27.3.11

Hedonista

Sei lá, ando meio que querendo viver a vida dos outros. Essa felicidade que eles vendem.
Não que eu tenha do que reclamar ultimamente, muito pelo contrário. Mesmo assim é ingrato todo esse sentimento de insatisfação que me ocorre.
O corpo que não tenho, a cultura que não possuo, um corte de cabelo diferente e umas roupas menos sem graça. Queria poder me integrar mais às coisas, ser menos rasa.
Tem esses fins de semana, eu e ele, e as nossas tardes altamente hedonistas que me fazem crer que a vida que eu sempre quis chegou. Aí chega segunda-feira e já é dia de branco. E o dinheiro falta mesmo, o banco avisou. Eu continuo uma pessoa preguiçosa e com muitos, muitos quilogramas a mais.
Talvez eu tenha perdido o gosto das coisas fora desse esquema comer - dormir - você-sabe-o-quês. Tenha virado uma hedonista mesmo, dessas que não sabe ser feliz sem ser com altas doses de insanidade e hormônios. Sabia que faz mal? Porque já gostei de escrever, gostei de ser útil. Gostava de fazer versinhos pelas folhas de caderno à parte, gostava de fazer longos textos pros amigos queridos. De repente me cansei de tudo, dessa falação toda. Desse te amo a todo momento pra todo mundo.
Eu acho que estou entrando numa nova fase, sabe? Descobrindo o que realmente gosto e o que eu quero longe de mim. Tenho traçado novas metas, confesso, bem mais modestas. Tenho me aproximado de uma calmaria que eu nunca havia gostado antes. Do silêncio, do confortável. Continuo, dentre poucas coisas, romântica. Dramática, explosiva, teimosa, autoritária. Reflexiva, articulada, interessada, capaz. Só que agora eu defini muito bem uma coisa que eu havia demorado a entender: eu me amo. E me amando mudei muita coisa. Só que ainda tem bastante coisa pra mudar.

7.3.11

Nova

Vou contar pra vocês, me tornar uma pessoa melhor tem sido mais fácil que emagrecer. Eu fiz uns, sei lá, trinta regimes emagrecedores até hoje. Nutricionistas, endocrinologistas, exorcistas, seitas xiitas. Tudo. Nada que não me fizesse encontrar rapidamente os poucos quilogramas que perdia me privando meses do pecado mais nobre de todos: a gula.
Mas eu nunca havia sentado comigo mesma e decidido: hoje eu vou me reconstruir. Aí eu cheguei num lugar e, de repente, todo um vão se abriu. Ao meu redor, poucos. Uns dois ois, vários deboches, risadinhas, ofensas. Culpa minha, só minha. Da arrogância, infantilidade. Escolhas erradas, tantas delas. Num lapso de pensamento somado à duas canecas de cerveja, decidi que ali era o recomeço da minha vida. Falei com quase dez pessoas, resolvi cem pendências. Eu rasguei meu peito e mostrei o que havia dentro, sem querer ser tão dramática - mas já sendo. Pessoas que eu não gostava e comecei a gostar, pessoas que eu gostava e que não gostavam mais de mim, pessoas que não havia tido tempo de gostar. Agora todas elas ali, vivas, sorrindo pra mim, me abraçando, aceitando uma segunda chance que, acho, mereci. Revestida de humildade e uma coragem que eu nunca tive, pedi desculpas. Muitas delas. Recomecei.
E recomeçando comecei a falar com as pessoas, a cumprimentá-las sem medo. Exercitei uma simpatia que eu não sabia que eu tinha, uma felicidade diferente, a alegria de ser bem quisto. E daí colhi frutos: sorrisos, cumprimentos, cervejas, recados, estágio. Sabe que acredito que tudo é uma questão de merecimento? Fechei janelas, abriram-se portas. O vento agora bate numa face mais doce e serena, mais justa e sem medo de errar. A cada dia venço um podre que carrego em mim. O remédio mata a ansiedade, a mente mata a impulsividade, o amor me bota os pés no chão, o coração em euforia e a cabeça nas nuvens. É um novo tempo que começou e eu estou pronta para o que der e vier.
A próxima meta é emagrecer. Será que devo tentar hipnose?