21.12.11

I

Elástica, cinza, volátil, porosa, grudenta, feia, disforme, faminta, sedenta, imensa, frágil, esquisita, medonha, assustadora, desprezível, vulgar, banal, inútil, complexa, solitária, cai em pedaços, desmancha, fica num canto, arrasta-se silenciosamente, contagia, mata, estrangula, sufoca, morre e esquece.

5.12.11

05 de novembro

Eu ainda não consegui escrever de forma longa e detalhada o que aconteceu naquele dia 05 de novembro. Por mais que hoje faça exatamente um mês que tudo aconteceu, as coisas ainda permanecem vivas num silêncio de quem não quer perturbar a própria paz. Tudo o que aconteceu ainda acontece todos os dias num canto escondido da minha mente, das minhas emoções. Tudo ainda existe e sempre vai existir de forma inconsciente e pura, mágica. Sem maiores explicações.
Consigo me recordar de cada segundo. De quando dormi, das pessoas inconvenientes, de cada segundo de dor, dos pés inchados, da sede, do calor infernal, da vontade de desmaiar. Lembro de não sentir fome, das quase 24 horas sem fazer xixi. Lembro das pessoas, do halls de minuto em minuto, lembro daquele medo absurdo de quando eles entrassem no palco e eu não saberia o que fazer. Como eu reagiria?
Foram horas, horas e horas. Muitas horas. De bandas boas, não tão boas, de bandas horríveis. Foram 9 horas. Em pé, com calor, com mochila pesada, com necessidade real e dolorosa de sentar e esticar as pernas. Foram mais de 30 minutos de palco vazio esperando aquele que deve ter sido o momento mais lindo da minha vida. Porque aí a gente tá lá achando que vai gritar, sei lá, quando o Julian, o Julian Casablancas, ele que salvou a sua vida adolescente nada agradável, entrar. Você vai achar legal e talvez você vá chorar. Mas daí ele entra de verdade, ele sorri, ele é meio tímido e ele é lindo. Ele é ainda mais lindo do que você esperava. E doce, educado, meigo. Ele começa NYCC e você não entende mais nada. Eu não entendi mais nada. O meu corpo seguiu um movimento vertical que a massa atrás de mim fazia de maneira coordenada. As pessoas gritavam as letras das músicas e eu gritava também. Eu cantava olhando para ele porque dá aquela inocente sensação de que ele vai te chamar pro palco e você vai embora com eles depois do show.
Eu não conseguia tirar os olhos do Julian porque é meio que inacreditável. Aquela pessoa que escreveu suas letras favoritas, que já foi seu namorado imaginário, o primeiro deles, que você veste em camisetas, que você guarda em fotos. É bonito e triste ao mesmo tempo, é... Inacreditável. Eu não sabia onde começava o choro e o riso, sozinha, na grade, com as dores indo embora, a mente se esvaziando...
Foi o maior momento de paz que eu já tive na minha vida. Aquela sensação de que isso tudo vai valer a pena, sabe? Eles sempre me deram essa noção, mas naquele dia 05 foi muito maior. Era como se eles me dissessem que tudo ia ficar bem.
Até entendo que esse texto soe como fanático e bastante desconexo. Mas é a primeira tentativa de transcrever tudo o que eu senti há um mês atrás. Não me interessa se pareço infantil ou ridícula, agradeço aos cinco meninos por ter resistido a tantos momentos ruins ao longo dos meus depressivos anos da adolescência. Por ter me ajudado a suportar as tristezas pelas quais passei e passo, por ter as palavras exatas e delicadas que ninguém foi capaz de me dizer em todas as vezes que precisei. Eles são meus melhores amigos e esse show, esse dia, foi o melhor da minha vida. Obrigada.

1.11.11

Problema

Atualmente as coisas na minha vida andam correndo perigo. Eu já não me importo mais com elas, não me importo com quase nada, com ninguém. Eu não dou a mínima, eu não dou moral, eu não ligo para o que está acontecendo. Aliás, o que está acontecendo comigo?

20.8.11

A melhor vida do mundo

Provavelmente você nunca leu um texto igual a esse por aqui. Provavelmente você nunca leu texto algum que eu escrevi, mas é importante que você leia esse, somente esse. Não passe o mouse pela aba de textos anteriores, não busque o meu passado de anos atrás, não leia a postagem abaixo. Leia essa que segue. Leia sobre a melhor vida do mundo.

