastante difícil. Quando eu vou na pedicure elas ficam chocadas e sempre me dizem "nossa, não dá pra fazer francesinha" como se eu estivesse pedindo e não soubesse do fato. Eu devo ter 1mm de unha em cada dedo do pé excetuando o dedão que é quase normal. Para fechar o caso ainda tenho 4 dedos do mesmo tamanho + um dedão que é muito separado dos outros dedos. Parece a mão de um orangotango com nanismo.

7 - Ainda no ramo das unhas, que são sempre anomálicas no meu caso, tem mais um fato babaca que eu acho o máximo em mim: rs. Sabe aquela curvatura branca (clique) que tem em background nas unhas da mão e dos pés? Esse negócio que todo mundo tem em pelo menos uma das unhas das mãos, geralmente nos dedões... Nos pés costuma-se ter nos dedões também, gente que tem aqueles dedos alienígenas bem compridos também têm em todos os dedos dos pés e... Enfim, eu não tenho. Nenhunzinho pra contar história. Como eu descobri isso? Sei lá. Só sei que foi desde criancinha e eu curto reparar se as pessoas têm ou não. Até hoje eu só descobri uma pessoa e se pá nem queria ter descoberto porque essa pessoa não merece ter a mesma bizarrice que eu porque é um cu.

8 - Eu tenho refluxo. Vomito em 95% das vezes que escovo a língua. Essa você poderia ter ficado sem saber, hein?

9 - Não sei jogar baralho. Nem truco, nem poker, nem cacheta, nem o raio que o parta. Não sei jogar vídeo-game. Não sei jogar jogar sinuca. Não sei jogar ping-pong. Não sei jogar totó. Não sei jogar nada que envolva quadra + bola + jogadores, ex: vôlei. E, tipo, nem quero saber.

Bom, eu poderia listar ainda mais uns 20 itens sobre mim, mas a proposta é 9. Ainda sobre as unhas, só um adendo: as unhas dos meus dedos do meio das mãos são tortas. "AI MEUS DEDOS TAMBÉM", ok, lindos, todo dedo do meio é torto. É anatomicamente normal ter os dedos do meio tortos, sorte tua que não são retos senão você quebraria com facilidade. As minhas unhas é que são tortas. Dá pra notar até por foto. Ah! Antes que eu me esqueça de um dos meus pequenos prazeres pessoais: tenho a menor mão do mundo em proporção de idade e altura. Procura-se quem quebre esse recorde.

Tchau.

5.12.10

Atenção

A minha intenção aqui não é magoar ninguém. É esclarecer. Eu preciso de atenção.
Preciso de atenção na mesma medida em que preciso ficar em silêncio comigo mesma, conversando sozinha, silenciosamente, calada.
Eu preciso do cuidado extremo. Da devoção. E não é pedir muito. Talvez eu já faça isso por alguém.
Eu preciso ser ouvida, compreendida, apoiada. Eu preciso do sei-como-é-isso e do fica-bem-meu-bem. Chega a ser vital essa necessidade.
Eu preciso que me escute, preciso que pare tudo o que está fazendo e me ouça ao telefone, preciso que se penalize com o meu pesar, que chore junto as minhas dores, que force a compreensão.
Eu preciso que todo o carinho que dou seja retribuído da mesma forma, da forma atenciosa que eu tanto peço. Preciso da simultaneidade, do olhar repousado sobre os meus, enxergando as minhas palavras.
Eu preciso que atenda o telefone e se alegre por ser eu, que me acorde com bons dias e lamente a minha ausência. Meu Deus você longe daqui como me dói.
Eu preciso que você demonstre isso tudo com a mesma intensidade que eu demonstro. Caso contrário, me sinto sozinha, fico ferida.
Eu preciso de você, sabe?

18.11.10

Novo Eu

Agora são 3 e 27 da madrugada e eu tomei uma decisão: não vou mais ter medo das coisas. Eu não sou mais sentir o mundo sumindo debaixo do meus pés por banalidades. Eu vou deixar de ser responsável. Eu vou pensar em mim. Eu vou ser egoísta de verdade.
O medo que me paralisa, o medo que me faz sofrer, o medo que me sangra. Esse medo vai morrer. Perdemos tempo tendo medo, tempo em que poderíamos estar vivendo. E não estamos. Eu faço parte desse grupo, do clube dos infernais. Eu vou tirar esse pedaço de inferno de dentro de mim, eu não serei mais em carne viva. Eu quero ser inconsequente.
As minhas frases, mais do que nunca, começarão com EU. Eu não serei mais passada para trás, eu não serei mais acuada. Agora eu tô nervosa e as coisas vão se curvar quando eu passar.

12.11.10

Eu vou dizer agora o que eu queria ter dito na hora que pude. Não tive coragem.

Herói, eu não fui a sua prima mais próxima e nem convivi contigo nesses últimos anos, mas trago comigo muitas lembranças boas, muito carinho, muito amor por você. De lembrar da forma que você ria descontroladamente silenciosa, de como você sempre passava mal em viagens (e a gente te zoava bastante), de como você era lindo e era o único primo de olhos verdes. Você gostava do jeito da vó, dessa brabeza engraçada dela, você era enjoado com comida (ovo sem gema, por favor) e passou sua pré-adolescência como ovelha negra da família. Eu, você e Thaís, os filhos problema. Não que fôssemos ruins, nada disso, tínhamos "gênio forte", diziam. Você foi por um grande tempo um menino quietão, brusco, fechado, tipo o teu pai em relação a algumas pessoas. Mas, assim mesmo como o Seu Zé Pai, você mostrou para o que veio. Sempre cheio de namoradas, sempre rindo de tudo e fazendo um comentário que fazia as tuas primas quase chorarem de rir.
Vídeo-game me lembra você, de Carmen Sandiego do Natal de 90 e pouco ao Play 3 do último Natal. BigMac me lembra você. O Rappa me lembra você. Olhos verdes. Dentes quadradinhos. Som alto. As coisas da vó. Os malhas. Biscata. Vira a página. Tony e Áurea. Muita coisa, primo, muita coisa. De quando seu carro pifou perto da catedral, de quando você beijou a menina embaixo do pé de chuchu, de você rindo do Tio Gilberto.
Hoje a tua recente partida faz sentido por alguns motivos e o maior deles é não receber tão frequentemente a notícia de que "o Zuido não tá bonzinho". Também me consola saber que te disse a tempo o quanto me orgulhava da sua força, o quanto te amo. E, não menos importante, por saber que seus 22 anos foram vividos com intensidade, com felicidade e muitos, muitos mesmo, bons momentos.
Sei que esse último ano e meio que você viveu foi doloroso, meu amigo, eu sei sim. Muito tratamento, muito remédio, internação, superproteção. Mas você venceu aquele que te vencia, pisou em cima do pescoço do inimigo. Mas ele voltou e dessa vez a gente teve de aceitar que você não tá mais aqui. Foi duro, primo. Foi horrível e está doendo muito. Te ver e não poder te ouvir rindo novamente, Zé. Você não tem ideia de como é estranho estar perto de você e não ver esses olhos verdes se franzindo ao rir. Dói muito, primo.
Eu quero que saiba, onde quer que esteja, que de você ficam as boas lembranças, boas risadas e muita sabedoria de um jovem que lutou até o fim. Você é o guerreiro mais forte que já vi, é o meu herói para todo o sempre. Nem sei mais o que te dizer, cara. Saiba também que, apesar de nos sentirmos aliviados por sua dor e sufoco terem cessado, você deixa mãe, pai, irmão, tios, primos, amigos e uma namorada apaixonada muito desnorteados pelo eco do seu silêncio que vai perdurar pra sempre.

Esperamos te ver em breve, Zé! Nós te amamos e isso nunca, nunca, nunca irá acabar.
Valeu, Zuido, Dudé, Zé Eduardo. Valeu por tudo!

11.11.10

Bilhete ao meu amor

Minha Vida,

quando a gente briga eu choro feito uma condenada. Choro mesmo, com dor, sangrando. E você me abraça forte, me afoga em seu peito, me silencia. Aí somos eu, você, seu perfume e nada mais. É como se o mundo inteiro ao redor se desligasse e virasse só cenário, palco e plateia para nós dois.
Aí o seu cheiro fica em mim por horas, longas horas. Lavo a pele e ainda o sinto, nos braços, no rosto, no colo. E às vezes me vem de repente, sobe às narinas, bate pela janela, invade o quarto, enche o coração. Costumo crer que é você pensando em mim, se fazendo presente.
Eu nem sei porque estou escrevendo isso, na verdade. Acho que é só para você saber, pela enésima vez, que eu te amo. Essa menina arrogante, medrosa e frágil te ama com toda a força que possui, e precisa de você a cada dia mais, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo.

Sua Luciana.

