26.11.09

Aprendi

Tenho pensado num texto sobre 2009 há um bom tempo. Um texto-homenagem a cada uma das pessoas que fizeram desse ano o mais proveitoso de minha vida - até o fechamento dessa edição.
A ansiedade tem me corroído para dispor essas palavras, mas me conterei até o dia em que se fará necessário agradecer a tudo e a todos. Por enquanto quero dizer sobre as coisas que aprendi. Essas não consigo mais guardar, querem sair de toda forma.
Não listarei aqui o que aprendi sobre linhas finas, jargões jornalísticos, entrevistas e fotografias. Não quero citar o que levarei para minha vida profissional, até porque não sei se vou ter uma. Quero enumerar o que aprendi como ser humano, o que me fez crescer - ou ainda fará - como pessoa. Vamos lá!

Nesse ano aprendi que o tempo, esses 13 anos que eu adoro bater no peito e dizê-los como se fossem um troféu, não são tudo. Realmente não são. Em menos de 13 meses descobri que tem gente mais hospitaleira e preocupada, tem gente que me decifra tão facilmente que nem precisa de uma década para fazê-lo.
Aprendi que não é impossível dividir segredos com os novos amigos, ainda mais se tratando de mim. Nesse quesito podemos ainda dizer que aprendi, ou talvez tive mais certeza, que não sei esconder meus dramas e opiniões de ninguém. Agora resta-me aprender a conviver com o fato de eu ser um "livro aberto" da forma que sou.
Aprendi que, novamente se tratando de Luciana, as desavenças são mais comuns que as amizades. E, explorando ainda mais esse porém, deixo claro que as inimizades - ou coisas do tipo - muitas vezes nem partem de mim. Ou tenho culpa de ter cara fechada e falar alto? Genética, meus caros. Genética.
Aprendi que tá cheio de gente não-superficial pelo mundo, e esse foi o maior presente de 2009. Eu que acreditava piamente que o mundo era 95% fútil, descobri que não é bem assim. Às vezes quando estou triste, penso em algumas palavras que li e ouvi esse ano e retomo a ciência de que novas pessoas que me cercam dão valor às palavras, aos gestos, ao que é dito. Isso é demais, gente. Isso é novo e belo e não somente belo por ser novo.
Aprendi que minhas noções de bonito e feio saíram da adolescência. Até que enfim! Talvez o bonito continue sendo o bonito, mas o feio já não é mais o mesmo. O gosto das coisas também mudou, discutirei isso noutro dia.
Aprendi que não eram as amizades que me faziam ser essa tola apaixonada que sou, eu sou mesmo assim. " Ela e seus amores impossíveis", como diria o nobre e encantador Danylo e "Chorona demais, chora por tudo", como bem disse o... Willian. Afinal, o Willian é o Willian.
Eu aprendi mesmo, e não me canso de dizer, que novas pessoas surgiram e que eu não dependo tanto das antigas. Talvez porque elas mostraram que não dependem de mim. Mas isso é outro assunto. Aprendi que vivo por novas pessoas, que já as amo, já as chateio, já as decepciono, já as emociono.
Aprendi que isso tudo é um processo natural e que reclamar, gosto muito, não vale tanto a pena. Paremos com isso então!
Aprendi que eu ainda não sei nada sobre a vida, sobre jornalismo, sobre escrever. Aprendi que eu tô aqui pra aprender a amar, a sintetizar, a parar de me apaixonar. Aprendi muita coisa.
Aprendi a abrir portas, aprendi a me adaptar, aprendi a mimetizar. Eu aprendi a recomeçar uma vida que nunca terminou.

17.11.09

Papel de Carta

Sonho que estou em uma casa, de pijama e meias vermelhas, pegando um copo de água na geladeira. Próximo ao espelho do corredor fica um par de tênis meu, quase destruído pelo barro encalacrado. A manhã vem surgindo e a janela já (ou ainda) está aberta, entra uma brisa leve, choveu há pouco.
- Boa noite! - ouço.
Vou à sala, sento-me no chão meio gelado e tiro uns papéis da bolsa. Em um deles um coração pintado de canetinha vermelho escrito: "Você é minha felicidade!"

Acordo. Infelizmente eu não estava dormindo, só estava sonhando.

15.11.09

Cinema e Eu


Uma ligação quase transcendental. Um amor sublime, imensurável, eterno. Eu e o cinema, um casal perfeito assim.
Eu me lembro quando comecei a virar uma viciada em filmes. Foi na sétima série, no meio do ano. Nunca fui fã de dormir cedo e nem ficava na net de boas ainda. Aí zapeando pela tv - tava numas de odiar fantástico - e passei pelo filme do SBT: Detroit Rock City. Sabe quando o time de vocês ganha? Sabe quando vocês acham nota de 10 reais na rua? Foi essa a sensação. Eu me senti fazendo amor com um filme. Porque, meu Deus, Detroit Rock City faz amor com a minha alma até hoje.


