24.12.09

Tchau, 2009

Bom, acho que chegou a hora de fazer o último post desse ano. Ainda restam alguns dias para o fim de 2009, mas acredito que preciso dizer agora.
Inicialmente eu pensei em fazer um texto usando o nome das pessoas e em seguida um agradecimento. Achei piegas. Vou, então, fazer uma retrospectiva desse ano, desse meu ano, e usarei o nome de muitos de vocês para agradecê-los por tudo que fizeram por mim - voluntária ou involuntariamente.

O meu cunhado está aqui em casa e os meus pais estão se arrumando porque vão à missa hoje mais tarde. Eu não vou e também não tenho um namorado, optei por ficar aqui. Começou a chover ainda há pouco e eu decidi que estava na hora de tomar uma chuva. Fiquei uns 5 minutos e foi o suficiente para gelar todo o corpo e eu pensar nas palavras certas desse texto. 2009 está acabando.
Esse ano começou na maior letargia possível. A gente estava morando em outra casa porque a oficial estava reformando, ela tinha dois andares. Foi nessa época que eu adquiri o doce costume de ir deitar às 4 da manhã, em média, e acordar ao meio-dia. Nesse período que durou até março, eu convivi (hum) muito com o pessoal da confraria. Aqui ficam os meus agradecimentos ao Diguete, Kbça, Kinho, Lobão, Gagega, Ju, Junior, Julia, e, principalmente, ao Lopes que é um maravilhoso. Eram todas as madrugadas rindo e matando o tempo com eles, era bom, era muito bom. Foi quando saiu o resultado da UEL numa manhã de não sei que dia. Interessante. Ler meu nome naquela lista foi uma sensação legal, mas eu assumo sem medo algum dessa prepotência: achei mesmo que fosse passar. Não sei, cresci querendo UEL. Se eu não passasse, teríamos aí um problema.
No dia 2 de março começaram as aulas. Eu lembro bem que no primeiro dia de aula eu estava de mau humor porque Londrina é muito quente. A minha maquiagem derreteu. Eu logo encontrei o Danylo perto do Pinguim do CESA que, à essa altura, parecia há 40km do CECA. Ele me levou até à sala porque era aula da Maria Helena. Eu reconheci o Greg e achei a Cinthia uma louca. Eu estava armada, cara fechada, enojada. Eu não sei daonde surgiu tanta repulsa. Acho que era medo. Aí teve aquela apresentação inicial e eu escolhi o Gui como padrinho. A Vanessa, a Bia e a Cinthia sentaram-se enfileiradas ao meu lado e de costas para mim. Achei que era o começo do fim daquilo que chamam de "vida". Errei. O Bonner sentou ao meu lado e o Fernando também. Naquele dia eu conversei com a Marci e a Carol e lembro de ter visto o Digão e o Marcelo.
O ano foi passando e eu fui automaticamente me aproximando do Danylo, do Greg e da Vanessa. Certa afinidade foi sendo criada com o Fagner, Demian, Bonner e Lu. Esses dois últimos eu continuo mais próxima. Aí surgiram Kiko e o pessoal dos outros anos e cursos, tipo a Cah, de Letras. Só sei que aquela afinidade ali do tripé que suporta esta coisa que sou, foi essencial. O Danylo e sua doçura sem fim, suas gírias, as coisas da Marly, o abraço magrelo, a risada sequestradora de mau humor e o sorriso mais sincero da vida. Ele causa. Aí vem o Greg e sua vagareza, seu cafuné estilo Tio Teddy e as frases bonitas que ele solta sem querer. Por último a Vanessa, essa sim já me conheceu bem. Noites na casa dela, aborrecimentos em Apucarana, pautas cagadas, opiniões divergentes, ônibus e mais ônibus, dias de Sim Senhor, planos futuros, RUs, risadas, não-dormidas, sono da UEL à tarde, medos e confissões. Virou amiga, amiga mesmo. Obrigada, pequeno pokémon. Obrigada, Dany lindo, Lu e suas gírias, Bonner e sua sabedoria, Kiko e seus sorrisos, UEL por tudo, tudo mesmo.
E foi na UEL que eu encontrei o Beure pela primeira vez. Dá pra ser mais lindo? Essa é a pergunta que fica. O sotaque do Beure é a coisa mais linda do mundo, é de um recifismo que deixa saudade. Eu agradeço ao Beure por ser o cu mais doce do tiopês, por ser lindo, por ser meu neni e por existir. E quero que venha morar aqui pra dar mais abraços nessa sua princess of Bonelândia.
Aí lá pelas férias - uma delas, né. Esse ano o que mais teve foi férias - surgiu o período mais sombrio que já passei nesses 18 anos. Eu não sei se preciso pedir desculpas e nem se eu preciso recebê-las, mas eu sinto que preciso dizer um sincero obrigada. Eu aprendi muito nesse período e descobri que tenho um limite e que chegar perto dele dói demais, demais mesmo. Você sabe o que é acordar no meio da noite e sem mais nem menos começar a chorar? Você sabe o que é, de repente, no meio da aula, sentir vontade de sair gritando pelos corredores? Parece exagero, não? Mas não é. A minha psicóloga entra nessa como uma das salvadoras, além da Nate - essa falarei ainda mais adiante. E o Fê entra como peça chave de duas Lucianas: a adolescente e a adulta. Eu demorei dois anos para entender que tudo estava errado e três meses para sair da lama. Hoje eu me sinto feliz por estar livre disso, por não ser tão doente como era e sofrer tanto por algo que nunca poderia ter dado certo. É por isso que te agradeço, Fê. Por ter entrado de alguma forma nessa história e ter me ajudado a me conhecer de verdade. Graças à esse sofrimento eu já sei quando não dá mais para aguentar, eu sei quando é sério, eu sei quando me fará mal.
Bom, eu falava da Nate. Essa aí, junto da Vanessa, é sinônimo do meu 2009. Enquanto a UEL comia solto, aqui em Apucarana a Natália reinava soberana. Todo fim de semana era loucura, era combo, era amigas, era desossa. Muito Hard Money, Carolina e os Navarros e saídas de boa. Foram tantas gírias e crises de riso que eu nem sei numerar, prefiro lembrar aqui e dar uma risada cheia para agradecer essa demônia das trevas que é Natália Mônaco. Obrigada por tudo, biscalittle. Você é foda.
Paralelo à isso surgiu outra pessoa de conversas de madrugada, tipo aqueles da confraria. Esse aí é o Marcelo. O Marcelo não é parecido com ninguém não, mas foi bem importante, quase crucial. É bom saber que a gente ainda pode falar, que tem gente pra escutar, concordar, rir, expor ideias. É estranho sair do Ensino Médio e descobrir quanta vida inteligente está escondida e é bom descansar à sombra dos outros. É muito bom. Muito obrigada pelas suas ideias, Marcelo. Pelas suas palavras que não merecem ser perdidas, por ser engraçado e por deixar eu ser sua amiga.
Preciso também agradecer ao Príncipe por povoar minha mente e inspirar péssimas crônicas, ao Luiz por ser essa pessoa linda, ao Bomba por ser o Bomba, a Nayara por me deixar tantas saudades, ao Gusta que fodeu meu cabelo, a Elaine por ser minha irmã, aos meus pais por serem intelorantes - sem ironia - a todo mundo que esteve ao meu lado esse ano e todos que leram aqui, comentando ou não.
Eu, como você pôde ver ao longo das postagens desse blog, sou uma pessoa sentimental, confusa e contraditória. Eu precisei de muitos de vocês esse ano para poder crescer, aguentar, suportar. Não foi um ano fácil no quesito saúde mental. Foram amores dilacerados, paixões erradas, novas amizades, novos territórios, saudades de antes, novas inimizades. Eu nunca lidei com tanta coisa nova como nesse ano, fiquei perdida muitas vezes e até hoje me encontro assim. Mudei de opinião, levei-me pelos outros, chorei, bati cabeça na parede, escrevi, errei, errei, errei. Acertei. Estou aqui cheia de medos, planos, agradecimentos. Espero que minhas metas de 2010 sejam atingidas e que novos medos me povoem o ano que vem. Eles me movem.

Feliz 2010 e que ele venha de foder. Luciana pretende crescer ainda mais.

Tchau.

22.12.09

Obrigada

Daniel Johns, Kurt Cobain, Billie Joe Armstrong, Julian Casablancas, Pedro Bandeira, Manuel Bandeira, Marcos Rey, Dalton Trevisan, Álvaro Cardoso Gomes, Ruth Rocha, William Hanna, Joseph Barbera, Carlos Drummond de Andrade, Gustav Klimt, Leelee Sobieski, Sam Huntington, Jake Gyllenhaal, Pedro Almodóvar, Quentin Tarantino, Gus Van Sant, John Travolta, Juliette Lewis, Wagner Moura, Selton Mello, Andy Warhol, Maurício de Souza, Luiz Galdino, Maria José Dupré, Fernando Vaz, Augusto dos Anjos, Franz Kafka, Charles Darwin, Diego Velásquez, Roberto Carlos e, principalmente, Roberto Fernandes, o Beto. Obrigada.

21.12.09

Nota

O dias andam tão estranhos que eu nem tenho tido a pachorra de postar algo.
Tenho passado por ondas de medo e surpresa, mas acredito que tudo se acertará em breve. Temos longos meses pela frente.
Vou esperando o Natal chegar e o famigerado 2010 vir botando pra foder.

Beijos e até o último post de 2009 onde Brittany Murphy continua viva.

8.12.09

7.12.09

De dentro de mim

Eu vou fingir que isso aqui não é um blog e que eu estou conversando com alguém que entenda. Não que isso exista. Pode ser até Deus, se ele for capaz de compreender ou coisa assim.

Eu não sei se é coisa minha, não sei mesmo, mas eu sinto a cada dia mais forte uma certeza de que nada está sob o meu controle. Você sente?
Eu acordo e vejo que tudo o que eu quero/gosto/repudio depende de outras mãos. Sabe? O que eu faço e o que eu digo são coisas monitoradas, são aprovadas ou reprovadas, são conduzidas.
Só que eu não tenho conseguido lidar com isso. Eu tenho colocado o som bem alto de novo, dentro dos tímpanos, para não ouvir a minha cabeça tentanto avisar que tudo está errado. E eu nem sei quando isso voltou a acontecer. Acho que dormindo eu esqueci de me ouvir, mas agora grita novamente.
Muita gente diz que quer algo, e procura por isso, mas não sabe o que é. Só que eu tenho certeza que na minha vida isso faz bem mais sentido. Porque eu me sinto mal com isso desde os 13 anos. Todos esses anos. Às vezes parece que alguém me dá trégua, sabe. Eu começo a ficar mais solta, menos preocupada. Mas volta, sempre volta, cara. E isso não é justo! Hoje mesmo eu tive muita fome, eu tive ódio, eu tive dor de cabeça, eu tive vontade de abandonar tudo. O meu coração aqui dentro parece que está sendo segurado por duas mãos, coisa ruim de sentir.

E não é drama, pior de tudo.

Eu não sei explicar muito certo o que ocorre, eu só sei que eu não me sinto bem, eu me sinto sozinha no meio de todos... Igual eu estava há um tempo atrás. Eu me sinto perdida, eu me sinto dependente da palavra alheia, eu me sinto e sou muito fraca.
Eu também não sei se isso é doença, se é crônico, se é bobeira minha. Só sei que a culpa é das pessoas. Todas elas.

6.12.09

que ano nada a ver!

só consigo resumir 2009 a esse título.