Acredito que quem me conhece, e nem precisa ser tão profundamente, sabe da minha doença - chamo assim - nomeada pelo Woody Allen como "insatisfação crônica". Meus amigos sabem que é preciso cair um meteoro no meio do meu quintal pra eu conseguir ter algum tipo de entusiasmo, surpresa. Pra eu me movimentar. Caso contrário, não sou muito de me divertir. Eu saio, bebo, uso coisas, gosto de tudo. Mas eu sempre cismo com algo, me decepciono, magoo, reclamo. É como se nada me animasse tanto quanto anima as outras pessoas, como se eu assistisse a minha vida passando e não achasse graça em quase nada.
Aí hoje eu estava voltando de Londrina com meus amigos e o céu tinha quatros aspectos diferentes: uma parte nublada, uma meio roxa, uma com o crepúsculo chegando e outra ensolarada, azul clarinha. Eu fiquei pensando em como a natureza pode deixar esse tipo de coisa acontecer, como o céu pode ser tão grande, tão imenso, que comporta vários céus dentro dele mesmo. E de um lado chove e do outro anoitece, de um lado faz sol e do outro enche de nuvens pretas. Isso é tudo tão grande, é tão maior que a minha vida e que a de todos nós, que me fez pensar mais uma vez, só mais uma, se as coisas são tão "desempolgantes" como eu vejo. Parei para fazer um balanço de quem sou eu, de quem me tornei nos últimos meses.
Eu estagio numa Ong do meio ambiente, lá dentro as pessoas me dizem coisas que eu jamais pensei, elas confiam em mim, no meu trabalho e me levam para lugares que nunca imaginei que veria de perto. Eu trabalho num lugar onde as coisas acontecem, onde as pessoas protestam, agem, mudam, onde as pessoas são de verdade. Eu, sem querer parecer arrogante, ajudo a mudar a ordem das coisas, contribuo um pouquinho pra esse mundo e vejo as pessoas fazerem isso o tempo todo. Depois disso eu faço um curso que é meio chato, todo cagado, cheio de gente diferente de mim, mas que me deu vários presentes ao longo desses quase 3 anos. Percebo que ganhei algumas pessoas fazendo jornalismo, descobri que talvez não seja essa a profissão que eu quero pra minha vida e descobri também que muitos que estão ali deveriam ter essa mesma consciência que já adquiri. Nesse curso também vi coisas horríveis, fui julgada centenas de vezes, hostilizada por ser quem sou - até por fora - fui ofendida. Também ofendi, fui preconceituosa, arrumei briga. Escolhi pessoas erradas, fui covarde. Aí tentei reparar os erros, acertei em quase todas as minhas investidas, fui compreendida melhor, me redimi. Hoje ajudo em aulas de radiojornalismo, tenho calouros muito queridos e inteligentes que me deixam muito feliz ao acreditarem em mim.
Foi nesse curso que também conheci meu namorado, que também é conhecido como o amor da minha vida. Ele que tem uma paciência sobre-humana, um carinho tão macio e um jeito tão peculiar e franco de ser. Que faz os dias serem menos doloridos, os fins de semana serem tão esperados e as aulas de todos os dias um pouco menos insuportáveis.
Além desse amor, também tenho pai, mãe e irmã que me ajudam em tudo, que fazem o impossível pra eu ter tudo o que tenho, que me amam acima de qualquer defeito, que me ensinaram - e ensinam - lições tão bonitas de honestidade, hombridade e perseverança. São três pessoas que construíram o meu caráter, pelo menos a parte boa dele, pessoas que só me trazem coisas boas, que só me acrescentam, me nutrem.
E eu também moro com uma das pessoas mais incríveis do mundo, uma amiga tão sincera, feliz, leve, que enxerga a vida com olhos tão livres, tão dóceis, que gosta de tudo o que acontece, vê pontos positivos em tudo o que outra pessoa criticaria. Uma pessoa tão pura que parece ser alada, parece flutuar, sonhar acordada.
Eu sou um pouco inteligente e arrogante e prepotente também. Sou sincera, apesar de também ser bastante omissa. Tento conviver bem com as pessoas, me esforço pra entender as diferenças entre todos, amo demais quem me faz bem. Não sou dessas que têm vaidade e também não me enquadro nem um pouquinho no "padrão de beleza atual". Eu ainda sofro muito com ansiedade, odeio hipocondríacos, não sei se acredito em deus, não consigo lembrar de tomar qualquer remédio e sou viciada em coca-cola zero. Mas agora eu sou mais independente, mais viva, sou capaz de mudar as coisas e não deposito em ninguém o fardo de me fazer feliz - também não aceito ser tutora de ninguém. Agora eu tomei as rédeas da minha vida e estou exatamente aonde eu preciso estar. Essa é a minha nova vida, a melhor vida do mundo.