Bom, voltando ao plano normal das coisas, eu já gostava de cinema antes, claro. Eu bem já gostava de uns terrores - amava a trilogia Pânico - e tinha uns favoritos ou outros, tipo Jurassic Park. Mas Detroit Rock City me fez conhecer 3 paixões: videolocadoras, atores e, claro, cinema. Eu amo cinema.
Depois dessa data memorável - que eu tinha anotado dentro da carteira, algo como 11 de julho - eu passei a ser cliente assídua da Cinemania. Aí foi quando conheci o terror/horror/supense. Eu adotei como rotina sair da aula e locar aquele filminho tosco de terror. Lenda Urbana, Medo em Cherry Falls, Pânico em Lovers Lane, Ripper. Qualquer um. Eu gostava de todos. Eu não lembro bem quando parei de locar esse gênero, mas sei que daí passei a assistir comédias lixo. Era besteirol atrás de besteirol. Era apaixonada pelo Sam Huntington e pela Leelee Sobieski - ops, ainda sou - e já fui por muitos atores e atrizes. Passei brevemente pelas comédias românticas, nunca curti muito ação, pegava vários dos lançamentos, sempre saquei muito de nacional - paixão pelo Wagner Moura desde Deus é Brasileiro - e tive minha fase Harry Potter e filmes do Adam Sandler.
Sei que em 5 anos de vida eu vi muito filme, muito mesmo. E foram mais filmes ruins do que bons, é que qualquer coisa me bastava. Eu até que ainda gosto de ver qualquer coisa, às vezes vejo o filme da madrugada da Globo só de zoeira.
Hoje em dia é claro que eu fiquei mais exigente. Eu amo demais o Gus Van Sant, o Tarantino e o Noah Baumbach e gosto de junkie movies tipo Trainspotting e Requiem for a Dream. Mas a minha fixação mesmo são os atores.

Eu me perdi no meio do texto e já não sei mais o que ia dizer sobre cinema e nem sobre esses atores tantos aí.
Posso dizer que não entendo nada sobre como escrever roteiro, não manjo iluminação e fotografia, nem curto muito Cidadão Kane. Eu só sei que o cinema me fez acreditar muitas vezes na vida, me fez desviar a atenção da vida real e fez com que eu a entendesse por outras vezes. Filmes me fazem companhia, me conformam, me fazem ganhar o dia, o mês, o ano. Um filme nacional que faz sucesso, um lançamento do Almodóvar, um Oscar pro meu ator favorito... São coisas tão distantes de mim mas que me importam de uma maneira tão grande que chega a ser assustadora.

Talvez fosse melhor eu nem ter dito tanta coisa patética assim... Sei lá.