2.12.09

O Grito


Há quem diga que Zé Firmino era ocupado demais. Mas ele não era.
Vivia andando pra lá e pra cá com uma pastinha de couro embaixo dos braços, não havia papel dentro - ninguém sabia disso. Todo dia uma gravatinha azul e a camisa branca já amarelada pelo tempo. "Um homem distinto", diziam.
Zé Firmino morava na Rua Pombos, cujo nome só lhe trazia desgosto. De seu apartamento mofado, via os carros lá embaixo enfileirados e buzinantes, agradecia por só ter bicicleta. Bebia o café sempre vendo as pessoas do prédio da frente acordarem e tomarem o desjejum antes de ir ao trabalho. Sentia-se relaxado. Zé Firmino não trabalhava. Em sua pasta havia sempre uma caneta e só. Saía por aí desenhando em qualquer canto que achava, fosse muro ou fosse pedra,
Numa quinta-feira alaranjada acordou estranho. Deve ser porque o telefone do vizinho tocou. Zé Firmino nunca teve vizinho no andar de cima cima. Zé Firmino nunca falara ao telefone e se lembrara disso. Acho mesmo é que Zé Firmino não falava, mas ele não conseguia fazer o teste... Bem podia ser sua mente, não os ouvidos.
Foi quando enumerou que não conversava desde o nascimento, mas não lembrava ao certo se havia nascido. Com medo de ser invenção do tempo, desceu as escadas correndo em busca de um telefone público. Sabemos como fazer uma ligação, Zé Firmino não sabia.
Tirou do gancho e esperou que alguém dissesse algo. Sem sucesso. O zunido lhe foi tão estranho que soltou o aparelho no ar, ficando o negócio suspenso pelo cabo. Tentou novamente em vários orelhões pelo caminho. Nada de êxito.
Foi ficando desesperado. "Não sou gente", pensava. Será que era? Zé Firmino viu uma garotinha desenhando com giz na calçada quando realizou que estava sem a distinta pastinha embaixo do braço. Foi subindo um ar quente às ventas, um fervilhão pelo estômago, uma coisa ruim. Saiu correndo rumo ao prédio novamente. "Uma caneta", pensava.
Subiu as escadas tropeçando, arfante, caiu no último degrau. Levantou-se instantaneamente e foi procurar a pasta. Revirou a casa. Duas vezes. Nem sinal da pastinha. O jeito ruim foi crescendo-lhe de novo. Sem palavras, sem caneta, sem pastinha, sem telefone. Mordeu os lábios arrancando sangue vivo, cerrou os punhos e lançou-os contra a parede. "Que diabos é isso?", pensava. Era a raiva que lhe fervia, um mal estar, calor na testa.
Chegou ao pé da janela ainda vertiginoso. Reclinando o corpo todo para a janela, sentiu um ar seco e cinzento entrando forçosamente pelas narinas. Palavras, caneta, pastinha, telefone. "Será que sou ontem?", pensou também. E o Coisa Ruim ou Santo Deus queimando-lhe em brasas finas por dentro. Não foi se aguentando, sofrendo em convulsão sã, debateu-se em pé. Botou um braço para fora, sacudiu ao vento e mediu com os olhos o que podia o esperar lá embaixo. Sentiu medo. Tentou mais uma vez achar a pasta. Desceu as escadas e percorreu o caminho de novo. Viu a menininha e o graveto, os carros, a noite chegando.
Eram 19h45 quando subiu pela última vez. Abrindo a porta num soco, foi à janela e fez o que deveria ser feito:
Fechando os olhos fortemente, estufou o peito, deixou metade do corpo para fora do apartamento, angulou a cabeça rumo à Lua e, num vomitar, gritou. Gritou como se jamais no mundo houvesse tido grito.

26.11.09

Aprendi

Tenho pensado num texto sobre 2009 há um bom tempo. Um texto-homenagem a cada uma das pessoas que fizeram desse ano o mais proveitoso de minha vida - até o fechamento dessa edição.
A ansiedade tem me corroído para dispor essas palavras, mas me conterei até o dia em que se fará necessário agradecer a tudo e a todos. Por enquanto quero dizer sobre as coisas que aprendi. Essas não consigo mais guardar, querem sair de toda forma.
Não listarei aqui o que aprendi sobre linhas finas, jargões jornalísticos, entrevistas e fotografias. Não quero citar o que levarei para minha vida profissional, até porque não sei se vou ter uma. Quero enumerar o que aprendi como ser humano, o que me fez crescer - ou ainda fará - como pessoa. Vamos lá!

Nesse ano aprendi que o tempo, esses 13 anos que eu adoro bater no peito e dizê-los como se fossem um troféu, não são tudo. Realmente não são. Em menos de 13 meses descobri que tem gente mais hospitaleira e preocupada, tem gente que me decifra tão facilmente que nem precisa de uma década para fazê-lo.
Aprendi que não é impossível dividir segredos com os novos amigos, ainda mais se tratando de mim. Nesse quesito podemos ainda dizer que aprendi, ou talvez tive mais certeza, que não sei esconder meus dramas e opiniões de ninguém. Agora resta-me aprender a conviver com o fato de eu ser um "livro aberto" da forma que sou.
Aprendi que, novamente se tratando de Luciana, as desavenças são mais comuns que as amizades. E, explorando ainda mais esse porém, deixo claro que as inimizades - ou coisas do tipo - muitas vezes nem partem de mim. Ou tenho culpa de ter cara fechada e falar alto? Genética, meus caros. Genética.
Aprendi que tá cheio de gente não-superficial pelo mundo, e esse foi o maior presente de 2009. Eu que acreditava piamente que o mundo era 95% fútil, descobri que não é bem assim. Às vezes quando estou triste, penso em algumas palavras que li e ouvi esse ano e retomo a ciência de que novas pessoas que me cercam dão valor às palavras, aos gestos, ao que é dito. Isso é demais, gente. Isso é novo e belo e não somente belo por ser novo.
Aprendi que minhas noções de bonito e feio saíram da adolescência. Até que enfim! Talvez o bonito continue sendo o bonito, mas o feio já não é mais o mesmo. O gosto das coisas também mudou, discutirei isso noutro dia.
Aprendi que não eram as amizades que me faziam ser essa tola apaixonada que sou, eu sou mesmo assim. " Ela e seus amores impossíveis", como diria o nobre e encantador Danylo e "Chorona demais, chora por tudo", como bem disse o... Willian. Afinal, o Willian é o Willian.
Eu aprendi mesmo, e não me canso de dizer, que novas pessoas surgiram e que eu não dependo tanto das antigas. Talvez porque elas mostraram que não dependem de mim. Mas isso é outro assunto. Aprendi que vivo por novas pessoas, que já as amo, já as chateio, já as decepciono, já as emociono.
Aprendi que isso tudo é um processo natural e que reclamar, gosto muito, não vale tanto a pena. Paremos com isso então!
Aprendi que eu ainda não sei nada sobre a vida, sobre jornalismo, sobre escrever. Aprendi que eu tô aqui pra aprender a amar, a sintetizar, a parar de me apaixonar. Aprendi muita coisa.
Aprendi a abrir portas, aprendi a me adaptar, aprendi a mimetizar. Eu aprendi a recomeçar uma vida que nunca terminou.

17.11.09

Papel de Carta

Sonho que estou em uma casa, de pijama e meias vermelhas, pegando um copo de água na geladeira. Próximo ao espelho do corredor fica um par de tênis meu, quase destruído pelo barro encalacrado. A manhã vem surgindo e a janela já (ou ainda) está aberta, entra uma brisa leve, choveu há pouco.
- Boa noite! - ouço.
Vou à sala, sento-me no chão meio gelado e tiro uns papéis da bolsa. Em um deles um coração pintado de canetinha vermelho escrito: "Você é minha felicidade!"

Acordo. Infelizmente eu não estava dormindo, só estava sonhando.

15.11.09

Cinema e Eu


Uma ligação quase transcendental. Um amor sublime, imensurável, eterno. Eu e o cinema, um casal perfeito assim.
Eu me lembro quando comecei a virar uma viciada em filmes. Foi na sétima série, no meio do ano. Nunca fui fã de dormir cedo e nem ficava na net de boas ainda. Aí zapeando pela tv - tava numas de odiar fantástico - e passei pelo filme do SBT: Detroit Rock City. Sabe quando o time de vocês ganha? Sabe quando vocês acham nota de 10 reais na rua? Foi essa a sensação. Eu me senti fazendo amor com um filme. Porque, meu Deus, Detroit Rock City faz amor com a minha alma até hoje.


Bom, voltando ao plano normal das coisas, eu já gostava de cinema antes, claro. Eu bem já gostava de uns terrores - amava a trilogia Pânico - e tinha uns favoritos ou outros, tipo Jurassic Park. Mas Detroit Rock City me fez conhecer 3 paixões: videolocadoras, atores e, claro, cinema. Eu amo cinema.
Depois dessa data memorável - que eu tinha anotado dentro da carteira, algo como 11 de julho - eu passei a ser cliente assídua da Cinemania. Aí foi quando conheci o terror/horror/supense. Eu adotei como rotina sair da aula e locar aquele filminho tosco de terror. Lenda Urbana, Medo em Cherry Falls, Pânico em Lovers Lane, Ripper. Qualquer um. Eu gostava de todos. Eu não lembro bem quando parei de locar esse gênero, mas sei que daí passei a assistir comédias lixo. Era besteirol atrás de besteirol. Era apaixonada pelo Sam Huntington e pela Leelee Sobieski - ops, ainda sou - e já fui por muitos atores e atrizes. Passei brevemente pelas comédias românticas, nunca curti muito ação, pegava vários dos lançamentos, sempre saquei muito de nacional - paixão pelo Wagner Moura desde Deus é Brasileiro - e tive minha fase Harry Potter e filmes do Adam Sandler.
Sei que em 5 anos de vida eu vi muito filme, muito mesmo. E foram mais filmes ruins do que bons, é que qualquer coisa me bastava. Eu até que ainda gosto de ver qualquer coisa, às vezes vejo o filme da madrugada da Globo só de zoeira.
Hoje em dia é claro que eu fiquei mais exigente. Eu amo demais o Gus Van Sant, o Tarantino e o Noah Baumbach e gosto de junkie movies tipo Trainspotting e Requiem for a Dream. Mas a minha fixação mesmo são os atores.

Eu me perdi no meio do texto e já não sei mais o que ia dizer sobre cinema e nem sobre esses atores tantos aí.
Posso dizer que não entendo nada sobre como escrever roteiro, não manjo iluminação e fotografia, nem curto muito Cidadão Kane. Eu só sei que o cinema me fez acreditar muitas vezes na vida, me fez desviar a atenção da vida real e fez com que eu a entendesse por outras vezes. Filmes me fazem companhia, me conformam, me fazem ganhar o dia, o mês, o ano. Um filme nacional que faz sucesso, um lançamento do Almodóvar, um Oscar pro meu ator favorito... São coisas tão distantes de mim mas que me importam de uma maneira tão grande que chega a ser assustadora.

Talvez fosse melhor eu nem ter dito tanta coisa patética assim... Sei lá.

