22.5.10

Escola Nossa Senhora da Glória

Passar em frente à tua fachada é algo que sempre me dá uma emoção irracional, uma dor que me sobe ao peito sem mais nem porquê. Mas hoje foi diferente. Um choro mais rápido que um disparo, uma nostalgia tão forte que foi capaz de travar minhas pernas. Fez-me encará-la de frente, como o mau filho que à casa torna e não consegue entrar.
Encostei a mão no enorme muro enrugado que te cerca. Tanta história presa ali. Hoje trago-lhe palavras de um saudosismo que lhe devo, que você merece mais que qualquer lugar no mundo. Quero dizer que sinto sua falta. Foi aí que eu aprendi a ser quem sou.
Eu entrei aos 4 anos de idade numa salinha com mais crianças que ainda chupavam chupeta. A gente dormia na sala de aula, babava e chamava a professora de mãe. Ela era minha mãe mesmo. Tão mãe que até hoje sinto o sorriso dela ao me ver chegar na classe, que lembro do abraço, do jeito de andar pela sala. Veio a segunda. Ensinou-me a escrever, a tarefa mais nobre que um ser humano pode ter em Terra. Foi você ela que me deu toda a base para estar aqui, para ter escolhido o rumo que escolhi. Era sua profissão, mas ela fez por amor. E foi nesse amor que fui acolhida e crescendo sem freios. Numa lição eterna de amor ao próximo. Talvez esses 13 anos aí dentro tenham sido um aprendizado muito diferente do mundo aqui fora. Às vezes me parece que nem todos sentem esse, de novo, amor frateno e tão intenso que me ensinaram aí dentro a cultivar pelas pessoas. Um amor capaz de nos manter em pé, prontos para qualquer rasteira do destino.
Foi atrás dessas paredes que conheci as pessoas que mais amei na vida. E amo. Conheci irmãos que viveram mais de uma década comigo, que estavam em todo dia ali, pra me dar um abraço, pra sentar ao meu lado mais uma vez. Foi também aí que me ensinaram a nunca fugir do diálogo, ensinaram-me a discutir, a ter opinião. Aprendi a ter hombridade e jamais vi em lugar algum um estudo tão profundo e bonito sobre o assunto como vi nessas salas de aula tão familiares para mim.
Foi no teu colo que ouvi os mais doces elogios e nele mesmo escutei pela primeira vez que eu era capaz. Sinto falta do seu cheiro de abraço de mãe, de seu orgulho, paciência, incentivo e cobrança. Da forma com a qual me deixava acreditar que eu era boa no que me propunha a fazer e, mais que isso, que eu poderia crescer ainda mais, sempre. Eu sinto falta de ser imprescindível na vida das pessoas, no curso do dia-a-dia, na rotina de meus amigos. Sinto falta deles, foi você quem me deu. Acima de tudo, sinto falta de ser uma família e de ser amada todos os dias por pessoas que eu também amava.
Eu hoje me permito chorar de saudades de sua bondade, paciência e, só mais uma vez, amor. Imenso, puro, materno. Eu queria estar contigo só mais uma vez, só mais uma aula à tarde do terceiro ano. Cansada, com sono e de saco cheio. Com vontade de estar aonde estou agora. Só para eu me esquecer por um momento de que viver dentro de você não me faz essa falta arrasadora, que dói no coração e me faz enlutar no dia de hoje.
Aliás, eu te amo.

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