26.5.12

Almost Famous


Eu pensei em vários títulos para essa postagem. Porque eu gosto de muitos filmes e músicas que têm nomes “misteriosos”, sabe? Parece bobagem, mas fiquei numa dúvida fodida entre A Life Less Ordinary ou Time for Heroes. Nesse momento você já sabe a decisão, eu, que ainda escrevo a quarta linha da lauda, não.
Existem vários motivos que me levariam a dar esse nome, A Life Less Ordinary. A tradução do filme, excelente por sinal, virou “Por uma vida menos ordinária”, algo que faz bastante sentido em minha vida. Não acho que esteja me esforçando para isso, mas todos os dias acho que o deveria.
Eu me sinto miserável – outra palavra profunda e misteriosa. Miserável. Vou contar um pouco sobre isso. Acho que devo enumerar em tópicos, enfim. O primeiro motivo que me faz ser miserável é a falta de alegria e entusiasmo. Nos últimos tempos a sorte tem me aparecido no campo “profissional” – essa é a uma expressão escrota e bastante rasa. O que poucos sabem é que não dou a mínima para a vida profissional. Eu realmente não me importo em seguir uma carreira, e não me importo em ser jornalista, professora ou dançarina de tango. E isso também tem dois motivos: o primeiro, não sou ótima em nada. Profissão deriva profissional. Eu não sou profissional. O segundo, penso exatamente o contrário de “o trabalho dignifica o homem”. O trabalho me enche o saco. Ele enche o saco de todo mundo, ele rende salário mínimo a maioria das pessoas, ele ocupa 8 horas por dia. Isso pode ser tudo, menos dignidade. Não conseguiria ser feliz com um “trabalho” sabendo que sou uma exceção e que tem gente que passa a semana toda trabalhando pra nem ter o que comer direito. Parece altruísmo, mas não é. É só uma agonia que sempre tive desde criança.
Eu disse tudo isso só para dizer que não consigo me sentir plenamente feliz com as coisas que me tem dado certo no, once again, “trabalho”. Não que eu seja uma ingrata, pelo contrário. Eu fico espantada com esse semestre. Eu recebi uma proposta de estágio do nada, estou escrevendo sobre meio ambiente em dois lugares diferentes e possivelmente virão mais trabalhos na segunda metade do ano. Mas sou tão miserável que isso tudo não me deixa feliz, me deixa com os nervos à flor da pele, com medo, com preguiça até. Eu costumava escrever por aqui e ensaiar umas poesias horrendas no final do caderno, não escrevia para as pessoas lerem e julgarem – uma expressão violenta.
O segundo motivo que me faz ser miserável, bem mais amplo, é a preguiça das pessoas. Eu sempre tive muitos problemas em fazer amigos, em ser agradável e doce com as pessoas. Isso veio piorando nos últimos três anos. Eu realmente não gosto de conhecer gente nova porque tenho medo de não gostar delas, não gosto das opiniões das pessoas, não gosto dessa gente que não consegue ver o mundo como ele realmente é. Esse meu jeito faz com que pessoas que talvez pudesse gostar não gostem de mim. Às vezes me importo com isso. No momento, não. Mas sei que isso é miserável.
Eu não quero mudar essas coisas que eu sou, mas sei que elas pudem mudar conforme a vida vai mudando, certo? Mas acho que algumas coisas poderiam me fazer menos triste. Como mais álcool, por exemplo. Eu estou trabalhando por uma vida menos ordinária, meio lentamente, mas estou.
Bem, eu acho que gostaria de escrever mais motivos, mas esse texto está ficando longe demais. Time for Heroes.
Essa é uma música de uma das poucas bandas que prestam nas últimas 2 décadas, The Libertines. “Did you see the stylish kids in the riot shovelled up like muck” e “The stale chips are up and the hopes stakes are down”, resumem algumas coisas que eu penso sobre a vida.
Mas, enfim, vou mais pelo título da música. Tem sido necessária uma quantidade heróica de frieza e saúde. Para mim, aturar gente falando sobre o que não conhece é muito pior que levar um tiro no estômago – e eu nunca levei um tiro. Suportar reacionários e seres humanos extremamente supérfluos me faz querer virar do avesso e acordar em outro planeta. Não que isso faça muito sentido.
Eu sei que sou miserável e nada melhor que ninguém, mas é horrível ter que aturar convicções diferentes das nossas, não? É difícil para todo mundo, ainda mais para gente estressada como eu.
Bom, eu nem sei mais o que iria escrever aqui inicialmente. Eu acabei de assistir Almost Famous – eu nunca tinha assistido – e queria contar algo desse filme que se pareça comigo. Na verdade, nada se parece. Mas eu gostaria de, sei lá, de repente fugir dessa coisa toda igual que é a nossa vida, do “mundo real”. Viajar para Marrocos ou ser roadie por tempo indeterminado. E eu nem precisava estar na Rolling Stone.