12.11.09

Sobre relacionamentos, sociologia e meu anjo

Hoje eu queria falar sobre duas coisas bem diferentes. Caso elas não se entrelacem ao longo dessa postagem, não se importe.
A primeira coisa que eu queria falar é do meu problema com toda a gama de relacionamentos. Eu sou do tipo de pessoa que não tem muitas pessoas. Deu pra entender? Eu não tenho muitos amigos, nem muitos conhecidos e nem muitos colegas. Tenho pouco de tudo, até parentes. Mas a minha relação com essas pessoas vive estremecendo, principalmente as que eu conheci depois da infância/pré-adolescência. Parece que o tempo e tudo aquilo pelo que eu já passei me tornaram uma pessoa desconfiada nas horas erradas. O meu complexo de perseguição só não é doença porque de fato se confirma por várias vezes. Eu sei bem quando não agrado, porque não agrado muitas vezes. Sei também que o fato de eu ser desagradável se repete por mais vezes, daí a perseguição real. Não que eu seja uma espécie de Cristo ou Maria Madalena. Por sorte não sou! Puta sorte. Mas sei lá, os meus atos de boa vontade são todos estacas. Entenda: quando não dou oi, é por timidez ou acuamento. Sem exceção. Quando apenas sorrio e não consigo vocalizar um mero "boa tarde" é o mesmo da primeira consideração ou cansaço. Sem exceção novamente. Quando paro com olhar fixo e esta cara de cu que vocês já conhecem, é por cansaço e tédio. Nada tem a ver com quem está perto, muito pelo contrário. Se for algo a ver com alguém, é por alguém que está longe. Quando digo que sua piada não foi boa, quando te elogio, quando te corto e depois logo sorrio, é porque confio em você. Acredito que todas as pessoas são assim. Mas o fato de eu ser assim meio bruta deixa as pessos desconfiadas. Não sou chorona por maldade. Não falo alto pra fazer graça. Não falo besteira pra me afirmar. Digo que não sei o que dizer para quem está triste... Porque realmente não sei o que dizer.Digo que amo imensamente mas amo mais do que eu posso dizer. E minto, minto mesmo. Mas só minto para não estremecer mais relacionamentos.
Eu acho que deveria entender melhor o Pequeno Príncipe e voltar a fazer terapia. Não que eu esteja mal, não estou mesmo! É que eu queria descobrir alguma forma de fazer as pessoas entenderem que esse meu jeito não é má fé, é meu jeito mesmo. Tipo o jeitinho da Xuxa e seu anjo.
Estou tão bem que consigo até me elogiar hoje. Eu me vejo como alguém que pode conversar sobre o que você quiser - desde que não exija grande conhecimento didático - por horas e horas. Rio das piadas mais sujas, não tenho certos moralismos que as meninas costumam ter, não me importo que falem batendo em meu braço e aprendi a olhar nos olhos quando converso. A minha efusividade é às vezes boa, não passo mal durante o porre - só depois e você nem vê - sei balançar o pescoço tipo Fat Family - a semelhança não se restringe somente ao físico - e frescura com comida e bar passam longe de mim. Desde que não haja feijão envolvido nas duas situações.
A única coisa que tem me tirado do sério mesmo é a segunda coisa que eu queria dizer: eu odeio Sociologia. Eu não temo mais em parecer alienada ou pseudo-elitistinha tucana de merda. Eu odeio mesmo sociologia. Eu odiaria qualquer coisa que me fizesse ficar duas horas lendo 10 páginas. Poderia ser, sei lá, algo que eu escrevi no passado e redescobri que eu ia achar uma merda e me odiar por dias.
Eu acho sociologia totalmente dispensável ao meu curso. Sem demagogias. Canso de ver que "o jornalista precisa entender como o homem se relaciona com x e y e a sociedade e as forças produtivas e a cultura de massa e meu pau". Ah, por favor. A gente absorve TRAÇOS dessa parada para escrever um texto. Ou você acha que o JL vai me pedir um olhar sociológico ao molde weberiano para escrever sobre um acidente na Rua Belo Horizonte? Pelo amor de Daisy. É tão vago quanto os traços de alimentos transgênicos em bolacha de água e sal da Nestlé. É tipo, TALVEZ em UMA dessas bolachas do pacote haja 0,01% de VESTÍGIO de SOJA que PODE SER transgênica. É a proporção da sociologia dentro do jornalismo atual. E nem me venham com represálias utópicas.
Mas eu também não ligo, haverá um jeito de eu passar de ano, confio nisso. Tô confiante mesmo, pode acreditar.
E, também, eu amo cálculo estequiométrico, né, minha gente. Eu só amo aquilo que entendo. Se eu entendesse sociologia, com certeza estaria dizendo que é essencial à vida humana na Terra.

Tamo junto, Xuxa.

7.11.09

Enquanto todos vão para a Metamorfose

Eu fico aqui em casa tomando uma puta xícara de café que só a Dona Vera faz. Ouço daqui minha mãe e meu pai comentarem basbaques sobre a tetraplegia da Luciana da novela - logo meu nome! - e o barulhinho da louça lavada sendo colocada sobre o mármore da pia.
Daqui a pouco namoro a minha nova bolsa - bem bonita, do Andy Warhol - e fico ansiosa pensando no que a Elaine vai achar da camiseta do Franz que eu escolhi pra ela.
Enquanto todos vão para a Metamorfose, eu fico pensando na Metamorfose do Kafka. Talvez seja o livro que marcou o meu ano. Não porque eu só fui ler em janeiro - desculpem-me, sou noob - mas por causa da história mesmo. Eu gosto muito da expressividade do Kafka, todo mundo gosta, mas minha parte preferida, uma das, é logo do começo:

Gregor desviou então a vista para a janela e deu com o céu nublado - ouviam-se os pingos de chuva a baterem na calha da janela e isso o fez sentir-se bastante melancólico. Não seria melhor dormir um pouco e esquecer todo este delírio? - cogitou. Mas era impossível, estava habituado a dormir para o lado direito e, na presente situação, não podia virar-se. Por mais que se esforçasse por inclinar o corpo para a direita, tornava sempre a rebolar, ficando de costas. Tentou, pelo menos, cem vezes, fechando os olhos, para evitar ver as pernas a debaterem-se, e só desistiu quando começou a sentir no flanco uma ligeira dor entorpecida que nunca antes experimentara.

Eu acho que eu tenho muito de Gregor Samsa, sabe. Mas não tô assim tão a fim de explicar. Só acho que Franz Kafka e eu poderíamos ter nos conhecido, sei lá.
Só sei que enquanto todos vão para a Metamorfose, eu fico contando insetos na parede, planejando ir dormir um pouco mais cedo e combinando vestidos com meia-finas dentro do vestiário que fica na minha cabeça.
Enquanto todos vão para a metamorfose eu fico aonde eu mais gosto de estar: dentro de mim, seja lá se sou barata ou gente.

31.10.09

Acordei feliz

Acordei feliz. Parece estranho, mas acordei.
Os olhos ainda inchados, a franja toda fora do lugar. Mas acordei feliz.
Eu gosto de decidir coisas que me deixam livre só de pensar. Tirei uma tonelada das costas.
Antes de pegar no sono eu fiz mais uma teoria sobre o que há de errado comigo. Não é uma teoria para entender o porquê das coisas darem errado, claro que não. É um motivo para entender o porquê de eu não saber reagir como as outras pessoas perante os erros, os fracassos.
Eu cheguei à conclusão de que me amo da maneira errada. Explico. Eu me amo no fundo e me odeio no raso. Eu critico tudo que faço, eu me subestimo, eu me desvalorizo. No fundo posso até gostar do que faço, digo, visto, elaboro. Mas não é isso que eu deixo passar. Eu penso demais nas pessoas: no que elas pensam de mim e no que elas sentem. Eu deveria era pensar só em mim. Não encare como insensibilidade, só parar pra pensar que quem importa para mim sou eu.
Ninguém aguenta por mim o fardo de estar triste, ninguém sente a agonia, a tristeza e o ódio que eu sinto das coisas que eu observo.
Eu não vou por cabresto. Eu só não vou mais enxergar por querer tudo aquilo que me faz mal. Eu não quero mais conviver com o que eu não sei lidar, eu preciso disso. Eu mereço isso. Eu mereço festa, gente grata e que não quer explicações, gente boba e infantil. Desculpe, mundo. Eu ainda não quero maturidade.
Agora eu tenho uma matéria pra fazer e outra pra corrigir, tô bebendo pepsi e desinchando os olhos com um creme cabreiro que eu achei.
Eu acordei feliz e quero estar assim pra sempre. Como diria a poeta, hoje eu quero que meu fígado peça clemência.

28.10.09

Eu sou chata

Eu até tento me esforçar às vezes para ser legal e querida, mas não consigo. O tempo de encantamento de uma pessoa por mim varia de 2 semanas a 2 meses, mas há exceções. Bem poucas. Eu acho estranho uma certa pokemonzinha vir lá do meio do mapa e gostar de passar o tempo de sono dela perto de mim, do meu azedume e das minhas neuroses sobre o mundo. Acho estranho e vital. Acho estranho um certo cabeça-de-bater-bife lá da quina do Brasil vir aqui pra baixo me dar um oi, querer me encontrar todos os dias no msn e me mandar scraps engraçados de saudade. Acho igualmente engraçado um quase-2-metros de bondade gostar tanto de mim, ouvir minhas merdas e me dar um abraço daqueles que engloba o mundo todo.
Essas exceções me fazem crer que não sou toda ruindade, toda chatice. Mas sou boa parte. Eu sei que às vezes essa minha cara amarrada - única MESMO que eu tenho - meu mau humor matutino e o meu sorriso inseguro passam outras coisas, eu sei. Eu pareço ser arrogante, como de fato sou às vezes, o tempo todo e ridícula. Eu sou chata. Mas o resto todo eu não sou. Você pode sentar ao meu lado e eu posso te ouvir, posso confidenciar minha vida a você se assim você desejar. Podemos discutir sobre certo tipo de música, alguns filmes, posso colher dicas e recomendações, podemos observar ao redor. Eu sou chata. Mas isso tudo eu sei fazer muito bem. Eu sou chata mas posso ser legal se assim você quiser.
Eu fico cansada de perder as pessoas só pelo cartão de visita, é muito complicado. Talvez eu faça isso com as pessoas, mas eu não as perco pra sempre. Em mim sempre fica uma vaga, uma ressalva, pra prender quem quer que seja de novo, entende? Luciana é sempre portas abertas, é sempre braços estirados pra quem quiser repousar.
Eu sou chata. Mas eu mudo de ideia. Eu sou muito chata. Mas eu sou tolerante e amo quem quiser ser amado.

25.10.09

Motivo

Engraçado.
Eu estava me sentindo bem até ontem à noite.
Eu tive uma manhã de merda ontem, com direito a ouvir que sou um parasita e tudo.
Mas daí quando o CD do Julian Casablancas vazou, tudo mudou. Não que eu seja assim tão idiota, mas eu fiquei feliz e tal. Deu pra distrair, ouvi umas 20 vezes seguidas e gostei demais. E eu também já estava feliz na sexta-feira, consegui fazer o artigo de português e a matéria do JC sem protelar mais dias.
Ontem vi Requiem for a Dream, que eu tava pra ver há milênios, e gostei bastante também. Aliás, nem foi ontem, foi nessa madrugada. É um bom filme, gosto muito do Jared Leto sem pintar os olhos com lápis e os cabelos de vermelho. Gosto muito.
Hoje eu acordei às 13 horas, faz pouco tempo. Comi, troquei umas palavras com meus pais e decidi vir aqui, claro. Tentei baixar um porre de filmes mas meu pc tá um filho da puta e fica cancelando os downloads sozinho. Fui ver Citizen Kane que eu já tinha gravado mesmo, e nem aguentei o sono. Agora me diz... que sono? É tanta solidão e letargia que o sono me invade às 16 horas. Dezesseis.
Estou feia como a SoKo descreve em "Shitty Day" e cansada como qualquer outra pessoa só, mas não estou triste. Ah, não! Isso não. Só estou certa de que as coisas estão erradas e que eu preciso de um motivo novo, um motivo bem grande e complicado. Motivo pra me manter acordada à tarde e dormindo de madrugada, motivo pra pensar duas vezes antes de fazer as coisas erradas.
Antes que esse motivo chegue, eu preciso é de um banho e roupas limpas. Só que eu quero mesmo é um copo bem cheio de pepsi e um cigarro.
Boa tarde.

