12.3.10

Carta de Isaías José Paulo aos queridos amigos

Ando meio descontente com a vida. Não que eu tenha do que reclamar, sinto confessar que não tenho. O que acontece é que desenvolvi o infeliz hábito de me considerar sempre em posse da razão. E nesse exercício de me conceder sempre a voz, acabei ficando trancado num quarto escuro com a companhia do eco de minhas palavras. Para quem pratica o esporte da comunhão de ideias, deixo-lhes o meu parecer de ser o inverso: a reverberação de si mesmo dói e flagela, e por esses mesmos motivos nos isola. Considero-me, amigos, no ostracismo de mim mesmo, prisioneiro do meu egoísmo e orgulho, soterrado na imundície de minha ignorância. Apodrecendo. Por mais que soe triste, não é. Não digo que não seja triste. Apenas não é. Ser assim é não ser, é deixar de existir.
Tenho me cansado dessa vida, como logo introduzi. Cansado das conclusões que de mim tiram, dos estigmas que nasceram em minhas mãos e pés, cansado de mim, do que me fiz ser. Adianto, porém, meus caros, que sairei dessa. Senti novamente a vontade de ser alguém, os alguéns que eu costumava ser. A primeira medida que tomei foi abrir o sorriso e mostrar todos os dentes que a genética me deu. A próxima atitude será desobstruir os ouvidos. Farei isso ainda hoje, antes de recostar minha cabeça sobre o travesseiro.

Meu nome é Isaías José Paulo, mas eu poderia ser qualquer outra pessoa.

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