30.10.10

A nossa vida não tem mais fim

"Eu vou terminar com ele" e falei isso com a veemência de quem sabe que está mentindo. Não ia.
E uso isso para assustar e não o consigo, acabo sentindo o medo que tentei desencadear. E sofro. Recuso o beijo na face que me doeu a noite toda. Terminar, falei em terminar sem ao menos pensar no peso disso. Agora quem poderia ser terminada era eu.
Quando a gente usa essas coisas pesadas pra criar impacto, a gente sempre se dá mal. Só a gente. Na verdade isso não era uma vontade muito menos uma proposta, era uma burrice mesmo. Eu não quero terminar nada do que está começado, muito pelo contrário. Essa chance é um fantasma que vez ou outra me aterroriza nas madrugadas.
A madrugada! Não foi fácil. Ecoou a noite toda alguma risada maléfica que queria dizer "agora aguenta". E o medo só crescendo "Você não brincou de falar em término? Agora aguenta!" E quase não aguentei, foram longas horas de sono intercortado, sono ruim, das piores safras.
Deu a manhã e a cabeça muito cansada de pânico dormiu. Dormiu pesada. O despertador me acordou e eu ainda não havia dormido o que queria. Tive de partir.
Aí começa a nova etapa do terror: as ligações. Liguei, sei lá, 15 vezes. Achei que era o fim mesmo e o remorso nos consome de forma assustadora. Dói o peito, a gente chora sozinho no ônibus, rói as unhas, reza baixinho "Senhor, não deixa que termine".
Consegui falar. Disse o que me entristecia, reconheci a grosseria, a intolerância, a infantilidade. Atentei a algumas coisas. Disse que amo, e como amo. Amo muito. E de tanto amar, como começaria o Chico, tenho medo dessa coisa de acabar. Arrepio só de pensar. Só que a raiva cega e a gente quer impor um medo, uma força, por meio de uma ameaça que vai fazer mal pra gente mesmo. É como ameaçar suicídio a quem te ama, sabe? Todo mundo vai sair perdendo.
Eu peço desculpas por ser criança e, agora, depois de pensar mais, por ter feito cena com isso. Apesar de ter sentido tanto medo de você aceitar aquilo que nem proposta foi, fico aliviada de você entender que eu só quis por à prova uma coisa que não deve ser colocada. Nunca. Nunca se vinda de você. Na hora em que disse "Por que, você quer?" me gelou até a alma e eu jamais tive tanta certeza do quanto não quero ver o fim, do quanto isso tudo me é vital.
Para mim e para Os Mutantes a NOSSA vida não tem mais fim. Individualmente não somos eternos, mas isso que nos une é para sempre.

Eu te amo, vida. Eu te canso de tanto dizer.

28.10.10

(Con)Sequência

Quando se digita no buscador do Google “Sequência”, ele te dá aproximadamente 3.870.000 resultados em 0,13 segundos. Os resultados são tantos assim, mas os significados não são muitos. O dicionário dá os conceitos de ação de seguir, continuação, seguimento. Aquilo que, de acordo com alguma lógica, sucede algo. E, voltando ao Google, podemos encontrar alguns exemplos. A sequência numérica, lógica, sequência de golpes, de passos de dança. Algumas áreas até se apropriaram do nome sequência para identificar algo, como o cinema, por exemplo, que assim denominou o conjunto de tomadas (takes).
Sequência também foi apropriado por esse Jornal para estampar nossas capas e identificar o conjunto de nossos trabalhos. Porque é o resultado final de tanto esforço ao longo de um ano e meio de produções para, finalmente, chegar a esse nível em que chegamos. O nome é Sequência porque, mais que a sucessão desses esforços, ele não finaliza um ciclo, pelo contrário, ele é o primeiro de muitos jornais impressos que esperamos produzir. Ele, mais que um nome, é um lema que a nossa equipe, apesar de dissonante de opiniões como todo grupo costuma ser, leva a sério. Estamos dando sequência a esse sonho, a esse projeto. A essa vontade imensa de sermos jornalistas.
Essa produção é a sequência de tudo o que fizemos até agora, é o nosso maior fruto feito de papel. E assim como na sequência de passos de dança, ensaiamos muito antes da apresentação final. Erramos, corrigimos, editamos. Aprendemos a ponderar vícios de linguagem, nos policiamos em linhas longas, crescemos períodos curtos demais. Criamos. Essa é a nossa sequência, o nosso Sequência. A informação que não para, a curiosidade que nunca cessa, o crescimento que é (con)sequência de muito trabalho.

27.10.10

Um olhar no lotação

Atenção! Antes de começar a ler, saiba: mesmo que pareça, esse texto não fala sobre você.

Tenho uma amiga que tem dentre os passatempos prediletos escutar conversa de ônibus. Certa vez resolvi experimentar e me sentei no banco próximo à porta num lotação repleta de estudantes de uma conhecida universidade. Você, leitor, deve conhecer. Um rapaz e uma moça conversavam sobre modelos de tênis, não me chamou atenção. Dois meninos, aparentemente nada estudiosos, falavam sobre como era difícil assistir aula de um professor com nome de marca de perfume. Uma moça roia as unhas enquanto a outra engatava um conto maçante sobre sua trajetória ao longo dos regimes emagrecedores. Essas coisas.
No meio dessas vozes todas, gostei de uma suave, quase fina, de uma mocinha de cabelos ondulados escorada na porta do ônibus. Ela tinha a pele bonita, mas visivelmente cansada do longo dia de trabalho e, além de uma pasta cheia de Xerox, ela trazia consigo uma enorme bolsa que, segundo ela, “estava um chumbo” de tão pesada. A menina falava com dois rapazes, certamente do mesmo curso que ela faz, sobre como é difícil conciliar trabalho com faculdade. Ela era pequenina e frágil, mas sua rotina era de gente grande. Pelo que consegui ouvir, ela levantava às seis da manhã, pegava condução para estar às oito horas no trabalho. Ela trabalhava numa loja de roupas e não passava sequer um dia sem tomar xingo do patrão. O expediente fechava às dezoito e ela negociou para sair uns minutinhos mais cedo e conseguir pegar ônibus a tempo de chegar no restaurante universitário antes de começar a aula. Ainda tinha que ir para casa e fazer os trabalhos que a faculdade carinhosamente presenteia. Acredite, a leitura desse período é muito menos cansativa que a rotina da moça.
Ela não era empolgada, nem parecia estar feliz por ter acabado um dia de trabalho e, finalmente, estar indo para a faculdade. Ela estava “de saco cheio disso tudo”, como falou com os olhos mais molhados que o convencional. Ela estava cansada, em pé no ônibus, com bolsa de chumbo, pasta na mão, bracinho enroscado na porta e um olhar no fundo de quem pede silenciosamente gritando por paz, por calmaria. Os amigos dela ficaram quietos olhando ela contar sobre como não havia atingido nota em determinada matéria. Penalizados, eles também viviam rotinas estafantes – ou só quiseram ser compassivos.
Eu sei que nunca mais vi exatamente essa menina, mas vi diversos olhares dela por aí. Encontrei-os no olhar da minha amiga que incentivou esse hobby, no do namorado, no cobrador do ônibus. No espelho. Todo mundo pedindo ajuda, pedindo clemência. Querendo um tempo para descansar, repousar. Deixar de fazer essas coisas todas que fazemos todos os dias sem vontade alguma, ter tempo novamente. Esse olhar tão triste, tão enfastiado, é o olhar que estampa a cara de muita gente que anda pelos coletivos, pelos terminais, hospitais e corredores da universidade. É o olhar da mocinha da voz doce, o olhar daqueles que não têm tempo e que estão sentindo seus corações virarem chumbo, tal qual é o peso de seus fardos. É o olhar de quem quer sair por aí gritando feito louco por um minuto de paz, mas está ocupado demais digitando um artigo para faculdade. É o olhar da gente para a nossa vida.


Luciana de Castro

A última

Hoje eu vou falar de verdade, vou falar de forma organizada. Hoje eu vou comunicar a minha decisão: acabou.
Somos pessoas tão estranhas, e talvez você seja tão mais que eu, que estou dando término em nossa amizade. Eu nunca havia tomado uma atitude dessas.
Ontem foi a nossa última conversa e confesso que dizer "nossa" me soa estranho hoje em dia. Eu não gosto mais de você devido a todo esforço que você teve para me fazer chegar a essa, antes dolorosa, conclusão.
E eu nem te listo os motivos pois você já os sabe. Sua personalidade mutante, o seu pouco caso com o que eu sinto (e senti), o seu egoísmo e prepotência espantosos. Você fala como se tivesse salvado a minha vida quando entrei na faculdade. Saiba de algo: você não o fez. Nunca bateu no peito pra dizer pra todo mundo que eu era a tua amiga, pra me defender de toda palavra ofensiva que saiu da boca de muita gente contra mim (e minha amiga). Pelo contrário, riu de mim. E eu tentei por muitos meses não crer nisso, hoje a situação fica insustentável.
Não dá para empurrar esse vestígio de "amizade" com alguém que não cumpre promessas, palavra e que acredita ser o salvador da minha vida - sendo repetitiva.
Outra coisa, você brada que estava do meu lado em horas que eu muito precisei. O que fez foi ouvir dos meus dramas, só isso. Reconheço que não é tarefa fácil, mas fiz por merecer. Ouvi de tanta gente que você não era merecedor de todo sentimento que eu te doava e, sem pensar, repelia essas pessoas. Defendia sem ao menos tirar satisfação contigo, elogiava. Hoje não tenho mais saco pra isso.
A minha vinda pra cá talvez tenha sido um pouco por sua causa, mais pela amiga que citei acima. Hoje em dia não faz o menor sentido. Eu não quero estar perto de você e não sou a única a pensar assim, você pode perceber. Se você tentou me comprar ou não, vamos esquecer. É um duelo desgastante e esse é meu último recado, minhas últimas palavras.
Eu te desejo sorte na vida, agradeço pelos momentos bons em que você esteve ao meu lado e lamento por todas as vezes em que você me fez mal pensando só em você e no seu ego inflado.
Quando você não quer me magoar, sempre diz que tem muitos amigos. Espero mesmo que os tenha. Eu lamento também, porque ainda acredito em algumas coisas que você diz, por não poder estar por perto nessa hora que você diz estar sendo difícil. Lamento profundamente. Mas nós não podemos mais ser amigos, você procurou isso.
Aquela hora eu levantei e passamos a ser conhecidos. Última vez em que eu chorei.
Espero que você não fique por aí falando sobre mim. Se bem que tanto faz... Eu tenho gente ao meu lado.
Novamente: boa sorte. Você ainda deve ser um cara legal, mas não pra mim. Eu não sou legal.

ps: se você comentar, apagarei. Não me mande mensagens offline.