18.10.09

Tira a dor daqui

Peguei uma faca de cortar pão. Tinha serrinhas afiadas e o cabo alaranjado, ainda meio suja de queijo branco. Amolei no osso da nuca, dei passadas velozes, alternadas. Cima, embaixo, cima, embaixo. As serrinhas carcomeram, ficou lisinha feito navalha.
Tirei a camiseta branca que estava, o corpo machucado, estigmas do cristo. O sutiã com as alças caídas, tristes, meio amarelado do lado esquerdo pelas lágrimas que o coração transpirava.
Fitei-me no espelho, feia. Muito feia. Mas não era novidade. As pernas meio tortas, toda errada, gorda. Muito gorda.
Fiquei olhando pra mim e pra faquinha. A franja mal cortada e os cabelos pedindo trégua, a faca brilhando, saindo faísca. Num golpe rápido esfaqueei o peito, jorrou água e sangue. Água com gás. O sangue era negro. Eu ainda estava respirando, bem forte, bem quente. Peguei o coração com as duas mãos, batendo rápido, elétrico. A faca caiu bem no pé, pregando-o no chão. Rasguei o coração em duas metades iguais, no meio uma pedra luminosa enroscada, tipo caroço de abacate. Puxei com os dentes, com tudo, caí de costas com o pé preso à madeira. Arremessei a pedra longe, quebrando a vidraça. Perto de mim uma cesta de costura, cingi o miocárdio, fechei o peito com um alfinete e despreguei-me do solo.
Na cozinha havia um pote de sabão, lavei-me toda com esponja de aço, joguei álcool no corpo. Estava limpa. O coração já não doía mais.
A pedra se jogava contra a casa, chocando-se à parede de concreto que me cercava. Ela não ia entrar tão cedo.

15.10.09

Meio achados, tão perdidos

Foi pegar mais um suco amarelo 76, daqueles que parecem que de uma torneira sai água e da outra o pó. Naquele dia a água parecia ter acabado.
Sentou-se próximo aos amigos, riram um pouco e comeram o feijão meio amargo que serviam lá. Odiava carne de porco. Morar sozinho é um problema às vezes.
- Estamos indo.
- Vou ficar mais um pouco, quero ver se alguém em especial entra.
Ficou numa das mesas solitárias esperando a entrada de alguém que não viria. E não veio. Balançava água entre os dentes, chacoalhava em cada lado das bochechas. O tédio!
De longe viu um cartão branco no chão embaixo de uma das mesas, estava sobre um grossa camada de farofa derrubada:
- Além de distraída é desastrada! - pensou, rindo.
Olhou no relógio de pulso e notou que já estava acontecendo a primeira aula.
- Se fosse um cafézinho eu me daria tempo, não é? - censurou-se.
Sem muito pensar tomou rumo à biblioteca, em passadas curtas foi observando aquele caminho que não percorrera muitas vezes na vida... Estudava do lado oposto, não gostava muito de alugar livros, somente os comprava.
No caminho viu a famigerada pessoa. Estava sentada num banco, lendo uns papéis fotocopiados de algum livro que a capa nunca vira. Permaneceu com a vista fixada, nada de troca de olhares. Ensaiou um sorriso amarelo quando surpreendeu-se com um estalo:
- Oi, meu amor.
Alguém sentara ao lado e beijara aqueles lábios que lhe perteceram um dia. No fundo já sabia disso tudo, foi bom comprovar. Respirou bem fundo e adentrou à biblioteca.
- Moço, perderam uma carteirinha... Posso deixar aqui?
- Pode sim, esse povo distraído é fogo!
- É sim.
Não quis mais assistir aula, foi descendo até encontrar a primeira lanchonete. Vários quase-advogados jogando truco e falando futilidades. Mergulhando numa xícara de café e num docinho de chocolate foi pensando:
- Luciana... Graças à você, Luciana.

9.10.09

Eu não sei um título para isso

Eu botei James Blunt de propósito pra sentir a tristeza corroer a carne mesmo.
Para lembrar de ir à missa domingo de manhã com a irmã e de acordar às seis e meia.
Para pensar em como seria a vida se eu conseguisse me importar menos.
Eu queria poder explicar porque eu choro, porque meu peito dói. Ou até mesmo, queria poder parar de ter essas madrugadas tristes. Eu queria tanta coisa.
Eu queria um colo de mãe dizendo que tudo vai ficar bem, eu queria me perder sem ter medo, eu queria tomar banho e não conseguir tirar cheiro de gente de mim.
Eu queria que meus braços fossem cama para quem estivesse cansado, eu queria que meu sorriso fosse lenço para enxugar as lágrimas alheias, eu queria que meus olhos fossem dicionário para sanar qualquer dúvida. Eu queria abraçar o mundo e num só grito dizer tudo o que penso, quero e preciso.
Primeiro eu queria parar de chorar, respirar fundo e ter certeza uma vez só de que o futuro existe e que a vida não é só uma progressão de dias.
Queria acordar e fazer uma única reclamação: "nossa, hoje o dia tá muito cheio." Eu queria me sentir presente.

Não dá para pôr em palavras o quanto eu me sinto perdida, e eu já disse essas coisas várias vezes. É que a cada dia parece pior, parece mais fixado em mim.
Há momentos eu que eu agradeço por tudo que está acontecendo, e no outro eu noto o quão imbecil e inexistente sou.
Eu não consigo suportar.


Posso fazer um só pedido? Que meu único desejo seja realizado. Só isso.

8.10.09

Essa paz

Quando ia pra psicóloga, na quarta-feira de manhã com os cabelos pingando água e os tênis sempre sujos de UEL, eu sempre queria dizer algo, feito um tumor, que não saia de forma alguma. Eu sempre quis reclamar de algo, falar que faltava uma coisa muito importante para mim. Acho que é um sentimento bem comum à todas as pessoas, mas não sei. Talvez me falte saber como verbalizar. Ou faltava.
Estava tentando ler esse (lixo) de texto de sociologia sobre a linguagem humana - aposto essencial aqui, todo texto que a Nilda manda tem frases complexamente estúpidas, como "a estrutura estruturante estruturada" - quando enfezei de vez, após uma hora caindo de sono e ódio, e vim pra internet ver o que havia de bom. É claro que não havia nada de bom, mas pelo menos não tinha nenhum exemplo em francês e belga como no meu texto.
Estava observando algumas coisas quando entendi de verdade o que me falta.
Sabe, ultimamente tenho sido meio censurada por umas atitudes relativas aos meus últimos posts e, enfim, fiquei pensativa quanto a minha conduta e as necessidades que nela repousam.
Olha, sinceramente, o que me falta é essa paz que às vezes encontro num sorriso e num olhar perdidos por aí.
Falta deitar no sofá e não dar valor às coisas que não fiz, que não entendi e que provavelmente nunca irei entender. Não é nem a falta dessa compreensão didática e esse discernimento sociológico que me preocupam, é a falta de paz porque eles existem. A preocupação chata com o amanhã, com o que vão dizer.
Depois não achem estranho eu encontrar um alguém no meio de tantas pessoas e logo ficar magnetizada... São poucos os que têm essa paz, e ele tem. É como tocar o silêncio no meio do enxame em fúria.

6.10.09

Terceira postagem

Essa terceira postagem é também para você, menino bonito. Talvez você precise de um novo codinome, mas isso é assunto para outro dia.
Eu fico realmente muito confusa sobre quem é você, que pessoa é essa que vejo por aqui e que pessoa é aquela que vejo às vezes por lá. É difícil. Tenho medo de estar dando um nó cego em meus pensamentos e não ter uma futura forma de desatá-lo. Estranho, não acha?
Eu só sei que hoje fiquei a te procurar, desnorteada feito bússola pisoteada. Talvez você seja mesmo do matutino. Talvez apareça à noite por ironia do destino. Talvez não tenha irmão gêmeo e nem tenha feito permuta. Talvez tudo isso seja uma grande bobeira.
Só posso garantir, com um sim bem grande e dourado, que quando eu te vejo nasce uma revoada de libélulas que começam num ballet rasante pelo meu estômago e sobem à altura da garganta fazendo cócegas nas palavras. Sim, essa é a melhor definição.

E hoje você não falou comigo. Senti um forte pesar. Vamos fumar um cigarro de palha juntos qualquer dia? Tenho muito a dizer.

5.10.09

De novo, menino bonito

Desci do ônibus rezando para te encontrar ali no portal de entrada, a balançar o pescoço com força, numa tentativa frustrada de descolar a franja da testa. Uma graça. Eu fechava as mãos e cerrava os olhos pedindo seu andar leve perto de mim.
Foi quando parei em conversa, minha irmã disse de forma codificada: "olha quem está atrás de você". Num súbito arregalei os olhos e tomei a Vanessa pelo pulso, como quem agarra criança birrenta. Botei-me colada a seus passos. E que passos graciosos, hein? Coisa linda é te ver assim, parece sempre meio perdido, meio que precisando de alguém para se encontrar.
Dessa vez foram seus pés quem falaram comigo, pediram-me para acompanhar numa caminhada. Aceitei. Você ficou pra trás e eu passei ao seu lado, corpo perto ao seu. Nenhuma palavra disse, mas tudo soube. Vim para cá e para nada mais liguei, afinal, te vi. Desejo é você por inteiro, esperança é conhecer seu consciente.
Agora estou feliz, cheia de paz, luminosa. Meus pés continuam junto aos teus, floridos, andando rumo ao nosso encontro que não tardiará.
Estou me apaixonando, moço bonito.

3.10.09

Segredo para você, menino bonito

Hoje tá um calor daqueles de quando eu fui pra Enseada pela primeira vez, sabe? Um calor que esquenta a alma, deixa a gente meio molenga.
Faltaram uns pernilongos devorando minha pele e teve o acréscimo de Beatles, mas eu poderia sentir aqueles dias de novo ao fechar os olhos.
E você, menino bonito, não sai da minha ideia. É engraçado. Te vi dia desses em frente ao restaurante e fiquei esperando você sair. 35 minutos. Saiu com um copão de café igual ao que eu tinha acabado de beber, legal, né? Acendeu um cigarro, desses de lei depois que se come muito.
No dia anterior jantamos juntos, lado a lado, num silêncio de dois desconhecidos que devem se conhecer. Eu te dei umas olhadas sem vergonha alguma. Você é tão bonito, moço!
Você tem um cabelo bem bonito que não deve ser muito cheiroso, mas tem um balanço bem agradável aos olhos. A sua franja cola um pouco na testa, você deve ter tido um dia cansativo. Sua costa é longa e afilada e suas mãos são generosamente imensas, devem cobrir as minhas por completo feito pombinha na mão da gente. Seu sorriso é meio escasso, mas doce. Seu pescoço é meio curvado e seus olhos são interrogativos, eles falaram comigo. Perguntaram o meu nome e me chamaram para beber qualquer dia desses. Aceitei.
O fato, moço, o segredo, é que estou um pouco apaixonada. Certa estou de que é por sua beleza, mas é que ela me diz quem você é, sabe? Sei bem das coisas que você deve rir. Ah, sei!
A gente combina, pode crer. Eu só queria que você soubesse que quando cheguei em casa eu fiz simpatia, sonhei contigo e planejei nosso futuro. Também lhe adianto que seu sobrenome combina com o meu. Bom ir pensando nisso.
Eu sei que ainda iremos sair pra tomar aquela cerveja e falarmos de coisas que só nós poderíamos dizer, mas se quiser adiantar esse encontro, procure-me.
Se você fechar seus olhos e sorrir, encontrará a mim de joelhos e mãos postas a te esperar.
Você é um menino muito bonito, moço. Tão bonito que chega a dar arrepio e falta de ar, tão bonito que se faz necessário tê-lo em mãos agora. Menino bonito.