21.12.11

I

Elástica, cinza, volátil, porosa, grudenta, feia, disforme, faminta, sedenta, imensa, frágil, esquisita, medonha, assustadora, desprezível, vulgar, banal, inútil, complexa, solitária, cai em pedaços, desmancha, fica num canto, arrasta-se silenciosamente, contagia, mata, estrangula, sufoca, morre e esquece.

5.12.11

05 de novembro

Eu ainda não consegui escrever de forma longa e detalhada o que aconteceu naquele dia 05 de novembro. Por mais que hoje faça exatamente um mês que tudo aconteceu, as coisas ainda permanecem vivas num silêncio de quem não quer perturbar a própria paz. Tudo o que aconteceu ainda acontece todos os dias num canto escondido da minha mente, das minhas emoções. Tudo ainda existe e sempre vai existir de forma inconsciente e pura, mágica. Sem maiores explicações.
Consigo me recordar de cada segundo. De quando dormi, das pessoas inconvenientes, de cada segundo de dor, dos pés inchados, da sede, do calor infernal, da vontade de desmaiar. Lembro de não sentir fome, das quase 24 horas sem fazer xixi. Lembro das pessoas, do halls de minuto em minuto, lembro daquele medo absurdo de quando eles entrassem no palco e eu não saberia o que fazer. Como eu reagiria?
Foram horas, horas e horas. Muitas horas. De bandas boas, não tão boas, de bandas horríveis. Foram 9 horas. Em pé, com calor, com mochila pesada, com necessidade real e dolorosa de sentar e esticar as pernas. Foram mais de 30 minutos de palco vazio esperando aquele que deve ter sido o momento mais lindo da minha vida. Porque aí a gente tá lá achando que vai gritar, sei lá, quando o Julian, o Julian Casablancas, ele que salvou a sua vida adolescente nada agradável, entrar. Você vai achar legal e talvez você vá chorar. Mas daí ele entra de verdade, ele sorri, ele é meio tímido e ele é lindo. Ele é ainda mais lindo do que você esperava. E doce, educado, meigo. Ele começa NYCC e você não entende mais nada. Eu não entendi mais nada. O meu corpo seguiu um movimento vertical que a massa atrás de mim fazia de maneira coordenada. As pessoas gritavam as letras das músicas e eu gritava também. Eu cantava olhando para ele porque dá aquela inocente sensação de que ele vai te chamar pro palco e você vai embora com eles depois do show.
Eu não conseguia tirar os olhos do Julian porque é meio que inacreditável. Aquela pessoa que escreveu suas letras favoritas, que já foi seu namorado imaginário, o primeiro deles, que você veste em camisetas, que você guarda em fotos. É bonito e triste ao mesmo tempo, é... Inacreditável. Eu não sabia onde começava o choro e o riso, sozinha, na grade, com as dores indo embora, a mente se esvaziando...
Foi o maior momento de paz que eu já tive na minha vida. Aquela sensação de que isso tudo vai valer a pena, sabe? Eles sempre me deram essa noção, mas naquele dia 05 foi muito maior. Era como se eles me dissessem que tudo ia ficar bem.
Até entendo que esse texto soe como fanático e bastante desconexo. Mas é a primeira tentativa de transcrever tudo o que eu senti há um mês atrás. Não me interessa se pareço infantil ou ridícula, agradeço aos cinco meninos por ter resistido a tantos momentos ruins ao longo dos meus depressivos anos da adolescência. Por ter me ajudado a suportar as tristezas pelas quais passei e passo, por ter as palavras exatas e delicadas que ninguém foi capaz de me dizer em todas as vezes que precisei. Eles são meus melhores amigos e esse show, esse dia, foi o melhor da minha vida. Obrigada.

1.11.11

Problema

Atualmente as coisas na minha vida andam correndo perigo. Eu já não me importo mais com elas, não me importo com quase nada, com ninguém. Eu não dou a mínima, eu não dou moral, eu não ligo para o que está acontecendo. Aliás, o que está acontecendo comigo?