26.10.10

Minimalismo

Eu, você, cerveja, uma toalha, grama, árvore, roupa xadrez, um rádio. Longe.

20.10.10

Sonhei que morria

Sonhei que morria, me jogava de um prédio e me arrependia no meio. Esqueci o que aconteceu depois disso, mas eu tava na mesa do Valentino tomando cerveja com dois amigos. De repente eu chorava, chorava muito - e eu já protagonizei essa cena duas vezes - e falava umas coisas sobre trabalhofaculdadeamor. Aí, num flash, prendi meu dedo na porta giratória e doeu feito um diabo. De repente o Danylo me abraça, me beija as lágrimas e a gente tá aqui em casa, olhando a rua pela janela do meu quarto. A rua que eu moro em Apucarana - quase igual.
Acordo sem saber o porquê disso tudo e o coração disparado. Ah, e com o dedo indicador latejando. Lateja até agora.

12.10.10

Eu não sei o que é paz

Desde criancinha eu tenho passado por todos os sentimentos que um ser humano normal passa ao longo de sua vida.
Algumas pessoas, e foram bastantes, me disseram desde então que eu tenho uma certa disposição a "sentir mais" todas as coisas. Como se eu me importasse mais com os sentimentos, como se eu desse superlativo a todas as emoções. E eu faço isso.
O que eu noto por mim mesma é que desde essa época aí eu não passei, nenhum segundo sequer, pela paz. Eu já amei, e amo. Já odiei, e odeio. Já senti medo, e estou agora. Já senti repulsa, inveja, orgulho, carinho, decepção. Tudo. Mas eu não sei o que é paz, não faço nem ideia.
Na verdade eu nem sei se paz é um estado emocional, talvez nem seja mesmo. Mas eu nunca vislumbrei essa coisa, que quer que ela seja.
Nesse momento eu tenho um namorado que amo e me ama. Tenho pais zelosos e extremamente amáveis. Amigos que eu daria a vida por eles. Uma casa bem cuidada, roupas novas, estômago cheio, corpo são. Meus problemas afetivos estão sanados. Estou com um pouco de saudade dos meus pais, da irmã que é linda e sincera.
Mas a cabeça não vai nada bem como sempre. Dessa vez o problema é o trabalho e o desenrolar dos fatos decorrentes dele. Dessa vez a bomba é outra e eu vejo ela acesa em meu colo. Só eu vejo. E perco o sono, a vontade de fazer as coisas, o brilho, o ânimo. Mora em mim um grande medo, um pânico. Um horror. E uma vontade de abrir uma saída com os próprios punhos.
Converso, peço ajuda. Tenho meus guerreiros ao meu lado, mas não tenho sanidade. Eu não sei o que é paz, eu nunca soube. A minha cabeça é um purgatório, sempre há um problema que ela mesmo cria e me consome, me queima tudo por dentro. O que me resta. O problema é comigo e com essa loucura que nasceu dentro de mim. Por culpa dela, e de mim, eu não sei o que é paz.
O que faço eu da vida então?

10.10.10

Alice

Aqui quem escreve é Alice. A mesma que apareceu ontem à noite no sonho das aranhas e dos paraplégicos.
Onde as aranhas comiam cabeças, devoravam. Eu sou o medo que você sentiu.
Eu sou a paranoia que você teve ao se deitar, pensando na morte daquele que mais ama. Eu sou seu choro agonizante.
Eu sou a sua inaptidão em explicar as coisas, eu sou o aperto no peito, eu sou a tristeza que sempre morou em você.
Eu sou a cadeia, a jaula, o perigo. Eu sou a dor e as atitudes erradas. Eu sou a dor nas costas que te cresce a cada segundo.
Eu sou o demônio que você vê ao fechar os olhos, eu sou os olhos estalados que você está agora. Eu sou o cheiro de enxofre que invade o teu quarto.
Eu sou o temor da morte que te assombra desde criança.
Eu sou o inferno que te espera depois dessa vida. Eu sou a morte com sua foice na mão. Eu sou seus olhos querendo se fechar para você ver o medo.
Eu sou sua pele esfolada, ardendo. Sou sua vergonha. Eu sou todo o mal que mora em você, sou todo o nojo.
Sou sua vontade de morrer, seu reumatismo, seu orgulho. Sou suas dores.
Eu sou esse pensamento funesto que está agora, esse plano falho de pular pela janela.
Eu sou essa razão que você nunca vai encontrar.
Eu sou você, só que eu me chamo Alice. Eu sou Alice.

24.9.10

Amor

Já fui católica fervorosa, era devota. Ia na missa, rezava antes de dormir, sermão no domingo de manhã. Já estudei a Bíblia por contra própria, dediquei um mês da minha vida ao estudo do hinduísmo, assisti culto evangélico e morri de medo do juízo final. Virei ateísta, sofri, fiz promessa, rezei, orei, autoexorcizei. Assumi-me pagã, profanei, ri, fiz descaso, pouco caso, nem liguei. Voltei a sofrer, ser herege e orar, tudo ao mesmo tempo. Botei-me de joelhos ao chão, não fui mais à procissão e decidi deixar rolar.
Há uns meses atrás descobri o amor, virei adepta. Toda noite penso nele antes de dormir. Vivo por ele. Comungo de sua carne, sangue e suor e ele da minha. Somos um só corpo e um só espírito. Digo uma só palavra e entro em sua morada, fria, desconsolada. E de lá saio renovada, porque o meu nome está no amor. Dentro, fora, pelas beiradas.
Se quer saber, talvez Deus seja mesmo o amor. Se não for, ainda haverá tempo de descobrir. Fiquem com amor.

17.9.10

Sobre o que tem acontecido

Não me lembro que dia foi, mas esses dias a minha mãe me ligou quando eu estava dentro do 307 indo para UEL. Ando bem esquecida, mas me recordo de estar um pouco atrasada para aula do Bola. "É, filha, o primo piorou", foi o que ela disse de início. Eu senti uma fincada na nuca e as pernas amolecendo. Eu estava em pé próxima à porta e a vontade na hora foi de arrombá-la com o pés e, sei lá, sair correndo. O primo piorou. O câncer voltou e voltou violento. As dores absurdas nas costas já anunciavam o pior e todo mundo respirou bem fundo antes dessa notícia. Sim, o câncer voltou.
Esses dias têm sido estranhos. Domingo comecei a somatizar as coisas erradas mas, repito, tenho estado confusa com datas. Não sei se foi após esse telefonema que o resto desandou ou se estava desandado e eu parei para pensar só nesse momento. Não importa. O que tem acontecido é que as coisas estão muito erradas. Tenho dormido mal e não tenho vontade alguma de acordar. Meu curso me enoja e meu trabalho me enche o saco. Tudo fica ainda mais doloroso porque eu sei que aqui em casa as coisas não andam nada bem.
Paira sobre mim uma grande culpa por ter ido embora contra a vontade dos meus pais. Talvez eles precisem de mim nessa hora de aflição. Mas, acima de tudo, tenho precisado deles. De ouví-los lavando a louça e fazendo comentários desconexos sobre qualquer coisa. E não é uma saudade comum. É uma dor por ser uma filha ausente. Uma dor por estar perdendo um primo e estar longe cuidando de um monte de coisa que eu não gostaria de cuidar.
O primo está com dores, toma bastante morfina. Está menos pálido e muito magro, os ossos estão visíveis e o machucam. O câncer se alastrou como uma praga - pensando bem, câncer é uma praga. Hoje os médicos desiludiram a família. Apesar de tudo, está lúcido, embora esquecido. Quer sarar ou ir embora logo, permite-nos chorar e não sente fome. A tia está desesperada, revoltada. Dessa vez parece que não tem saída e eu só entendi a dimensão disso aqui em Apucarana. Vejo meu pai como nunca vi, os olhos molhados e sem muita piada. A mãe chora o tempo todo, não costuma esconder nada mesmo. Escondemos um do outro o que estamos sentido, mas toda hora escapa uma palavra e já falamos dele, de como isso dói.
Eu, já de saco cheio de tudo, fico sem saída. Não há nada que eu possa fazer, nada mesmo. Nem ao lado da família posso estar. Mas dói muito. Não sou a prima mais ligada a ele, nunca tivemos tanta intimidade. Mas quando ele se curou da primeira vez, me deu um novo sentido às coisas. Meu herói. Curou-se de três tipos de câncer e teve um Natal só para ele. Um Natal tão lindo que eu nunca vou me esquecer. A família toda numa felicidade absurda, celebrando a vida que tinha retornado a ele. Parecia que havia sido uma prova, sabe? Que, pronto, ele e nós aprendemos a lição.
Nada disso. Ele está mais doente que da outra vez, nós estamos descrentes, clamando por uma fé que poucos de nós têm. Eu mesma não tenho. Sei lá, eu sou bem egoísta mesmo. Mesmo pensando nos pais dele, nos meus pais, no restante da família, penso em mim. Como vou ficar se o pior acontecer. Porque eu não aceito a morte e nunca vou aceitar. Porque sei que é a ordem das coisas, mas não aceito que aos 22 alguém tenha que dar fim a essa progressão. Eu não aceito.
Hoje meu coração sangra de cansaço, medo, dor, saudade. Hoje estou confusa. É o que tem acontecido. Preciso de férias da vida, preciso do Danylo o tempo todo, preciso passar uns dias em Apucarana. Acima de qualquer coisa, preciso de um milagre que salve a vida do José Eduardo. Do Zuido. Do Dudé.