12.11.09

Sobre relacionamentos, sociologia e meu anjo

Hoje eu queria falar sobre duas coisas bem diferentes. Caso elas não se entrelacem ao longo dessa postagem, não se importe.
A primeira coisa que eu queria falar é do meu problema com toda a gama de relacionamentos. Eu sou do tipo de pessoa que não tem muitas pessoas. Deu pra entender? Eu não tenho muitos amigos, nem muitos conhecidos e nem muitos colegas. Tenho pouco de tudo, até parentes. Mas a minha relação com essas pessoas vive estremecendo, principalmente as que eu conheci depois da infância/pré-adolescência. Parece que o tempo e tudo aquilo pelo que eu já passei me tornaram uma pessoa desconfiada nas horas erradas. O meu complexo de perseguição só não é doença porque de fato se confirma por várias vezes. Eu sei bem quando não agrado, porque não agrado muitas vezes. Sei também que o fato de eu ser desagradável se repete por mais vezes, daí a perseguição real. Não que eu seja uma espécie de Cristo ou Maria Madalena. Por sorte não sou! Puta sorte. Mas sei lá, os meus atos de boa vontade são todos estacas. Entenda: quando não dou oi, é por timidez ou acuamento. Sem exceção. Quando apenas sorrio e não consigo vocalizar um mero "boa tarde" é o mesmo da primeira consideração ou cansaço. Sem exceção novamente. Quando paro com olhar fixo e esta cara de cu que vocês já conhecem, é por cansaço e tédio. Nada tem a ver com quem está perto, muito pelo contrário. Se for algo a ver com alguém, é por alguém que está longe. Quando digo que sua piada não foi boa, quando te elogio, quando te corto e depois logo sorrio, é porque confio em você. Acredito que todas as pessoas são assim. Mas o fato de eu ser assim meio bruta deixa as pessos desconfiadas. Não sou chorona por maldade. Não falo alto pra fazer graça. Não falo besteira pra me afirmar. Digo que não sei o que dizer para quem está triste... Porque realmente não sei o que dizer.Digo que amo imensamente mas amo mais do que eu posso dizer. E minto, minto mesmo. Mas só minto para não estremecer mais relacionamentos.
Eu acho que deveria entender melhor o Pequeno Príncipe e voltar a fazer terapia. Não que eu esteja mal, não estou mesmo! É que eu queria descobrir alguma forma de fazer as pessoas entenderem que esse meu jeito não é má fé, é meu jeito mesmo. Tipo o jeitinho da Xuxa e seu anjo.
Estou tão bem que consigo até me elogiar hoje. Eu me vejo como alguém que pode conversar sobre o que você quiser - desde que não exija grande conhecimento didático - por horas e horas. Rio das piadas mais sujas, não tenho certos moralismos que as meninas costumam ter, não me importo que falem batendo em meu braço e aprendi a olhar nos olhos quando converso. A minha efusividade é às vezes boa, não passo mal durante o porre - só depois e você nem vê - sei balançar o pescoço tipo Fat Family - a semelhança não se restringe somente ao físico - e frescura com comida e bar passam longe de mim. Desde que não haja feijão envolvido nas duas situações.
A única coisa que tem me tirado do sério mesmo é a segunda coisa que eu queria dizer: eu odeio Sociologia. Eu não temo mais em parecer alienada ou pseudo-elitistinha tucana de merda. Eu odeio mesmo sociologia. Eu odiaria qualquer coisa que me fizesse ficar duas horas lendo 10 páginas. Poderia ser, sei lá, algo que eu escrevi no passado e redescobri que eu ia achar uma merda e me odiar por dias.
Eu acho sociologia totalmente dispensável ao meu curso. Sem demagogias. Canso de ver que "o jornalista precisa entender como o homem se relaciona com x e y e a sociedade e as forças produtivas e a cultura de massa e meu pau". Ah, por favor. A gente absorve TRAÇOS dessa parada para escrever um texto. Ou você acha que o JL vai me pedir um olhar sociológico ao molde weberiano para escrever sobre um acidente na Rua Belo Horizonte? Pelo amor de Daisy. É tão vago quanto os traços de alimentos transgênicos em bolacha de água e sal da Nestlé. É tipo, TALVEZ em UMA dessas bolachas do pacote haja 0,01% de VESTÍGIO de SOJA que PODE SER transgênica. É a proporção da sociologia dentro do jornalismo atual. E nem me venham com represálias utópicas.
Mas eu também não ligo, haverá um jeito de eu passar de ano, confio nisso. Tô confiante mesmo, pode acreditar.
E, também, eu amo cálculo estequiométrico, né, minha gente. Eu só amo aquilo que entendo. Se eu entendesse sociologia, com certeza estaria dizendo que é essencial à vida humana na Terra.

Tamo junto, Xuxa.

7.11.09

Enquanto todos vão para a Metamorfose

Eu fico aqui em casa tomando uma puta xícara de café que só a Dona Vera faz. Ouço daqui minha mãe e meu pai comentarem basbaques sobre a tetraplegia da Luciana da novela - logo meu nome! - e o barulhinho da louça lavada sendo colocada sobre o mármore da pia.
Daqui a pouco namoro a minha nova bolsa - bem bonita, do Andy Warhol - e fico ansiosa pensando no que a Elaine vai achar da camiseta do Franz que eu escolhi pra ela.
Enquanto todos vão para a Metamorfose, eu fico pensando na Metamorfose do Kafka. Talvez seja o livro que marcou o meu ano. Não porque eu só fui ler em janeiro - desculpem-me, sou noob - mas por causa da história mesmo. Eu gosto muito da expressividade do Kafka, todo mundo gosta, mas minha parte preferida, uma das, é logo do começo:

Gregor desviou então a vista para a janela e deu com o céu nublado - ouviam-se os pingos de chuva a baterem na calha da janela e isso o fez sentir-se bastante melancólico. Não seria melhor dormir um pouco e esquecer todo este delírio? - cogitou. Mas era impossível, estava habituado a dormir para o lado direito e, na presente situação, não podia virar-se. Por mais que se esforçasse por inclinar o corpo para a direita, tornava sempre a rebolar, ficando de costas. Tentou, pelo menos, cem vezes, fechando os olhos, para evitar ver as pernas a debaterem-se, e só desistiu quando começou a sentir no flanco uma ligeira dor entorpecida que nunca antes experimentara.

Eu acho que eu tenho muito de Gregor Samsa, sabe. Mas não tô assim tão a fim de explicar. Só acho que Franz Kafka e eu poderíamos ter nos conhecido, sei lá.
Só sei que enquanto todos vão para a Metamorfose, eu fico contando insetos na parede, planejando ir dormir um pouco mais cedo e combinando vestidos com meia-finas dentro do vestiário que fica na minha cabeça.
Enquanto todos vão para a metamorfose eu fico aonde eu mais gosto de estar: dentro de mim, seja lá se sou barata ou gente.