2.10.09

Shampoo

Minha mãe comprou um shampoo novo desses que prometem fazer o cabelo crescer mais rápido. Ele tem um cheiro que me lembrou algo, um cheiro que eu já conhecia de outros carnavais, mas não sei do que era, de quando era.
Sei que agora estou aqui em frente ao computador procurando as frases perfeitas para definir o que eu tô sentindo. Não as acho. Tem sido quase sempre assim... Meus dedos parecem não querer organizar as palavras certas, parecem que inventaram de me sacanear e ocultar o que o coração quer tanto dizer.
Fico nessa oscilação de felicidade e tristeza, satisfação e improdutividade, ânimo e letargia. Nunca consigo encontrar os porquês, os motivos, as definições.
Não sei bem se é saudade dos amigos do colégio, pode até ser que seja raiva da sombra-fantasma que eles possuem sobre mim - não vou explicar isso, fica para mim - ou pode ser só uma fase explicada pelos hormônios. Ou tudo junto. Já ouvi gente dizendo que é falta de Deus. Não sei, quem sabe?
A única coisa que sei é que eu me sinto incompleta igual disse há uns bons meses atrás. Sinto-me sozinha, deixada de lado, em quase 100% dos meus dias. Sinto que não há nada prazeroso me esperando, sinto que não mudo nada ao meu redor, sinto que as pessoas não se importam comigo como se importariam consigo mesmas. Não que eu me ache digna disso, não mesmo. Mas é essa a verdadeira motivação de viver - saiba disso - eu sei que é.
Esse cheiro de shampoo me deu vontade de ficar ali na rua brincando com a Fernanda, a Fabiana e a minha irmã. Deu vontade de andar de bicicleta e voltar com os joelhos em carne viva. Vontade de ir pra vendinha da Julia e comprar tubaína, de fazer funeral de formiga e chamar o Rafael de bicha. Deu vontade de ter um cansaço feliz à noite, ir dormir e acordar com vontade de começar isso tudo de novo. Da minha mãe e meu pai guardando as compras, da Elaine de uniforme, da TV passando novela. Deu saudades de uma Luciana com cheiro de shampoo que a vida tem me tirado a lembrança a cada dia que passa. Da Luciana que era completa.

28.9.09

49 cm 2,150 kg

Era um acúmulo de peles e tinha um gosto roxo, meio carbônico. Sentiu-se nadando num caldo grosso, cheio de micro-sujeiras, um pavor. Pensou: "Vou puxar essa corda e vai fazer feito descarga: tudo pro lixo." Errou. Sentiu-se apertado, meio amacetado. Não doeu mas irritou, de raiva deu um pontapé bem forte naquele canto que mais parecia sacolinha plástica e fechou os olhos pra dormir o sono.
Quando acordou ouviu uns barulhos meio estranhos, não sabia que horas eram. Deu a mínima e continuou a luta pra tentar limpar aquele lugar... Até queria ir embora, mas era tão aconchegante. "A praia deve ser assim", pensava. Foi quando achou espécie de um nó, um emaranhado de pequenos dedinhos feitos de uma borracha fina ou algo do tipo. Pressionou. Deu em nada. Horas depois sentiu uma pressão vasculhando seu corpo, parecia fixar ao peito. Coisa estranha.
Dormiu mais alguns sonos até chegar ao limite de sua paciência. O calor o irritava, o gosto marrento era insuportável e aquele cheiro de açougue era muito para as narinas. Resolveu usar uma técnica diferente: debater-se. Começou a se virar, a pressionar a bolsa em que estava preso, dava socos, chutes, arriscava mordidas.
Começou a surgir uma luz por baixo, e essa luz aumentava. O líquido cheio de sujeirinha vazava e seu bexiga-morada estava ficando murcha: "É agora que eu fujo!" Torcendo o pescoço sentiu uma dor tremenda para passar o corpinho naquele lugar estreito e rígido. Sentiu algo o ajudando a sair, doía um pouco, os braços estavam muito apertados e uma sensação horrível o dominava. A luz branca tomou conta de si e os olhos não conseguiam se abrir. Que dor era aquela? A pele latejava, os músculos tremiam e a garganta inundava-se num grito seco.
Tentou se lembrar de onde havia saído. Esqueceu. Cheirou ao redor e sentiu uma estranheza nos pulmões, o ar quis voltar pela boca. Foi quando pensou: "Quem sou eu?" E de resposta teve o eco de uma não-resposta. Tentou falar, não conseguiu. Tentou se recordar porque queria falar, esqueceu. Parecia ser aquele o fim de tudo. Engoliu o ar doído, forçou o peito e num desabafo estridente: chorou. Aí as palavras ao redor foram perdendo sentido, os olhos abrindo um pouco mais, o frio se controlando e a fome surgindo voraz.
- Nasceu, é menino!

22.9.09

Deixa eu te dizer?

Chove lá fora.
Dor de cabeça aqui dentro.
Cheguei numa vontade assustadora de te contar de tudo, de te pedir um momento para poder contar o que se passa e o que se passou no meu coração ao longo desses 3 meses.
Eu fiquei bem na dúvida se te relataria esses fatos incoerentes e confusos, se omitira outros, ou se apenas te pediria ajuda para me fazer entender melhor o que está ocorrendo. O que ocorreu. O que está para ocorrer.
Acho estranha toda essa movimentação, esses sentimentos conflitantes. Às vezes te juro que até acredito ser nada, coisa boba de um alguém tolo. Mas não pode ser.
Você, se me conhecesse a mais tempo, entenderia que não sou assim. Para eu acordar no meio da noite com um nome em questão na cabeça, algo de diferente está para acontecer. Não que eu te compare a outros acontecimentos de minha vida. Jamais. Só acho tão diferente que não posso mais suportar.
Noutra postagem desse blog, num momento péssimo de minha vida, disse sobre passar do céu ao inferno. Você não deve ter lido. Foi pesado.
Enfim, senti o céu de novo, talvez mais forte e doce do que da primeira vez. Eu dancei You Only Live Once em frente ao espelho, eu cancelei com amigos, eu mudei ideias, eu confessei segredos. Lembrar disso e de tantas mais palavras hoje, fazem-me entrar numa nostalgia que, de tão recente, deixa-me louca. Louca. Como faz para tudo ser tão fugaz assim? Quando é que perdi o controle disso tudo? Sinto lhe dizer, mas parece caso pensado. Parece que foi assim: "essa pessoa merece mudar de foco". É, mudei o foco. Mas a dor mudou também. Não é lá a dor do errante, como disse outrora. É a dor do desconhecido, do desconhecimento. Eu já não sei mais o que sinto, eu não sei olhar nos olhos quem me vê de fora e afirmar com certeza o que se passa.
Eu sei que ao seu lado - e leia aqui "lado" no sentido mais superficial da palavra - eu me sinto invencível de novo, como se fosses um velho amigo. Entende? Sinto que sua presença é fundamental e rara. Isso é minha nova dor. É um achamento perdido, uma coisa impressionante.
Eu sei também que você tem medo de saber essas coisas, e sei que hora ou outra vai acabar lendo esse texto e sabendo que é pra você. Você sempre sabe, não é? Sempre sabe o que eu penso, sempre entende o que meus olhos dizem. Eu sou clara em minha omissão. Culpa sua. Não pedi vez alguma que chegasse com esse seu jeito diferente de caminhar e com essas palavras que se juntam feito poesia em frente aos meus olhos. Não pedi. Pedi?
Mas eu vim com a garganta cheia de frases bonitas, de explicações e teorias sobre mim mesma. Eu queria te pedir para não ter medo de mim, medo do que vai acontecer comigo, medo do que eu quero. Eu ia pedir também para você não deixar de querer saber de mim, do que eu penso.
Você foi embora de novo. Talvez seja isso que esteja acontecendo... Você já conhece tudo de mim, a necessidade de me ter por perto já passou. Mas eu sinto falta... Talvez porque não sei quem és. Só metade. Alguém fascinante versus alguém sem explicações. Estranho mesmo, né?
Parou de chover lá fora.
Sinto falta de um passado ainda tão recente.
Vamos tomar um chá qualquer dia desses para eu te contar tudo o que se passa?
Mas se não quiser, entendo. Só quero que saibas que esse seu medo é puro equívoco.
Só isso.
Até mais.

20.9.09

Prenda-me se for capaz

Eu quero ficar presa mas não consigo.
Quanto mais tento conhecer as pessoas, mas me distancio da verdade, da convivência. Essa história de descobrir o outro não dá certo para mim, tentar entender alguém é um erro, um puta erro.
Eu tenho uma sensação muito ruim, e nem é porque é entardecer de domingo, de que eu não sou fixa em ninguém, sabe? Eu me sinto solta, vagando. Não que seja necessário a mão de alguém para que você não flutue, mas é bem mais fácil quando você encontra pés cansados querendo descansar ao lado dos seus.
Esse ano tem sido estranho. Sei que digo isso todo ano, mas esse ano realmente tem sido estranho. Eu acho desnecessário mencionar toda a merda que vi/fiz/presenciei/provoquei, seria doloroso demais relembrar tudo isso - sejam fatos bons ou ruins. Mas às vezes, quando você menos espera, chega uma pontadinha desse passado ainda quente na minha mente e OPA! confusão. Isso tem me feito mal... Viver dessa ficção meio errada, dessa realidade surreal. Será que só eu percebo o quanto tudo está incompleto? Cadê o amor, gente? Difícil. Quero amar de novo, quero me sentir invencível só mais uma vez. Quero além do prazer.
Eu quero ser presa mas não consigo.

19.9.09

Quaresmeiras

Escrevi um grande texto sobre "É amor quando não te amam?", mas achei tão fútil que resolvi apagá-lo. Poderia desfazer, mas prefiro fingir que ficou somente na minha cabeça, fruto desses pensamentos que a gente tem antes de dormir.

-

Dia desses, meu professor comentou sobre as árvores Quaresmeiras - algo assim. Disse que elas dão as mais belas flores quando estão se preparando para morrer. A intenção é polinizar o ambiente ao máximo para que a morte delas não seja em vão. Fiquei com isso no fundinho das sinapses.
Hoje quando acordei senti aquela felicidade púrpura, pura e genuína, que chegou a me fazer dar um sorriso de orelha à orelha sem motivo algum aparente. Foi aí que a memória aleatória foi ativada.
Até o momento que vos escrevo, um milhão de pensamentos pretos, laranjas e branco com bolinhas vermelhas me invadiram fazendo mudar a nuance de toda essa felicidade. Dentre essas cores: a nostalgia. A nostalgia é o sentimento mais pesado que existe em minha humilde opinião. Traz tristeza, felicidade, saudade e dor, tudo junto, como uma granada de mão. Nessa explosão toda fui pensando em como estou só e naquele blablablá todo de como nunca me sinto completa. Talvez esse drama de não se sentir fixo em lugar algum seja coisa de todo mundo... Mas gera certo pânico em mim.
Aí que as quaresmeiras entram. Felicidade forte e avassaladora para anunciar que o único motivo de estar assim é a morte - entendamos a morte aqui como deixar de ser eu mesma. Mas tal fato não me surpreende em parecer uma Quaresmeira. O que me preocupa quanto a essa semelhança é uma questão de cunho reprodutivo e filosófico: o que eu tenho feito para polinizar meu ambiente?

15.9.09

O Pai


Um dia Alice acordou com uma pinta acima do umbigo e foi perguntar para o pai o que era:
- Pai, que coisa é essa aqui?
- Vou saber?
- Deveria saber!
- E por que?
- Porque pai sabe tudo!
Aí o pai de Alice a lembrava desse diálogo constantemente. Foi numa tarde de maio que ele chegou arfante na casa da filha, havia acabado de sair do repouso e ainda estava meio fraco.
- Filha, como explica o amor que tenho por você?
Assustada, encheu os olhos de lágrimas quentes e disse:
- O senhor não sabe, pai?
- Eu deveria saber, não é?
- Pai sabe tudo...
- Sabe não.
- Mas ensina.