Esse é o meu desabafo sobre o que tem acontecido.

12.9.10

Um leão de cada vez

Eu não faço ideia de quando ouvi essa expressão pela primeira vez. "Um leão de cada vez". Só sei que ultimamente tem martelado na minha cabeça com muita frequência. Vai ver porque são muitos leões. Vai ver quero matá-los todos de uma vez. Vai ver são as duas coisas.
O meu maior leão, além de tantos outros, é o jornalismo. Há o tablóide, o notebook sem indesign, o trabalho e a prova de literatura, a matéria condensada do Shoni, alguma coisa do della Santa, matéria de rádio por vir, trabalho e resenha do Miguel. Parece que não vai dar tempo.

Um leão de cada vez, mesmo que todos estejam em volta de você. Você tem de enfrentar um de cada vez, deixe-os saber que você irá encará-los um a um, com a lealdade de um guerreiro. Um leão de cada vez, mortal. Porque seu sangue é ácido e mata, porque seu nervo é aço. Dez leões numa só noite, cem, mil. Milhões. E você irá matá-los com os dentes, rasgará com os punhos. Porque você é mais forte que eu um leão. Você tem a nobreza de mil gladiadores e força de um deus.

Eu acredito nisso. Um leão de cada vez.

10.9.10

A menina ainda dança

Mais uma vez o meu título vai fazer referência a Novos Baianos. Vai fazer sentido com meu mesversário de 19 anos, que parece ter sido ontem.
Mas a menina ainda dança porque hoje faz outro mês, um primeiro mês. A menina hoje dança porque fazem 30 dias que o amor resolveu fazer-se compromisso e ter data fixa: 10 de agosto. E um sorriso maior é dado a cada dia 10 de todo mês.
Na verdade esse texto é de desnecessário a você, meu garoto, porque tudo o que sinto você sabe. Tenho até medo que se canse de saber. Esse texto é para que agora todos saibam que eu te amo. E que todos saibam que você ama aquela que era impossível de ser amada, aquela que era acostumada com o sofrimento, aquela que fazia-se triste para, talvez, se sentir melhor. Esse texto festeja nosso um mês de namoro e nosso infinito de amor mútuo.
"Se depender de mim você só vai escrever sobre suas conquistas", e cá estou eu, botando em prática a tua promessa. Porque a vida tem lá suas dificuldades, coisas que deveriam mudar e a gente cansa de outro tanto. Mas a menina ainda dança, a menina ri e dorme em paz porque você existe.
Obrigada por esse mês, por essa paz, por esse amor tão lindo. Obrigada por se apaixonar por mim e por ser minha metade tão completa, tão linda.
Eu te amo, te quero, te espero, vida. E a menina sempre vai dançar apaixonada por você. Felicidades e vinho!


À nós.


25.8.10

Preocupations

Insatisfeita, essa sou eu. E não é com a sorte, com o trabalho, com o namorado. É comigo. É, principalmente, com a rotina.
No começo do ano eu sabia que seria um período árido, acompanhar faculdade com trabalho, cuidar da vida sem pai e mãe, me virar. Só que isso tudo não tem sido problema.
O drama da vez é a rotina. Acordo, trabalho, estudo, durmo. Tudo meia-boca, tudo nas coxas, vou levando. Não sei qual a última vez que li algo para a faculdade, mato trabalho, não cuido da casa. Não gosto mais das obrigações. Fosse em abril estaria virando a noite com guaraná em pó para diagramar e acordar cedo no outro dia. Em tempos de agosto eu já não sei o que adio primeiro.
Fui programada logo ao nascer para não conseguir executar tarefas que repudio, é a hipótese mais aceita por mim. Odeio diagramar, odeio acordar cedo, odeio depender do horário dos outros. Tem sido desgastante lidar com essas coisas todos os dias. E o barulho do centro, e a comida de restaurante, e o sono acumulado e a vontade de estar longe dali.
De repente me surgiu uma vontade de ter bebedeiras, dormir até meio-dia, passar o dia todo na UEL, fazer algum projeto, ler qualquer coisa, fazer amigos. Tive vontade de viver do ócio, de dormir em excesso, de me cuidar.
Nesse momento eu quero qualquer coisa, qualquer saída. Eu quero ouvir umas músicas, ver filmes, bater perna. Eu quero sumir daqui. Quero pegar o meu amor pela mão e fugir pra bem longe. Eu queria eu e ele e a praia. Eu queria pouco, esfriar a cabeça. Queria ter 19 anos.
O que perturba é que amanhã eu preciso acordar cedo, trabalhar, fabricar pautas, diagramar. E tudo isso não é simples. O que perturba é que tem mais deveres por vir e mais obrigações. O que perturba é que a minha frustração atingiu um nível tão alto que eu nem posso descrevê-lo.
Eu só sei que estou cansada, saturada da rotina, precisando de férias, querendo passar uns bons dias sozinha, outros com o amor. Limpar tudo aqui dentro da cabeça, relaxar o corpo. Reiniciar. Tô precisando de menos preocupations, como diriam os Novos Baianos.

22.8.10

Changes

Yesterday all my troubles seemed so far away, now it looks as though they're here to stay.








Oh, I believe in yesterday.

16.8.10

19


Aí chegaram os 19 anos. Aí veio o perfume, o relógio, roupas e uma bolsa de cordão dourado. Aí vieram as mensagens, as ligações e os abraços. Os cumprimentos. Aí veio um bolo de chocolate, um big tasty e uma tequila. Veio o choro, o Valentino, as risadas, a música ruim e a cerveja. Antes disso veio o pedido disfarçado no meio de um riso nervoso, com mais cara de sugestão, interrogação seguida de exclamação. Cumprindo o protocolo com a ansiedade de uma criança que já sabe a resposta na ponta da língua: é claro que sim. É claro que sim. Aí chegou o compromisso que só faltava o nome. Aí vieram a falta dos pais, os amigos da terrinha, a vida adulta. 19.
Aí veio engolindo a semana o sábado e domingo. Aí a madrugada reservou o seu presente e o riso tenso se transformou em beijos e carinhos. Veio o melhor fim de semana dos 19 anos já vividos sem motivo aparente ao restante da sociedade. Veio a descoberta de que "agora eu quero só você" e que o você também me quer. Veio um novo sorriso da vida, novas preocupações, novos rumos. Veio a segunda-feira gelada inundando a felicidade da folga, veio a rotina, os medos, as angústias, o jornalismo. Vieram os 19, novas metas, uma semana inteira. Uma semana de 19, de ideais, de concepções, de amadurecimento. Uma semana de namoro. Uma semana de uma vida melhor, de uma vida que eu lutei muito para conquistar.
Vieram os 19 anos e com ele uma Luciana 19 vezes mais livre, completa. Uma Luciana 19 milhões de vezes mais feliz.

27.7.10

Sagrado

Por você eu não nego as sagradas escrituras e sou capaz de afirmar que vale mais um dia nos teus átrios do que, em outra parte, mil.

23.7.10

Diretamente do inferno

Esse texto é sobre o que dizem de mim e não vão mais dizer.
Esse texto é sobre a facilidade de me culpar pelas coisas por eu ser "difícil de lidar". Esse texto é sobre a terrível dor de ser como sou.
Esse texto é sobre as pessoas como eu. Pessoas como eu são complicadas. São duras e explícitas, enérgicas. Pessoas como eu são doentias e tentam mudar o que vêem de errado pelo poder de sua persuasão. Pessoas como eu falam mais que as demais pessoas, e falam de todas as formas que conseguem, pessoas como eu sofrem, sofrem porque têm uma sensibilidade maior àquilo que está errado e porque nosso grito nem sempre é tão alto a ponto de todos ouvirem.
Pessoas como eu amam profundamente e, ao amar, cobram, e ao cobrar, sofrem a injustiça de serem chamadas de injustas. Pessoas como eu amam e, ao amar, erram. Porque amar é o maior erro que um ser humano pode cometer. Pessoas como eu sofrem a agonia de ser dramático, de ver a tristeza crescer em qualquer canto que for. Pessoas como eu não sabem calar a boca, não ponderam as palavras e esquecem de pensar antes de falar.
Pessoas como eu desejam mudar o mundo, por mais que seja o seu mundo particular.
Pessoas como eu, essas com coração calejado. Que batem portas, choram, mordem, rangem, perdem a razão. Pessoas que sentem a febre subindo à testa porque não conseguem explicar que o que cobram é apenas o amor que doam. Pessoas como eu não têm dimensão dos sentimentos, possuem todos em seu grau máximo de expansão. Pessoas que fagocitam o próprio coração, digerem seus orgulhos feridos e degustam o sabor peculiar do sangue entre os dentes.
Pessoas como eu, eu como pessoa. Que não sei pedir as coisas mas sei que as devo pedir. Pessoas como eu que acreditam nas outras e na mítica força do amor. Pessoas como eu que não perdem a esperança na vida e nos seus desejos. Pessoas como eu que perdem a credibilidade porque sempre pedem as coisas. São sempre sérias.
Eu. Que não sei o que faço da vida e de tanto errar acredito que a falta de saída é o meu encontrar. Eu e algumas pessoas que querem por perto, que querem estar junto, que querem agora. Ou talvez seja somente eu.
Fulano. Ele. Nós. Esse texto é para quem quer seja, é só um aviso. É um texto para quem não sabe da dor a metade, para quem não sabe o que fiz para ser quem eu sou. Para quem não sabe o esforço que é ser assim, se manter equilibrado. Esse texto é para informar que não vão mais me chamar de teatral e nem nada do tipo. Esse texto é para deixar claro que eu sou assim, e eu não vejo erro em querer sempre mais. Eu não vejo mal em pedir que as coisas sejam como eu quero. Elas nunca são.
Esse é mais um texto escrito direto do inferno, o local onde sempre sou acolhida de braços abertos.

18.7.10

Traço da Personalidade

Ser rude, impetuosa, (im)previsível, dramática. Tudo isso é perdoado, é traço da minha personalidade. Eu sei disso porque me dizem. O assassino só passa a ser um monstro quando a agressividade-traço-da-personalidade tira a vida de alguém. O mentiroso tem esse traço da personalidade. Quando mente sobre nós, torna-se um crápula. A rebeldia é um traço da personalidade, a militância é deliquência.
Enfim, não estou aqui para criticar como a sociedade lida com os defeitos. Não estou apta a oferecer saídas, portanto, calo-me. Vim aqui dizer que há um traço na minha personalidade que ninguém nota com facilidade. Eu o perdi. Eu não faço mais planos.
Passei 18 anos de minha vida planejando coisas - isso não quer dizer que se realizavam. E meus planos, de tão grandes, viravam sonhos, e desses sonhos surgiam coisas que mente alguma poderia planejar. Eu parei com isso, parei quando o maior dos planos deu certo. Agora sou mais uma, sem perspectivas, não sei criá-las sem os planos. Não levo uma vida de sonhadora, faço drama com coisas não teatrais, tento me virar com o que tenho. Mas não tenho planos.
O motivo desse texto não era parecer confusa e nem ao menos fazer uma brincadeira com "traço da personalidade", era só avisar que a partir de agora eu vou começar a fazer planos de novo, vou esquematizar, combinar comigo mesma, sonhar bem alto. Essa sou eu, afinal, minha personalidade.
Be careful.

15.7.10

Falando de agora

Falando de agora, nesse momento, às 22 horas e 55 minutos desse 15 de julho de menos de 15 graus, falando de exatamente agora, eu precisava de você. Eu precisava do seu lado, as costas afiladas, sentados numa varanda e o vento frio correndo as narinas. Eu precisava do seu corpo tremendo e o jeito peculiar que você segura o copo com cerveja. Precisava do mundo inteiro lá longe e a cidade brilhante nos cobrindo da noite que vem. Eu precisava de eu e você esquecendo tudo o que aconteceu e acontece, precisava que perdêssemos os medos e as memórias. Só por agora. Que déssemos as mãos um ao outro e olhássemos dentro dos olhos. Precisava falar contigo aquelas coisas que só eu digo e eu queria ouvir de você. Precisava do seu abraço enquanto o meu choro molha o seu peito esguio, da minha risada abafada nos seus braços e o seu gosto invadindo a minha boca sem pedir licença. Falando de agora, só de agora, eu precisava de você e mais nada.

11.7.10

Amor

Leve, como leve pluma
Muito leve, leve pousa
Muito leve, leve pousa

Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma!

Sombra, silêncio ou espuma
Nuvem azul que arrefece

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma!
Que em mim amadurece

6.7.10

De volta

Há muito tempo não escrevo. Não tenho tempo. Eu estou ocupada demais fazendo coisas que não gosto e brigando com pessoas que gosto e não entendem como sou. Eu sou frágil.
Há muito tempo não coloco as ideias no lugar. Já não tenho prioridades, medo, não sei o que é saudade e o que é vontade de estar por perto.
Há muito tempo não cuido de mim. Como mal, durmo mal, tusso o dia todo. Ao menos não fumo mais. Bebo em excesso.
Há muito tempo não sentia aqui dentro o amor me castigar dessa forma tão bruta. O coração cansado, a voz trêmula, as veias doloridas. Eu já estava me esquecendo como era isso tudo.
Há muito tempo não ouço um "te amo", ou talvez nunca tenha ouvido. Não ganho abraço, não mordo mais.
Há muito tempo não vagabundeio, não fico no ócio, não sou adolescente.
Há muito tempo eu não caía na fossa de novo, mas eu voltei. De onde nunca deveria ter saído.

É bom estar no inferno de novo.

17.6.10

10 dias

Nem sei o que falar.

7.6.10

O peso da importância

A importância das pessoas não se mede por anos ou pela sequência de dias vividos com alguém. Não é também medida pela quantia de "eu te amos", "boa noites" e "preciso passar essa noite de 30 de junho com você, por favor". Tampouco creio na importância calculada pelos bons momentos e sorrisos largos, por mais que também contem. Os abraços e as frases curtas que dão arrepio também contam, mas ainda não é isso. Não é a companhia, não é a afinidade. A importância de alguém não pode ser medida. Acho que esse não é o verbo. Pesar, calcular, medir. Não. Talvez seja apenas sentir. A importância de alguém é sentida a cada um milhão de batimentos cardíacos por minuto no momento em que se está com alguém. É o tanto de vezes em que a cabeça diz "fica nessa abraço porque eu preciso de você" em cada despedida. A importância de alguém é o cheiro de roupa limpa que impregna na gente e não sai mesmo que ninguém o sinta. Ou talvez isso tudo seja amor, mas isso realmente não importa.

3.6.10

Ei, garoto!

Eu preciso que você entre e deixe a porta fechada.
O frio entra pela fresta e me gela os pés descobertos. O frio de junho deixa a gente solitário.
Já que você quase foi lá fora, eu quero que me faça um favor antes de se deitar ao meu lado. Eu preciso que você entre e deixe a porta fechada.

22.5.10

Escola Nossa Senhora da Glória

Passar em frente à tua fachada é algo que sempre me dá uma emoção irracional, uma dor que me sobe ao peito sem mais nem porquê. Mas hoje foi diferente. Um choro mais rápido que um disparo, uma nostalgia tão forte que foi capaz de travar minhas pernas. Fez-me encará-la de frente, como o mau filho que à casa torna e não consegue entrar.
Encostei a mão no enorme muro enrugado que te cerca. Tanta história presa ali. Hoje trago-lhe palavras de um saudosismo que lhe devo, que você merece mais que qualquer lugar no mundo. Quero dizer que sinto sua falta. Foi aí que eu aprendi a ser quem sou.
Eu entrei aos 4 anos de idade numa salinha com mais crianças que ainda chupavam chupeta. A gente dormia na sala de aula, babava e chamava a professora de mãe. Ela era minha mãe mesmo. Tão mãe que até hoje sinto o sorriso dela ao me ver chegar na classe, que lembro do abraço, do jeito de andar pela sala. Veio a segunda. Ensinou-me a escrever, a tarefa mais nobre que um ser humano pode ter em Terra. Foi você ela que me deu toda a base para estar aqui, para ter escolhido o rumo que escolhi. Era sua profissão, mas ela fez por amor. E foi nesse amor que fui acolhida e crescendo sem freios. Numa lição eterna de amor ao próximo. Talvez esses 13 anos aí dentro tenham sido um aprendizado muito diferente do mundo aqui fora. Às vezes me parece que nem todos sentem esse, de novo, amor frateno e tão intenso que me ensinaram aí dentro a cultivar pelas pessoas. Um amor capaz de nos manter em pé, prontos para qualquer rasteira do destino.
Foi atrás dessas paredes que conheci as pessoas que mais amei na vida. E amo. Conheci irmãos que viveram mais de uma década comigo, que estavam em todo dia ali, pra me dar um abraço, pra sentar ao meu lado mais uma vez. Foi também aí que me ensinaram a nunca fugir do diálogo, ensinaram-me a discutir, a ter opinião. Aprendi a ter hombridade e jamais vi em lugar algum um estudo tão profundo e bonito sobre o assunto como vi nessas salas de aula tão familiares para mim.
Foi no teu colo que ouvi os mais doces elogios e nele mesmo escutei pela primeira vez que eu era capaz. Sinto falta do seu cheiro de abraço de mãe, de seu orgulho, paciência, incentivo e cobrança. Da forma com a qual me deixava acreditar que eu era boa no que me propunha a fazer e, mais que isso, que eu poderia crescer ainda mais, sempre. Eu sinto falta de ser imprescindível na vida das pessoas, no curso do dia-a-dia, na rotina de meus amigos. Sinto falta deles, foi você quem me deu. Acima de tudo, sinto falta de ser uma família e de ser amada todos os dias por pessoas que eu também amava.
Eu hoje me permito chorar de saudades de sua bondade, paciência e, só mais uma vez, amor. Imenso, puro, materno. Eu queria estar contigo só mais uma vez, só mais uma aula à tarde do terceiro ano. Cansada, com sono e de saco cheio. Com vontade de estar aonde estou agora. Só para eu me esquecer por um momento de que viver dentro de você não me faz essa falta arrasadora, que dói no coração e me faz enlutar no dia de hoje.
Aliás, eu te amo.