11.9.09

Ontem fui me deitar - não sei ao certo se foi ontem, costumo errar nesses conceitos - e já era dia. Havia passado das 7 da manhã. Gosto daquele cheiro azulado que a entrada do dia tem.
Fiquei me lembrando de quando eu acordava cedo pra ir à escola. Maldizia milhões de vezes as aulas que teria, tomava um banho pra acordar os neurônios, bebia 5 litros de café e ia muda até a escola.
A umidade do ar da manhã apucaranense sempre me fez bem. Acho que as ideias, concepções e poesias mais brilhantes que escrevi, foram absorvendo esse ar puro e geladinho.
Notei que esse ano acordei raras vezes pela manhã. Hoje, nesse dia aí que abri a janela, acordei às duas da tarde. Não tinha ninguém em casa.
Lembro que tenho amigos, família, ídolos, colegas, conhecidos, amores e objetos de estimação. Lembro que se eu morrer, algumas pessoas irão chorar e vestir preto para protestar a minha ida adiantada. Meu pai chega, Natália me liga, a Claro me manda mensagem, ligo pra Vanessa. Há sinais de vida, há pessoas me cercando. Mas eu estou só.
Eu já não inspiro mais a brisa da manhã depressiva de ir pra escola, não gosto mais de pão de queijo, não tomo leite e nem como feijão, durmo de dia e acordo de tarde, vivo à noite, converso com as mãos, abraço gente nova, canto sem embromar, choro sozinha, recito poesias vendo TV e rezo para sairem de casa e eu poder dormir em paz ainda mais.
Eu não sinto tão forte o gosto da pimenta, eu vivo à base de cafeína, faço xixi uma vez por dia e não sinto a pele macia das pessoas que mais amo. Eu sequer brigo com alguém que tenha algo real a me dizer.
É complicado entender, é complicado mudar. Eu até chego a gostar de ter essa vida meio desregrada, gosto de não ter compromisso. Mas tem ficado cada dia mais letal ver a vida passar e não ter o que fazer, não ter porquê fazer.
Talvez nem seja assim tão necessário alguma mudança, talvez seja claro o que está acontecendo.

Sonho.
Estou deitada num banco preto, todos que amo lá fora, comendo o churrasco. Estou de toalha, não consigo me mover. Alguém está nu ao lado, numa cela preta, tomando banho. Não consigo conversar, mas faço gestos. Eu vejo um rosto, sinto medo.

Estou só.

9.9.09

Mocinha Curitibana

Luciana de Castro

A mocinha, com as bochechas forradas de espinhas, desce no ponto de ônibus já derrubando a alcinha da blusa, meio reclinada.
- Já tá aqui, paizinho?
De terno branco ele surge meio excitado pelo perigo e os tornozelinhos dela.
- Nessa idade, pombinha. Nessa idade!
A tipa reclina e mostra a perninha embalada pela meia-calça branca.
- Tem ninguém aqui, paizinho.
Escuro realmente estava, mas sempre havia um sapo coaxador a bendizer a sobriedade na entrada da madrugada. O santo praguejava de ódio ao medo que tinha de ser pego com a saia violeta entre os dedos.
- Tão violeta essa. Parece até amora fresca, menina! Assim você exagera.
Foi quando viu monte mais formoso subindo a colina, emocionou-se. Ao pegar pelos peitinhos tão pequenos quanto duas rosas em botão, partiu a carne ao meio e sujou os dentinhos da frente.
- Tão docinha, pombinha. Ai, assim não me aguento!
Ela chutava os sapatinhos surrados pro lado e bebia do maldito sem que ele pedisse. Devia ser sede ou algo assim, menina mais aprendida nunca se vira, rápida e inteligente, os olhinhos pretos cheios de lágrimas felizes.
- Ai, paizinho! Nessa idade que tenho!



dedicado ao Ilmo. Sr. Dalton Trevisan.

5.9.09

Consolo na Praia



Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida ainda não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?


A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.


Carlos Drummond de Andrade

3.9.09

Constatação

Quer saber algo engraçado?
Te esquecer não foi difícil. É, usei o passado. Não foi. Sim, já esqueci.
Temos aqui um intervalo de 2 meses entre a glória e o inferno, mas posso dizer que já estou vivendo em paz sem você.
E quer saber algo sincero?
Acho que nunca tinha tentado te esquecer de verdade, de todo o meu coração. Não é tão triste quando eu quis acreditar que fosse, é deveras doloroso, mas gera até uma brincadeira com seu próprio coração. Sabe aquelas palavras que você disse há um tempão pra mim? Eu finjo que elas não fazem sentido. As músicas que me lembravam você eu já não ouço mais. Quando estou perto de você, finjo que seu cheiro é igual ao de todos e que te ver falando é algo que não me fascina.
Passo as tardes sem lembrar que você existe mas, se lembro, penso que você é só um amigo de pré-adolescência.
E, acredite, esse jogo tem sido delicioso. Começo a me desesperar como fiz num passado próximo e me policio, paro, respiro. Em poucos segundos volto a te achar um amigo querido e nada mais.
E, quer ouvir a última? Agora paro e penso como pude chorar tanto, ir pra psicólogo e viver em função de ti... Já me parece engraçado, acredita?
Vai ser muito bom pra você e melhor ainda pra mim.

Até porque... Você tem as unhas iguais às de todo mundo... Não dá.

30.8.09

Talita Maria Marques Albuquerque de Talalacchio

- Mas que nome longo, menina!
Era sempre a mesma encheção de saco pra cima da guriazinha. Quando menor quisera usar sutiã para parecer com Camila Taísa, a moça mais velha. Deu que Talita Maria ficou de peito mais robusto que a irmã, uma ironia.
Talita Maria acordava todos os dias às 10 para às 9, tomava o desjejum - leite e biscoitos de araruta - e lia a coluna social do único jornal da pequena Santa Mãe do Progresso (que de progresso só tinha o nome). Aí corria ao redor da Lagoa da Imagem Bendita onde sempre se encontrava com Gerdes Bonifácio Lopes, um rapaz louro e de muitos sorrisos.
- Tais bonita nessa chita arroseada, Talita Maria!
- Coisa de teu olho, Gerdes!
Ruborizada que ficava, saia em disparada pro único chuveiro que ficava entre a casa de sua família, a de Dona Pompília e a da família Siqueira Pombo. Tomado o banho ia pra escolinha onde lecionava para crianças de tudo que era idade, porque na Santa Mãe do Progresso eles não tinham divisão etária pra séries escolares. Nem ao menos sabiam o que significava "etária".
Talita Maria gostava muito de ouvir o horóscopo que Juvenal Arqueiro narrava no fantástico radiojornal "Galo da Serrinha", um primor da comunicação. Dia desses pegou a seguinte previsão mágica:
- Tu, mulher de sagitário, tu mesma! O amor está onde menos espera, tu é que não te deixas ver direito. Ao olhar o mundo de verdade, perceberás o amor a te contemplar, mulher! Basta abrir os olhos. Cor de sorte: azul. Número: 17.
Não é que se encaixou? Terça-feira amanheceu 17 de outubro e Talita Maria foi fazer o ritual matutino. Tirou do varal o vestido mais bonito de cetim paulista da cor azul turquesa que chegava a latejar a cabeça de tão forte. Partiu rumo a Imagem Bendita. Caminhando meio desconfiada, crente que ia achar seu amor naquele momento, Talita Maria encontrou Gerdes Bonifácio Lopes a colher flores do canteiro da fazenda Menino Jesus Santíssimo.
- Valha-me, Deus! Só podem ser pra mim!
Num assobio deveras galanteador, chamou Gerdes Bonifácio Lopes e o encarou por dentro dos olhos. Agarrando-o firmemente pelos ombros tascou-lhe um beijo molhado desses de selar carta e não soltou por uns vários 10 minutos.
- Talita Maria Marques Albuquerque de Talalacchio Lopes? Mas que nome longo, mulher! - era o que todos lhe diziam depois que casou-se com Gerdes Bonifácio.
O que Talita não sabe e nunca haverá de saber, é que quem escrevia o horóscopo era a Dona Pompília Arqueiro, mãe de Juvenal e sua vizinha, uma senhorinha ruiva que nunca havia visto sequer estrela cadente. E Talita Maria também não sabe que as flores que Gerdes Bonifácio Lopes, agora seu esposo amado e estimado, colhera naquela tarde em questão, eram pra alimentar a vaquinha Lulu que virara churrasco de domingo no quintal da família Siqueira Pombo.
Talita Maria era mesmo uma moça robusta de muita sorte.

25.8.09

Mudando de assunto

Às vezes pego pra ler esse blog e fico chateada por eu ser tão monocromática e... chata. Sério, gente. Sei que sou chata.
Mas, dentre tantas decisões, está firmado que não usarei mais este espaço para ficar chorando e amargurando os meus dramas infantis. Alô? Tá na hora de morfar.

Eu e minha bróda, assim a chamarei, decidimos várias coisas nesse fim de semana. Na verdade ela concordou com os meus planos feitos numa sexta-feira alucinada.
Bom, são coisas bestas pra quem ouve, mas têm me dado um certo ânimo. Óbvio que envolvem dinheiro, trabalho, sangue, suor e saibro, mas tranquilo. Chega um dia que você se sente deslocada e ninguém pode fazer nada por você a não ser... você. E é isso que vai ser. Oh, só! Tô até sorrindo aqui.

Enfim, tinha me prometido que não ia mais surtar nos meus pensamentos e quando eu visse que essa droga ia começar, caçaria dramins na geladeira (sim, em casa os medicamentos ficam na porta da geladeira) e sossegaria. Dito e feito. Ontem rolou um blackout aqui na minha rua. Estava pintando minhas unhas de prateado quando os eletrodomésticos começaram a piscar adoidadamente e um barulhão de tensão elétrica surgiu atrás de mim. Passei por 5 segundos de terror extremo. Aí meu pai desligou aquela caixa que liga a energia da casa toda e a paz macabra reinou. Uma região todinha da minha cidade ficou no breu por umas 5 horas. Resultado: fui dormir meia-noite. MEIA-NOITE. Tá, botei o mp4 na orelha e dei a ouvir SoKo e The Who até uma da manhã quando o sono me invadiu. Acordei 3:2o da madrugada com as luzes da edícula acesas e eu achando que já era meio-dia. Levantei tropeçando nos próprios pés quando vi que tinha dormido menos que 2 horas e meia e apaguei as luzes. Fui me deitar de novo. Rolava de um lado pro outro e me debatia, tirei uma coberta e depois mais outra, passei frio e coloquei a rosa de novo. Levantei e bebi água. Levantei e fiz xixi. 4:30h. Levantei e procurei dramin. Tinha acabado. Comecei a surtar com as coisas que acontecem comigo e pensar bosta. Fui jogar Snake no meu celular (sou old school). 5:40h. Comecei a fazer birra mental porque queria muito dormir. Rolava tanto que desencapei o colchão. 6:30h. Bebi água e tirei o aparelho dental pra dar uma arejada. 8h. Minha mãe abre a porta do meu quarto antes de ir trabalhar. De repente dormi de novo. 11:23h. Acordei.

E hoje à tarde tentei dormir de novo: sem sucesso. Tô com algum problema.

Hoje não tô muito a fim de socializar com as pessoas, nem de responder scraps e nem de ver filme. Tô com dor de estômago e uma leve cólica. Tô com sono existencial e ainda não arrumei a minha cama.

É, sou cheia de emoções, minha gente.

20.8.09

Frankly, dear

I'm forced to give up, I tried my hand and now I've had enough.
Even though we have to say goodbye, keep me in mind.