16.5.10

RAWR

A você meu muito obrigada. Por ter surgido assim sem a gente notar uma coisa meio florida entre nós e que agora nos cerca por fora enquanto nos abraçamos. Obrigada pelo seu cheiro de roupa limpa que fica nas maçãs do meu rosto por longas horas. Por seu ciúme racional e pelos momentos mais infantis em que começamos a dar risada de coisas que só a gente vê, repara e entende. Obrigada por não ter pudor e medo de tanta coisa, por ser desvairado e faltar algum parafuso aí dentro dessa cabeça. Obrigada por estar fazendo os meus dias terem sentido e as noites serem tão aguardadas. Obrigada pelas doses tão doces de carinho, pelo sorriso infinito e pelas semanas passarem com uma leveza jamais sentida por mim. Eu aprendi com você a não dar nome a esse tipo de coisa e quero continuar assim. Talvez não ter começo e ter esse fluxo incoerente queira dizer que não tem fim. Eu sinceramente não quero saber, não quero saber de nada. De datas, de nomes, de rótulos e burocracias. Quero continuar no teu abraço e te segurar feito bicho preguiça quando você precisa ir. Obrigada por me fazer pensar assim. Obrigada por esses dias.

ps: não tem nome quase tudo, mas uma coisa eu posso sonorizar: RAWR! Você sabe o que significa.

4.5.10

Não vou mais me perder por aí

Tudo que eu queria agora era paz. E eu tenho. As minhas ambições de vida mudaram muito ao longo desse período em que entrei na faculdade. Parece bobagem e pequenez, mas o que eu quero pro meu futuro é passar num concurso público - ou algo que o valha. Quero trabalhar pouco, ter finais de semana livres, ganhar o suficiente para me sustentar, comprar roupas, presentes e fazer algumas viagens. Nada além disso. Eu gostaria de ter a minha própria casa e um jogo bem gostoso de sofá. Queria decorar as paredes junto dos meus amigos. Tudo que eu queria pro meu futuro era uma sexta que acabasse no domingo à noite. Quero um emprego normal e quero estudar algo interessante. Eu serei jornalista ao menos por formação e pretendo continuar me formando. Talvez no rádio, nas teorias ou nos documentários - ainda penso nisso, não sei como funciona. Eu esqueci de TV e desisti de querer me adaptar aos moldes do impresso pelo simples fato de não concordar com eles. Não sou uma pessoa que deixa o texto aparentemente livre de opiniões minhas e juízos de valor. Entenda, eu não carrego as minhas matérias com o meu parecer, é que vez ou outra concluo algo pelo que estudei para estar escrevendo sobre o assunto. Não acho errado. Acredito na polivalência do jornalista. Ao menos na minha. Não quero ser rica porque eu não acho que seja legal. Eu quero ter conforto, não mordomia. Vou continuar lavando as minhas roupas, cozinhando e andando de ônibus. Só quero ter dinheiro pras roupas (de novo), pro táxi sagrado, pra ter um pc bacana e pro supérfluo. CDs, filmes, cinema. Cerveja. Quero viajar duas vezes por ano, quero acampar sempre que puder, quero voltar pra Apucarana muitas vezes. E que na minha geladeira nunca falte Stella Artois, Coca-Cola e tomate seco.
Eu penso assim sem luxo talvez porque nunca tenha o tido. Quando pré-adolescente entrei em algumas paranoias. Eu queria ter o celular da galera, todos os tênis do mundo e ir pra qualquer baladinha nonsense que eu via. Mas eu não ia. E isso fez de mim uma pessoa compreensiva nesse aspecto. Não que eu tenha sido privada de conforto, muito pelo contrário. Mas eu nunca tive o mundo nas mãos. Eu fui parando de querer uma vida de rainha aos poucos assim que fui deixando de ser moleque. O meu conto de fadas eu deixo pra outras esferas. Eu quero ter uma vida conturbada - no bom sentido - no quesito amor. Quero ser sempre esse enxame, esse fervilhão de sentimentos. Quero que em mim nunca acabe esse dom pra amar e viver dele, quero sempre o amor como guia e primeiro plano. No futuro eu não penso em dinheiro em abundância, eu penso em realização. E a minha realização é ser amada pelo amor da minha vida, ter os meus amigos ao alcance dos meus abraços e a minha família sempre por perto. Isso pode parecer a vida de alguém muito calmo, mas se engana quem pensa assim. Se de um lado eu vejo a calmaria de uma vida profissional comum, eu quero a correria dos apaixonados e dos viciados em relações afetivas, igual eu sempre fui e tenho me tornado cada vez mais.
Sabe, em resumo, eu não quero mais me perder por aí. Agora eu sei tudo o que quero.

3.5.10

então Deus disse:

E nenhum homem por sobre a Terra há de ser completo para que a vida não seja confundida com saciedade. A felicidade é, sem exceção, grande, mas nunca infindável. Ide pelo mundo e proclamai a boa nova, meus filhos.

26.4.10

A minha

Nasceu forjada no ouro e no aço, pálida, com duas pérolas enormes cravadas no rosto. Não se sabe ao certo se era manhã, tarde ou noite e se chovia ou fazia sol. Mas era novembro. Sabe-se que as árvores curvaram ao primeiro balbuciar daquela que vinha, as águas pararam de rolar. Saiu do ventre e gargalhou. Tudo era som. Junto dela nascera a energia, irmã siamesa de coração, dentro dela.
Filha da liberdade com o sonho, mastigava o mundo toda manhã. Quando as asas surgiram, começou a dar voos rasos, flutuava. Hoje paira pelo espaço. Foi bem no primeiro ano de idade que conheceu o sorriso e viraram grandes amigos, inseparáveis. Ao passar dos anos começou a ajudar as pessoas junto da felicidade, descobriu que seu abraço salvava vidas e sua voz era capaz de curar o mais definhante dos seres. Há quem diga que puxou o devaneio pelo braço quando ele estava à beira do precipício. Sem saber que era heroísmo, foi lá e fez. E saiu andando.
De seus cabelos foram feitos fios pra fazer poesia. Foi assim que ensinou a tecer. Quando encontrou a amizade, ensinou-a a coser cuidadosamente uma colcha de carinho e outra de proteção; junto da irmandade cingiu os furos do coração. Depois que foi embora, fez a saudade tecer um delicado véu de lágrimas que usa antes de amanhecer.
Dos seus olhos jorram amor, os seus braços são conforto. Cada vez que sorri, vê-se um clarão ao longe, um guia na escuridão. Do seu coração brotam flores onde deitam os desabrigados e a inocência descansa à sombra da hombridade.
A minha, pequena e perfumada, de pseudônimo insanidade e sobrenome luz. A minha que viverá 500 anos, mesmo que se houver só ela, só folha e brisa, que só houver amor e vácuo. A minha, ensaiando um grito ensurdecedor, bonito, eterno, que ecoe no ouvido daquele que for livre.
A minha, só ela.

À minha, a minha, minha Nate. Minha querida amiga.

19.4.10

Estranha Mania


Eu tenho uma estranha mania de querer cuidar dos outros. Mesmo sabendo que não querem que eu cuide. Mesmo sabendo que não sabem ser cuidados. Mesmo sabendo que não ligam para isso. Mesmo sabendo que não ligam para mim.
Eu tenho um estranho desejo de vê-lo dormindo, de cheirar a sua roupa e te despertar na hora certa. Eu tenho vontade de acompanhar alguns passos e de respirar compassado.
Eu queria ser seu chá quente, sua fumaça pesada e o descansar na tarde fria. Queria ser sua, mesmo que você não fosse meu.

18.4.10

Paulada

amor hoje
ontem café
na sala de estar
estou
em pé

amor hoje
amanhã talvez
o meu coração
tem fundo
xadrez

amor hoje
nunca se sente
o diabo me tenta
não
tente

amor agora
sempre assim
se digo não
digo
sim

10.4.10

Caiando

Esse seu cheiro de roupa limpa ainda vai nos levar para algum lugar onde táxi nenhum poderá nos buscar ao meio-dia e meia aos pés de Santo Antônio onde levei uma rosa amarela do quintal seu.

4.4.10

Barro

Meus pés estão sujos de um barro vermelho e gelado, no meu rosto está o mais sincero sorriso que dei nesse ano. Nesses dois anos. Três.
Hoje meu texto será para brindar a alegria de estar viva. Será em memória de tempos negros que jamais voltarão, será em homenagem ao sorriso da Natália, ao abraço do Gregory e ao jeito esquisito e doce do Felipe. Será pela música boa, pela bebida gelada, pela náusea e as risadas esquizofrênicas. Pela Nayara no posto de gasolina, pelo cabelo úmido, pela Cláudia amada e as pessoas ao redor. Dedico essas palavras à Elaine, irmã que escolheram pra mim e não podiam ter feito melhor. Pelo chão que comporta nosso peso e o céu sempre a vigiar. Pelo tapete de luzes e a mãe do firmamento. Pelas pernas que nos sustentam e as mãos sempre tão vivas. Isso é por Londrina estar me esperando, pelo beijo e o abraço quente. Pelo prazer e o vinho barato. Pelo mal que não quero e não faço mais questão. Por tudo que era errado e a mim não pertence mais. Pela vida estar caminhando como eu sempre quis, pela insanidade e simplicidade dos dias que vem vindo. Por eu conseguir deixar pra depois e soltar esse amor pra fora. Amar, amar e amar, sem colher de volta. Dar amor, não emprestar. Viver, velho. É por viver.
Eu escrevo tudo isso em homenagem à vida, à minha vida. À vida dos meus pais, dos amigos, dos conhecidos e de quem está a me esperar lá do outro lado. Eu não fui embora da minha terra, eu ganhei mais uma. Eu tenho amor em todo canto, eu vou viver de amor porque aprendi a amar essa vida. Aprendi a me amar. Eu escrevo em homenagem ao amor, e é amor que desejo a vocês que estavam comigo agora. Amor, velho. Era disso que eu falava o tempo todo.
Meus pés estão sujos de um barro gelado e vermelho e eu não quero lavá-los nunca mais.

31.3.10

Meu presente de ano novo

Eu estou ansiosa, eu tenho estado muito ansiosa, eu sou ansiosa. Tem dias que eu distraio a minha ansiedade, tem vezes que a tapeio com chocolate e coca-cola. Já fui de fazer oração, tomar dramin, chorar, roer unha, fazer poesia. Hoje em dia eu junto tudo. Estou aqui com aquele incensário de bruxinha, que se chama Nate, queimando um de canela. Comi um talento verde e tô bebendo coca zero. Não tô com frio e nem calor, tô ouvindo mutantes, posso acordar tarde amanhã e vou para casa depois da aula. Mas eu tinha planos e estava ansiosa por causa deles. Estava gostando de planejar.
Acho que é bem precipitado de minha parte dizer que você sabe do que estou dizendo, afinal, você não deve imaginar que lhe escrevo essas frases todas. É que cheguei em casa e soube que essa ansiedade cresceu ainda mais por falta de você. Eu não tô me importando se é amor, amizade, paixão ou só vontade de você deitado no meu colo e eu mexendo em seu cabelo. Eu cansei de ter que dar nome a tudo que sinto. Queria apenas te dar um abraço, ouvir suas verdades e ficar rindo enquanto você desepeja suas ideias sobre mim.
Também ando meio preocupada com você e comigo, com sua saúde, sua vida acadêmica, nossas conversas, o que vai ser contigo, comigo e conosco. Se é que há um conosco. Eu quero deixar bem claro aqui, que espero que haja. Eu não sei se você realmente não acredita em mim, mas eu queria experimentar nós dois como um só. Eu queria ver o que ia dar. Você me conhece, sabe bem por onde andar. E eu tenho toda a paciência e curiosidade do mundo para te descobrir.
Eu só vou te ver na segunda-feira mesmo, então desejo-lhe aqui um feliz feriado, melhoras e um caloroso abraço daquele que a gente dá e você diz "a gente resolve, viu?" e eu só olho pra cima em resposta.

Ah, pensando bem... Quero definir o que eu sinto em um parafraseamento inverso: você é meu presente de ano novo que o frio não vai levar. Tchau.

28.3.10

Como dois estranhos

- Não me deixa falando sozinha.
- Eu tô aqui, ué! Quer que eu concorde?
- Quero.
- Doida.
- Nem sou.
- É sim.
- Então você também é.

26.3.10

Eu carrego um inferno dentro de mim

Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim. Eu carrego um inferno dentro de mim.

25.3.10

Dos Balcãs

"far from home, elephant gun, let's take them down one by one"

22.3.10

Esse texto é para você e você sabe disso

Meu caro amigo que eu não quis que fosse assim tão amigo mas não teve jeito e eu não me enganei. Pode parecer que não, mas eu pensei em cada palavra que você me disse hoje. Algumas doeram - não por culpa tua, é que as carrego tatuadas no meu coração.
Dentre tantas coisas, percebi que você estava certo sobre tudo. Tudo. E principalmente que você é meu amigo. Você é a coisa mais linda de amigo que eu tenho, um coração em tamanhão de gente. Desculpa por eu estar machucada e achar que nos reinventar faria com que tudo melhorasse. Pensei em nós dois. Desculpe por eu desejar a minha má sorte a quem não precisa dela e por opinar sempre da mesma forma quanto aos teus problemas. Digo "de nada" pelos elogios que te fiz, e é de nada mesmo. Quando digo que você é uma pessoa incrível é para você acreditar mesmo.
Eu estava aqui pensando que você, assim como muita gente, pediu-me para que eu me desse uma chance. Para que eu mandasse tudo se foder e saísse por aí fazendo o que eu realmente quero. "Você não precisa fazer o que os outros querem", você disse. E você acertou em cheio. Engraçado é que bastante gente me disse... Faz diferença quando olham nos nossos olhos.
Muito obrigada por tudo o que você falou e fez, pelas loucuras que temos falado e feito, pelos planos que estão por vir e pelas broncas que levamos por sair da sala de aula.
Esse texto é para você e você sabe disso. Sabe também que eu te amo, que te quero por perto, te quero feliz, que a gente resolve tudo numa boa.

Ei... Aquele convite ainda está em pé? Eu aceito. Aqui o cão não somente morde como arranca pedaço.

19.3.10

Constando

Eu fiquei meio cansada de chorar amor. Tô cheia de mentir e omitir e de me depreciar. Eu quero felicidade agora. E se for preciso eu vou inventar uma vida, um novo amor e uma música que ainda não cantaram. Se precisar eu crio com as próprias mãos algumas tardes ensolaradas nós dois sentados em frente à biblioteca e eu mexendo no seu cabelo. Se eu achar necessário invento um aroma para o avelã, reinvento o vermelho e acendo luzes por onde passarmos. Eu crio uma Roma toda só para incendiá-la. Eu vou fazer de tudo para ser feliz. Eu compro por quilo ou cabeça. Eu vou até o fim.

18.3.10

Fim de noite

Ele diz que não gosta de ninguém e eu digo que a vida não saiu como planejado. A música fala que a humanidade é desumana, o doutor discute o propósito de ali estarmos, o mestre reconhece sua automatização e o banco pede mais um cadastro. O computador dá a possibilidade de ter uma senha que o tranque, você recua por medo e cautela e nós ficamos aqui sonolentos enquanto a madrugada se esquenta para virar dia. As cervejas gelam para que o garçom as sirva amanhã, o povo dorme para poder acordar e trabalhar para poder dormir um dia em paz e o bebê respira para poder fortalecer os pulmões e um dia respirar com toda a força que eles possuem e ganhar o pão que garantirá o tratamento do câncer. A gente pode escolher entre nascer e começar a morrer. Podemos trabalhar com a hipótese de que Deus não é tudo isso, podemos trabalhar com o Darwinismo, podemos ser esquizofrênicos, podemos tomar alucinógenos, podemos andar sobre brasa ardente. Vivemos sofrendo para poder morrer em paz mesmo não querendo que a morte chegue. Pensamos muito e não amamos e quando amamos esquecemos de pensar. Esquecemos de nós mesmos e de quem amamos e lembramos de enfrentar aqueles que não gostam de nós. Prometemos o tapa e o soco mas não dizemos em palavras o amor que sentimos. Batemos na face e não batemos no peito. Ele se ofende com a crítica e critica com ofensas. Ela anda depressa e nunca sai do lugar. Eles se reunem e sempre estão sós. Eu estou aqui sentada na mais completa paz de quem sabe que nada é como deveria ser. Sorria. Essa é a nossa vida.