18.8.09

Alpiste

Eu não tenho a ambição do ser errante de ser lida e compreendida. Ah, não. Eu tenho aquela velha vontade de encontrar uma mão quando juntos as minha sobre minha face comprimindo o ar que me invade.
Às vezes me assola o triste vazio do silêncio, o fantasma da solidão. Mas eu não tenho a vaidade de querer uma vida diferente, eu só queria algum sorriso mesmo que de improviso perdido na escuridão.
Quando eu tomo banho a água escorre pelo meu corpo de uma maneira dolorosa e fria, será um problema só meu? As páginas dos livros dançam para mim, as músicas destonam por brincadeira e a televisão insiste em chiar. Parece implicância comigo.
Não entendo a sanidade daqueles que acordam cedo e conseguem se calar, não entendo como as bolsas das mulheres estão sempre tão cheias e a cabeça daqueles meninos conseguem dizer coisas tão bonitas. Eu não entendo como algumas meninas são tão mulheres e pra elas é reservado tanto amor e volúpia.
A culpa não é da minha tv errante e nem do horário que eu vou me deitar. A culpa não são os jogos imbecis que matam meu tempo, não são os livros que não li e nem os filmes que eu não sei resumir. A culpa é essa cabeça aguçada que se adapta de uma maneira distinta a cada situação. A culpa são desses tantos eus que me habitam e fazem de mim escrava das minhas próprias palavras. Se errei, foi pela boca. Muitas vezes o corpo permite mas a garganta quer que tudo se acabe.
Eu não tenho aquele desejo de ser feliz plenamente e nem vou fazer de tudo para conhecer Paris e me casar de branco. Eu só queria ter alguém que fizesse o trânsito parecer piada, alguém que colocasse as mãos sobre os meus ombros quando caminhasse comigo na rua, alguém que entendesse de loucura e juventude, alguém que cantasse o Brasil e o universo e que bebesse coca-cola na minha rapidez. Eu queria um encaixe e não precisa ser perfeito.
Mas eu também não tenho a ambição do ser sonhador de acreditar que nasci pra esse tipo de coisa. Eu sei que pra mim resta o pó, resta a dor e o sangue seco. Eu sei que poderei rir mais vezes e sentir meu corpo flutuar pelos céus. Eu vou provar do amargo e do doce por diversas vezes mas não vou chegar a não me importar com a morte.
Eu não levanto algumas bandeiras, eu minto, eu falho... Mas ajo por mim, porque estou só nessa luta. Vou me candidatar a presidente do clube dos sem explicação, daqueles que querem dizer e não sabem como, aqueles que têm tanto amor e não têm pra quem distribuir, daqueles que sentem de longe o cheiro do fracasso e acabam por se destruir.
Esse texto talvez não faça muito sentido amanhã, ou pra você. É que é um vômito luminoso dessa dor de cabeça que eu estou.
Eu não valho a pena porque não confio em mim, porque estou enlouquecendo. É tão claro notar, é tão fácil detectar a minha insanidade. Vocês se cegaram pra mim, filhas da puta.

Do Michaelis

solidão
so.li.dão
sf (lat solitudine) 1 Condição, estado de quem está desacompanhado ou só. 2 Lugar ermo, retiro. 3 Apartamento, isolamento. 4 Caráter dos lugares ermos, solitários.

letargia
le.tar.gi.a
sf (gr lethargía) 1 Med Sonolência mórbida. 2 Estado de sono profundo que se observa em várias doenças mentais e principalmente na doença do sono. 3 Estado de vida latente em que caem certos animais, relacionado com as estações ou em consequência de uma forte dissecação. 4 Estado de inércia ou indiferença; apatia. 5 Indolência, preguiça. 6 Estado de insensibilidade que constitui um dos passos do chamado transe mediúnico. L. africana ou l. dos negros: doença do sono.

17.8.09

De mim

Eu sou dourada, eu sou um herpes
Eu sou gigante, eu sou um Hércules
Eu sou o fim, eu sou buraco
Eu sou sujeira, eu sou um trapo

Ninguém se importa quando eu não estou
Ninguém me cobre dos raios de Sol
O teto de zinco apodrecido
Deixa passar o medo e o perigo

Chafurdando no lixo úmido que me cerca
Alimento-me do podre que resta
Ninguém me amamenta quando eu nasço
A Lua se parece com uma lasca de aço

Eu sou poesia, eu sou mitológica
Eu sou vadia, eu sou ilógica
Eu sou cordeiro, eu sou sagrada
Eu sou rebanho, eu sou boiada

Juntando as mãos à altura dos olhos
A visão aguça e a mente se enquadra
Ninguém reza quando me vê delirar
Ninguém chora quando me vê mofar

A almofada é roxa e perfumada
E os ombros parecem querer se colar
Ninguém ri quando o vê o dia incendiar
O guarda-chuva faz o fogo desviar

Eu sou pedaço, eu sou cerne
Eu sou sólida, eu sou um verme
Eu sou roída, eu sou porosa
Eu sou doença, sou venenosa

16.8.09

Morte Morrida


Não quero mais a problemática, a didática e a teoria de não ser estática
Não quero mais planos, nem ciclanos e nem arcanjos a me esperar
Hoje eu não quis comer, não quis acordar, não quis conversar
Eu não precisei de folga, não preciso de cérebro, não quero me movimentar
Eu nem ao menos quero um canto, não quero um encanto e nem há espanto em não desejar
Pra quem não tem vida, não há bebida e nem formicida que cure a insaciedade de estar acordado
É uma inanição que não envolve estômago, que envolve a vontade de se ausentar
É Alice morrendo, Alice escorrendo por entre os dedos tortos e o punho cerrado
Uma vontade nula de ter um motivo para se emocionar
É a morte morrida, por mais piada que possa soar.


12.8.09

Até quando?

Hoje não venho chorando e surtando no fundo do poço te entregar palavras doídas e encharcadas de água negra. Só venho, no momento mais sincero que meu coração já pôde se encontrar, perguntar-te: até quando?
Sério mesmo. Até quando vai ser isso? Como vou viver sem te ver? Faço o diabo para te evitar, mas quando acontece volta tudo, tira-me do eixo, acaba com a minha razão, minha estrutura.
Eu tenho ciúmes de você. Eu tenho ódio de você. Eu tenho tudo relativo a você. Eu só não tenho você e nunca vou ter. Mas até quando eu vou viver com esse vazio?
Eu peço a tua ajuda.


Só quero deixar uma frase do Bukowski que muito lembra o que passo por você:

"Não sei quanto às outras pessoas, mas quando me abaixo para colocar os sapatos de manhã, penso, Deus Todo-Poderoso, o que mais agora?"



Entende?

10.8.09

Des-oito

Estou aqui, enrolada numa coberta - coisa que fiz várias vezes esse ano - e ouvindo Los Hermanos - coisa que não fiz muito esse ano - e analisando os fatos. Analisando os dezoito anos.
Sabe, as comemorações não foram assim tão calorosas, mas as pessoas que estavam perto de mim não poderiam ter sido melhores. Não poderiam.
Não vou ficar relatando o que aconteceu, porque, sentimental como sou, guardei já tudo aqui dentro do meu peito. Mas na virada do dia 9 para o dia 10 eu estava do lado das duas pessoas mais antagônicas na história de Luciana. Assim, não dava pra ter sido mais luciânico. Foi cabalístico, como gosto de dizer, e foi estranho. Talvez eu tenha descoberto forças que eu não sabia que existiam, firmei meus desejos e metas pra esse ano, entendi bem outras coisas e desejei bem firme que tudo continue sendo brilhante. Além de ganhar uns presentinhos da Nate e uma romã meio podre do Fê.
Mas bem, foi interessante. Eu sou desse tipo de pessoa noiada que fica "parando pra pensar" quando se encontra em situações marcantes... Como seu aniversário de 18 anos.
Fiquei olhando ao redor... Eu tava ali, sabe. Ali onde achei que nunca estaria, rolou até de eu dizer o que eu pensava deles, por isso firmarei aqui de novo: eu amo vocês. Obrigada por me darem os extremos de minha vida. Obrigada por me fazerem sentir a maior dor de todas, por me trazerem o nirvana, por me fazer rir e sorrir, por terem esse descompromisso compromissado comigo. Eu realmente amo vocês e espero que me amem também.
No mais parei pra entender o que são esses 18 anos. Eu não sou madura, dá nem pra eu mentir uma merda dessas, né? Mas eu acho que aprendi muita coisa nesse ano. Gosto muito de repetir (até mesmo dentro desse post) que passei pelos extremos esse ano - quero nem entrar em detalhes - e sinto que ainda há muito por vir. Muito.
Esses 18 anos estão mais pra Des-oito... Jeito de saindo da infância, acordando pra vida, absorvendo o amor... Entendendo que quem controla as coisas aqui sou eu, e eu sou a dona da história. Compreender isso tem me fazendo virar gente.
Agora vou dar um tempo na confusão e um tempo pro coração. Eu preciso respirar, preciso acalmar. Depois dessa tempestade que se foi, tem aquele arco-íris malandro esperando na alvorada. Pode crer que eu espero isso.

No mais, obrigada meus amigos de sempre, meus amigos de hoje, meus amigos que se foram.
Como Danylo bem disse, que vocês entendam e até mesmo se apaixonem pelos meus dramas e minha excêntricidade. É isso que espero.
E que mais pessoas possam me dar o presente lindo que o Greg me deu de dizer que sou o achado dele desse ano. (Lindo, né?)

Tô crescendo, galera. Be careful.

7.8.09

Merda de Vida - pt I

Merda de vida. Quando eu disse prá Mariana que eu ia embora, ela riu da minha cara como se eu tivesse falando a porra de uma piada. O que detesto é quando vem esse moralismo barato de dizer que eu tenho que aguentar as coisas. Aguentar é o caralho.

Eu tava fazendo um miojo quando minha mãe chegou e ficou me olhando quase um minuto, eu já tava puta porque não tinha conseguido o emprego no bar da Inferno’s e não deu pra fingir que aquilo não tava irritando:

- Que foi?

- Ah, Alice... Nem pra bar você funciona.

Eu não soube o que concluir primeiro. “Funciona”. Que porra é funcionar prá minha mãe? E outra... Quem deu o direito dela concluir alguma coisa de eu não passar nessa entrevista? Fiquei uns 10 segundos olhando a cara de asco que ela tava e o sangue foi subindo...

- Vai tomar no seu cu.

Eu saí da cozinha e só fui ouvindo os gritos dela abafados pelo choro entrando por debaixo da porta do meu quarto. Prá ser uma filha da puta eu funciono muito bem... Até pensei em dizer isso, mas o ódio era tanto que a garganta se fechou.

Sempre foi assim, sabe. Eu era uma aluna exemplar, por mais que seja difícil de acreditar, mas o que me fodeu foi a Rafaela. A Rafa não, né... A morte dela. Quando eu fiz doze anos ela morreu num acidente de carro voltando de São Paulo com a companhia de balé. Mas eu não posso reclamar da pressão que a perfeição da Rafaela fazia em mim, ela era uma menina bonita de 16 anos e se eu tivesse aquelas pernas que ela tinha, que eu não tive até hoje, também seria uma dessas meninas Britney Spears na fase virgem. O punk é que ela era minha irmã e eu não consegui suprir a falta que ela fez aos meus pais... Na verdade ela faz falta até hoje. Eu não dei esses orgulhos imbecis a eles e tenho certeza que ela poderia ter dado. Eu tranquei minha faculdade de jornalismo, não trouxe namorado em casa, já fui pega com tóxicos (pra ser menos trágica)... Seriam coisas transponíveis se a minha irmã estivesse aqui ainda. Mas ela não ta há 7 anos e eu não posso mais suportar viver nessa condição dupla de existência – sendo que não cumpro nem o papel da minha vida.

A Mariana é uma garota que eu conheci na época que eu tava viciada em Stooges, um ano depois que a Rafa se foi. O pai dela tinha uma banda cover dos caras e vivia me ensinando a tocar bateria. Quando eu ia à casa deles era tudo legal. Ela tinha uns 10 cachorros e todo mundo colava o que quisesse na parede... Fotos, pôsteres, recados, bulas de remédio, matérias de jornais, capas de disco... Tudo. Aconteceu que quando a Mari fez 15 anos os pais dela se separaram e o pai foi chamado pra produzir uma banda lá em Niterói e ela teria que se mudar de Londrina. Como a Mari gostava daqui e tinha vários amigos, ela ficou com a Solange, a mãe dela. A Solange era um demônio em forma de mulher. A menina virou uma otária igual aos outras garotas daqui. Nem saía mais comigo, não ia em casa ouvir música, eu não ia lá ver filme. A gente continuou amiga e tudo, mas os 2 anos anteriores foram muito melhores do que todo os outros até hoje em dia, que a gente tá com 19.

Bom, mas foi essa Mariana aí que quando me encontrou no mercado foi a primeira a saber que eu iria prá São Paulo. Ela me viu e deu um sorrisinho meio amarelo porque tava com o namorado em punho. Mas acho que ela pensou ser meio “de mau tom” não ir até lá cumprir os protocolos sociais.