16.3.10

Eu e as coisas

Parece que nunca vai ser do jeito que eu pensei. Nem só por mim, pelas coisas. Pelas tardes que eu vou ter de perder para poder talvez não ter as noites. Pela música que lembra a vontade e não corresponde à lembranças reais. Pelos livros que eu não deixarei de ler e o mistério que não mais tentarão desvendar em mim. Por já ter visto tudo das pessoas e descoberto que isso é nada.
Porque tudo que sou é sonho e esse sonho é maior que a minha vida. Eu sou grande demais para o mundo e o mundo não me pertence. Nem um pedacinho sequer. Tudo que sou é a vontade de ter sido outra coisa, tudo que quis ser era simples mas o simples não pode ser arquitetado. É simples. As amizades, o amor, os livros e o cheiro das tardes, tudo saiu diferente. Não reclamo porque as coisas saíram diferentes do planejado. Reclamo que tudo continua do jeito que era. Os mesmos sonhos e a mesma vontade de ser simples. A culpa é de mim e das coisas.
Da minha cara que amarra, da sorte que não sorri, das doenças, dos medos e do cérebro confuso. De tudo. Do Deus. Eu não queria que tudo começasse a dar certo de repente, sinto que não conseguiria viver sabendo que mais de um ano foi perdido. Eu queria voltar naquela mesma folha de caderno, erguer e cabeça e fazer tudo de novo. Eu queria ter um segredo de novo, queria ter a bondade que um dia tive e uma doçura que todo mundo um dia perde. Só mais uma chance de mostrar os motivos de eu estar aqui e tudo que eu sou capaz. Eu preciso apagar esse castelo de podridão que eu construí em meu lugar. Preciso quebrar esse muro de concreto que me cerca e explicar pra todo mundo que eu sou uma boa pessoa. Eu sou uma boa pessoa. Eu tenho de me reencontrar, de voltar a ser criança e me renovar. Renascer. Eu preciso regressar no tempo, de verdade, mais que qualquer outra pessoa nesse mundo inteiro. Por mim e pelas coisas. Só que isso é impossível.
Que faço eu da minha vida agora?

12.3.10

Carta de Isaías José Paulo aos queridos amigos

Ando meio descontente com a vida. Não que eu tenha do que reclamar, sinto confessar que não tenho. O que acontece é que desenvolvi o infeliz hábito de me considerar sempre em posse da razão. E nesse exercício de me conceder sempre a voz, acabei ficando trancado num quarto escuro com a companhia do eco de minhas palavras. Para quem pratica o esporte da comunhão de ideias, deixo-lhes o meu parecer de ser o inverso: a reverberação de si mesmo dói e flagela, e por esses mesmos motivos nos isola. Considero-me, amigos, no ostracismo de mim mesmo, prisioneiro do meu egoísmo e orgulho, soterrado na imundície de minha ignorância. Apodrecendo. Por mais que soe triste, não é. Não digo que não seja triste. Apenas não é. Ser assim é não ser, é deixar de existir.
Tenho me cansado dessa vida, como logo introduzi. Cansado das conclusões que de mim tiram, dos estigmas que nasceram em minhas mãos e pés, cansado de mim, do que me fiz ser. Adianto, porém, meus caros, que sairei dessa. Senti novamente a vontade de ser alguém, os alguéns que eu costumava ser. A primeira medida que tomei foi abrir o sorriso e mostrar todos os dentes que a genética me deu. A próxima atitude será desobstruir os ouvidos. Farei isso ainda hoje, antes de recostar minha cabeça sobre o travesseiro.

Meu nome é Isaías José Paulo, mas eu poderia ser qualquer outra pessoa.

8.3.10

Para o menino astronauta

Para o menino astronauta com uma estrela na mão
Com os pés molhados de mar sobre a seda do colchão
Da janela de casa observa a Lua vindo em direção
Admira o meteoro em rota de colisão

Brinca de pique-esconde na varanda de um planeta
Rabisca palavras na cauda de um cometa
Do menino que é a astronauta, o foguete feito à caneta
Seu universo inteiro de dentro de uma gaveta

Para o menino astronauta com uma luz no olhar
A cama é posta para quando voltar
Aeronave que decola do canteiro do pomar
O garoto que chuta a bola não tem tempo de chorar

Para o menino astronauta é desenhado o meu carinho
Para o menino sonhador, para o menino astronauta sempre sozinho.

3.3.10

Eu fui embora

Eu fui embora. Esse blog estava inutilizado há algumas boas semanas, mas eu senti que precisava dele de novo, não sei se é um recomeço.
Eu fui embora. Eu bati o pé no chão, juntei o pouco que tinha em sacolas e caixotes e levei para aquele lugar que julgo ser o meu futuro. Não sei. Como é que posso saber do meu futuro?
Nos primeiros dias senti saudades, chorei ao ir dormir. Pensei na mãe ao se ver confusa por tantos anos brigando pelos mesmos motivos banais, a irmã sem ter com quem dividir as ansiedades e opiniões fúteis sobre a vida e o pai chorando as saudades do bebê mais novo que deveria ter vindo homem. E chorei novamente, como a recém-nascida que fui outrora. Chorei comprimindo os pulmões e extraindo a última gota d'água que meus olhos conseguiram produzir. Rangi os dentes e pedi para qualquer boa força tirar a tristeza que repousava sobre os meus ombros.
A dor foi passando e um dia acordei feliz. Senti que era ali o meu lugar, fui criando raízes. A cabeça sempre pensando no tranco que preciso, na lotação que passará. E o coração apertado, os amigos ainda tão longe.
Lembro dos motivos que me fizeram ir embora e não sei se são tão pesados assim, se é que têm peso. A minha vontade é sempre gritar o amor que tenho pelas pessoas, é fazer ouvir tudo aquilo de bonito que sinto. É sempre esse o meu desejo. Mas viver não é fácil, a mãe tinha avisado há tempo. Esqueci-me, acho.
E é quando você pensa que está com o chão voltando ao controle das pontas táteis de seus dedos, que ele viaja bruscamente pro centro da Terra. Desabei. As lágrimas que chorei, muitas delas, parecem ainda úmidas no meu colo, o coração inchado e a garganta num nó que não somente dói como também retém a dor. Toda palavra que confiei à sorte que a mim sorriu, volta contra o meu rosto com frescor de cusparada, humilhante, gelada. Eu amei de novo sem precisar amar, eu joguei pro alto tudo que tinha e não vi onde caiu. Eu me meti em mais um erro e não sei como desfazê-lo.
Para mim tudo é complexo e o que eu mais queria era conseguir imaginar como as pessoas são se elas não forem eu. Compreende? Como é que as pessoas podem não se entregar, como conseguem não chorar a dor de um amor errado, como é que tiram o valor do "se importar"? Eu não sei. Só sei que me encontro completamente perdida nas ideias, nos sentimentos e no choro doído daquele que se sente enganado, ferido e, principalmente, impotente. Sinto-me incapaz de ajudar qualquer pessoa que seja, o que é mais doloroso quando se tem a completa noção de que ajudar, nesse caso, é fazer tão pouco, é talvez deixar de fazer, para que tudo volte ao normal, ou pelo menos a uma normalidade inventada.
Eu queria ter mais um ombro pra chorar aqui, mais um ouvido pra pedir conselho, mais alguém para partilhar dessa angústia de estar vivo. Queria poder sanar a dor de quem não merece tê-la, queria mudar a visão alheia, queria alterar o rumo das coisas e resolver problemas. Eu queria amar menos, ou amar direito. Queria que amar bastasse. Mas tudo que tenho é um coração egoísta quebrado, sangrando um choro ensaiado e antigo.
Eu fui embora e não sei se deveria ter ido. Eu fui embora de mim mesma.

26.1.10

Nomes

Alice vai ser o nome da minha primeira filha. Foi fácil de escolher.
Eu também gosto de Joana, Natália, Cecília, Guadalupe. Para os meninos eu só tenho Eduardo para oferecer. Por enquanto.

O que eu preciso agora é de um nome para o meu novo blog. Alguém pode opinar?
Caso eu não encontre, darei fim à minha vida inexpressiva nos blogs. Ajudem.

25.1.10

Acabando janeiro

Acho que já está na hora de migrar daqui.

12.1.10

Listen

No matter what they say, words can't bring me down.

5.1.10

It's a beautiful lie

Nada melhor que começar 2010 dizendo quem eu sou.: uma mentira. Uma grande mentira.
Às vezes nem eu mesma sei o que é verdade porque eu forjo sentimentos. Não que eu aja levianamente com as pessoas, não, jamais. Eu sou leviana comigo. Sábias pessoas me disseram que gosto de sofrer, e parece que eu tenho acreditado nisso. Mentiras, malditas mentiras. Suspensas lá no alto prestes a cair sobre a minha cabeça, e não há prece que salve. Talvez exista, mas não sei se minha fé merece que a queda seja evitada. Eu protejo meu rosto.
Estou com medo e com vergonha, estão misturados dentro de mim e afloraram logo hoje. Eu tenho medo demais do que possa ocorrer, eu tenho medo de ter que reconstruir tudo, medo de ter que me explicar, medo de encontrar o fundo do poço de novo. Medo. Às vezes penso que não mereço tudo isso, nas outras tenho certeza que sim.
Vocês poucos que me lêem sabem como sou confusa. Eu não sei porque eu faço tudo isso, não sei porque não aprendo com os erros, não sei porque não me ouço. No fundo eu sabia que iria acabar dando errado, eu sabia de verdade. Agora não sei como agir, não sei o que posso esperar. É bem provável que dê em nada, meu lado racional diz que o meu pânico é absurdo, mais absurdo que todos os outros. Mas eu novamente não ouço.
Eu acho que algumas pessoas têm razão. Eu sou mesmo doente.