- Oi, Alice! E aí, menina, como você tá?

- Ô, Mari. Eu tô bem e você?

- Ah, tô indo, né... Fiquei sabendo que você parou de fazer a faculdade, que foi?

- Eu cansei, meu... Tô indo pra São Paulo.

Acho que a filha da puta da Mariana tava muito 13 anos pra eu ter dito assim tão livre que ia me mudar. Sei que ela deu uma risada bem alta e quando viu que eu ainda tava séria emendou qualquer coisa pra cobrir a gafe.

- São Paulo, Alice? Vai fazer faculdade, arrumou trabalho?

Eu nem pensei em mentir, queria que se fodesse mesmo.

- Não. Na verdade eu to indo porque tô desempregada. Eu tentei pegar o bar da Inferno’s mas não deu, eles queriam alguém com experiência na noite. Eu cansei daqui, Mari.

- Mas São Paulo não é brincadeira, cara... Você deveria aguentar um pouco.

- E eu não sei, Mari? Não é questão de chamar atenção, é que eu realmente preciso sair daqui. Eu conheço os meus limites, meu.

- Entendo.

- Entende?

- Pelo menos sei como funciona... O Rogério, amigo do meu namorado, vai pra lá no domingo. Tá indo com uma graninha escassa também. A namorada engravidou quando ele tava fazendo intercâmbio nos Estados Unidos, chegou aqui ela tava morando com um cara há uns 3 meses. Foi foda, mas ele ta querendo se reconstruir lá...

- Porra, e eu achando que tava fodida...

- Você é rebelde, Alice! Parece que tem fogo no rabo.

- Eu sou sonhadora, Má. Sempre fui.

- Sei bem. Quer o telefone do Rogério? Talvez vocês até podem combinar de ir juntos e tal. Se quiser eu peço pro Tales agora mesmo...

- Pô, pode ser.

Aí ela pediu pro “bebezinho” arrumar o telefone desse cara pra mim. Ela me deu um abraço bem forte, pediu pra eu mandar e-mail caso precisasse de grana que ela daria um jeito e me deu umas referências em São Paulo de uns lugares onde os primos dela frequentam. Eu achei meio exagerado porque faziam uns 2 meses que ela não parava prá falar comigo. Acho que a noção de eu estar indo embora fez com que ela entendesse que eu já não pertencia mais a ela por completo e que isso não tinha volta.

Mas o que importa mesmo é que agora eu tô na rodoviária com um papel escrito “ROGÉRIO” na mão e 200 reais na carteira. Eu vou pra São Paulo.

2.8.09

Sobre como a vida deve seguir

Depois de muito pensar, analisar, sonhar, vadiar e confabular - eis aqui um lindo verbo - constatei como a vida deve seguir. E minha conclusão se resume nisso: a vida não deve seguir. Por que é que encaramos a vida como uma estrada? Ela não é e nem se parece com uma. Estradas têm fim, tem sinalizações e, mesmo que esburacadas, têm estruturas iguais umas das outras. Já a minha vida não se parece com a de vocês, tenho essa certeza. Ela não é linear - o que na maioria das vezes é bom - e não tem um destino certo... Mas não é tão incerto assim. Entende como é complexo?
Acho que a vida não deve seguir, deve acontecer... Seguir é dar continuidade a algo reto, simples. Acontecer é renovar, é surpreender. Ora, ao dirigir numa estrada você tem duas opções: ser cauteloso ou não. Antes a vida nos trouxesse duas facetas, não? Diferente da metáfora, viver é lidar com contradições gritantes, dicotomias dolorosas e decisões no mínimo difíceis. Bom, acho que ficou um pouco confuso de entender novamente.
Digo que seguir a vida como uma estrada é querer ter um fim e viver é bem mais que isso... É achar o fim assim sem querer, sem cumprir protocolos sociais, como diria o Junior.
Bom, eu tô pensando seriamente em viver... Mas isso é uma concepção minha, vocês podem pegar seus carros e ir pr'onde quiserem. Eu não tenho medo de multa.

27.7.09

Reclamação

Eu estava com vontade de postar e pensei em dizer como estou confusa.
Aí eu já diria que só tenho dormido, que as pessoas me esqueceram, que eu quero dinheiro, que não consigo ser feliz, que minha vida caiu na monotonia e o blablablá de uma Luciana chata e inconformada.
Mas eu não vou fazer isso. Tenho que aprender que minhas reclamações não são prato de ninguém e não resolvem nada... Preciso louvar as coisas boas. Odeio a ingratidão mas tenho usado muito dela.
Eu não vou mais reclamar, não por hoje.

22.7.09

Luciana

Olá! Vim fazer uma postagem a você, Luciana.
Bom, às vezes me esqueço de homenagear a pessoa mais importante de todas para mim... Eu mesma.
A Luciana é, na maioria do tempo, uma pessoa criativa e sonolenta, alguém que consegue dosar a preguiça e a efusividade paralelamente. Ela peca um pouco na intensidade... Pouco não, peca muito.
Todo sentimento que Luciana faz germinar, é tratado de maneira anomálica. Sabe, ela deixa que isso estrapole a barreira do comum, faz com que tudo que ela sente seja algo descomunal, sufocante e desumano - principalmente para ela.
Luciana também não gosta das coisas que escreve, acha bobagem. Nunca fez algo que olhasse e dissesse "uau, que texto incrível". Isso vem da necessidade de provar a si mesma que é capaz de ser melhor cada dia que passa. Não se sabe se isso ajuda ou atrapalha.
A Luciana tem sua faceta metódica. Não gosta de cachorro, portanto repudia qualquer discurso nojento - como ela considera - sobre tais animais, bem como os vegetarianistas, naturalistas e alguns outros istas de quem come alface e rola na grama com um labrador. Ela odeia que entrem em casa com o sapato que chegou da rua, não admite outro programa de humor que não seja o pânico - vai entender, né? - idolatra uma série de celebridades totalmente desconhecidas - Amanda Ramalho, Leelee Sobieski, Sam Huntington e Álvaro Cardoso Gomes estão no topo - e também gosta de duvidar da dor alheia.
Acho que a Luciana gosta muito de se vitimizar, sabe. É, de certa forma, uma maneira de se fazer presente, de mostrar que está aqui. E também vem dela... É bom ser cuidada pelas pessoas.
Mas Luciana tem lá seu certo grau de inteligência, é justa na medida do possível, acredita na sutileza e nos X-men e faz um macarrão com calabresa que você nunca comerá melhor.
Sabe, Lu. Luzinha. Você é uma pessoa ímpar, mas não é ímpar como todas as outras. Você sabe fazer da sua dor um canto pra se fazer o riso, você sabe renascer todos os dias, você gosta dos outros mais do que a si mesma. Você é meio mongolóide, sabe... Mas eu tenho orgulho de você.

Essa é Luciana de Castro, Lu, Luci ou Lua. Chame como quiser.

19.7.09

Keep Strong

Dessa vez as lágrimas não saíram tão facilmente, por mais que eu forçasse elas teimaram em não rolar. Não que eu tenha ficado fria ou deixado de lado tudo aquilo que eu planejava para mim, só acho que eu cresci um pouco. Aprendi a canalizar as coisas, a fingir que elas não me atingem. Você deveria fazer isso também.
Engraçado é que o que vem pra mim, volta e atinge as outras pessoas. Terrível não poder dizer nada, eu seria mal interpretada. Mas você sabe, eu sinto muito. Se não deu certo, faça como eu. Acho que esperar não nos custa nada, eu tenho esperado há 2 anos e 3 meses e colhi poucos frutos mofados disso, mas ainda tinham sabor.
É melhor que você não deixe de acreditar no que tem dentro do peito, é bom que você nunca perca a vontade de amar porque se isso ocorrer, temos um problema grande.
Dói saber que não surto efeito na sua vida, mas sei que há quem faça. E você deve erguer a cabeça e fazer esse coração magoado fingir que compreende. Porque o amor não é justo. O amor é pior que o ódio, porque não cega, é a própria cegueira.
Enfim, já te pedi várias vezes... Seja feliz. Permita-se amar. Se precisar de mim, sabe que estarei disposta a dar um colo pra ser chorado. Sabe que me manterei firme por você. Sabe, não é? Eu estou aqui, eu sempre estarei aqui. Não só por você, por mim, por todos. Faça o mesmo. Mantenha-se firme, acredite no amor, na sua capacidade de amar, acredite na reciprocidade. Seja cego.

16.7.09

Eu tô tentando

É mais difícil do que eu imaginava ser, mas eu tô tentando de verdade, pela primeira vez.
A gente tem que engolir algumas coisas a seco, fingir que não tá vendo e rir como se fosse piada. E, acredite, é complicado ver graça na dor, ainda mais na sua própria dor.
Não sei, é comum eu ser egoísta, mas eu merecia um pouco de felicidade, um pouco de milagre na minha vida... Eu acho que mereço, sabe?
O que eu passo é coisa que pouca gente vai passar, talvez seja um privilégio meu conhecer esse tipo forte de sentimento - forte é apelido - mas vem como bônus passar tanto sofrimento, tanto teste psicológico.
Eu tô tentando fingir, além de tudo, que meu cérebro tá intacto, tá sadio. Mas não tá, não tá mesmo. Eu me contradigo de segundo em segundo e isso dói em mim, dói nas pessoas.
Eu tô tentando parar de ser confusa, mas tá sendo meio foda.

14.7.09

Elaine

Querida, você está dormindo e eu estou aqui no computador como sempre. Tá aquele frio que você reclama trezentas vezes seguidas e fica enchendo o meu saco.
Desde ontem pensei que era necessário te escrever algumas coisas devido a sua importância em minha vida. Claro que não escolhi ter você nela, mas foi uma escolha sábia tomada por alguém mais sábio ainda.
Eu realmente odeio quando você critica em mim algum defeito gritante seu (você faz isso sempre), quando você não me empresta um real ou uma bolsa velha sendo que usou meu rímel, meu lenço e meu blush. Eu também odeio quando você fala pó ao invés de blush porque você faz por querer! Odeio quando você me dá conselhos óbvios, quando você dirige rápido demais, quando fala que passou na UEM e eu não, quando tem ataques hipocondríacos, quando você me talaricava, quando você briga comigo por eu ter feito alguma coisa que eu acredito ser boa e acaba não sendo - tipo trancar a porta do fundo e ir tomar banho e você querer entrar, quando você não vem ver alguma foto no pc que eu quero te mostrar - vale pra televisão também, quando você fala que não consegue acordar depois das nove (consegue sim)...
Mas eu gosto quando a gente chega rindo da faculdade, gosto quando você me defende mesmo sem querer, gosto de te ver com ódio por mim, gosto do seu faro aguçado e da sua falta de medo para abandonar as coisas. Gosto do jeito que você trata as pessoas desconhecidas, gosto do seu respeito por mim, gosto de ter que dividir as coisas com você, gosto do jeito que você se veste (mesmo você passando blush demais), gosto de ver filme com você (mesmo você errando váaarias vezes na escolha), gosto - ou gostava - da época natalina no centro da cidade, gosto de corrigir seus erros de gramática, gosto de rir do seu nome e do seu tombo na descida do Glorinha, gosto da sua cara de cu sem igual, gosto quando você conta a mesma história pela 121067° vez, do jeito horrível que você chora, de dizer que suas doenças são psicológicas, de você xingar o palavrão mais sujo quando deixa cair um lenço e gosto da sua presença todos os dias perto de mim.
Eu não sei o porquê dessa nostalgia... Deve ser a saudade das pessoas eternas que foram embora... Você ficou e vai sempre ficar, porque eu quero ir antes de você pra não precisar te dar tchau.
Você é a pau no cu mais legal que existe, eu me orgulho de te conhecer e poder dizer que você é REALMENTE a minha irmã. A teacher Elaine que leva um Castro meu no final.

Abstenho-me de certas palavras, você sabe.