22.7.11

Sem título

Pequena, voei. Mesmo pesada, mesmo encharcada, mesmo morrendo de medo, voei. Achei meu recanto seguro, meu ninho mofado, um novo lar. Fui embora de um lugar que nunca pertenci e quase repudio hoje aquilo que um dia amei. Voei e gostei da vista que tive, perdi o medo de altura, ganhei forças para chegar mais alto. E caí, dei de cara com o chão, comi poeira. E como, todos os dias. Inalei fumaça, engoli lágrimas, mordi a própria carne. Fui perdendo a força nos braços, o brilho nos olhos, o ânimo. A vertigem voltou e a tristeza derruba a cabeça contra um dos ombros como fazia antes. O passado assombra como se voltasse dizendo "venha, covarde, venha viver uma vida que não é tua outra vez". Até quando eu vou viver assim, mais ou menos, conformada, amarela. Triste? - pensei. E eis que no meio dos escombros de meus medos, uma força, a velha esperança, que me pegou pela mão tantas vezes, salvou do poço e do precipício, fez subir montanhas, agarrou-me. Dessa vez me pegou pelas asas, me jogou do alto e voei. Voei de novo, planei por horas e horas. Embaixo de mim as coisas foram ficando menores e se encaixando com mais nitidez. Uni tudo como num tabuleiro. Faltou só uma peça, uma bem grande. Com apêndices para todos lados. Sei onde está e chega a hora certa de encaixá-la para poder voar de novo, pra bem longe, respirar novos ares. Tentar ser feliz mais uma vez. Só mais essa vez.

11.7.11

A Onda

Sinto como uma onda, condenada a uma vida medíocre, na eterna rotina de bater na rocha e dela nada extrair. De tentar beijar a areia e ser sugada. Fecunda, carrega, movimenta, mas nunca sai do lugar. Sinto a efemeridade de ser onda, de morrer sem que ninguém lembre de mim. Sinto a tristeza da onda em seu eterno medo de invadir a praia, avançar. Sinto a solidão da onda que nada é senão mais uma entre tantas outras que sempre existiram. Sinto o medo da onda em ferir as pessoas, em machucá-las sem ter intenção. Sinto a fúria da onda quando arrasta o que vê pela frente e devora, engole, desaparece, aquilo que bem desejar. Sinto o silêncio da onda que sofre sozinha, se quebra e desaparece sem soltar uma lágrima. Sinto o sal do mar queimando meu sangue, corroendo minha pele, ardendo os olhos. Sinto o sufoco, me afogo e morro, irrelevante e fugás, como uma onda.

4.7.11

Bela

Lembro exatamente do dia que a conheci. Uma jaqueta bonita, um pouquinho acanhada. Teve que repetir o nome umas 3 vezes, não tenho facilidade em compreender nomes na primeira ouvida. Mas aí já decorei.
Entre esse contato inicial e o segundo eu já não sei quantos dias passaram, mas foram alguns. Aí eu já sabia bastante sobre ela, sobre o jeito inteligente e simpático que explica as coisas usando as palmas das mãos. E olha a gente dentro do olho enquanto fala de ideias, de coisas que existem. Nesse momento eu já dava oi, beijo, tchau, como é que vai?
Os casacos foram ficando ainda mais bonitos com o tempo e o sorriso também. Compreendeu minhas grosserias e durezas, achou algo bom nisso. Ganhou uma admiradora pela generosidade que usa para entender os seres humanos.
Fez textos bonitos, escreveu palavras daquelas que a gente pensa "poxa, eu queria ter escrevido isso" e causou sorrisos, lágrimas. Lá do outro lado, sem saber, falando dela e falando de mim sem saber. Os medos dela às vezes parecem os meus. A forma pela qual agradece o mundo reúne o que eu queria poder dizer mas não consigo, me trava na ponta dos dedos ou da língua. Escreve o que o egoísmo me bloqueia.
Escrevo agora para agradecer pela sua simpatia, inteligência e pela capacidade de falar coisas que eu preciso ler. Escrevo para deixar explícita a minha admiração pela pessoa e escritora que você é. E pra dizer que as portas estão sempre abertas aqui do lado de cá. Escrevo só isso porque é o que me veio agora na cabeça. Escrevo porque você é bela, Isabela.

18.6.11

and always will

Faz tempo não escrevo com o coração. Como quando eu tinha um amor platônico e a dor machucava até sangrar. Parece que fui ficando apática com o tempo, seca, sem vida. Reconheço que sempre fui egoísta, mas agora me encontro num nível profundo de indiferença onde só me preocupo com algo se me atingir diretamente no meio da face.
Nesse meio tempo - onde fiquei sem escrever de verdade - morreram muitas pessoas. Acabou meu emprego, mudei de ano, perdi amigos, afastei-me de outros, virei uma péssima namorada e uma filha relapsa. Ocupei todo o meu tempo com nada e a sucessão dos meus dias não tem graça alguma. Esses dias chorei assistindo House. No episódio, um ganhador de 40 e poucos milhões de dólares da mega-sena tinha descoberto que possuía 3 diferentes tipos de câncer. Aí ele disse bem assim: My life sucks, and always will. Me pegou em cheio, cutucou o estômago. É difícil você ter a lucidez suficiente para entender que sua vida é uma merda, sempre foi, está piorando e sempre vai ser assim. Difícil também aceitar que você está exatamente aonde não queria estar, que está fazendo as pessoas ao seu redor sofrerem e está... enlouquecendo.
Não sei mais o que eu espero das coisas, não sei o que eu quero. Só sei que está tudo errado. Minha cabeça dói o tempo todo, cansei de lutar contra os meus piores ímpetos e não sinto prazer em nada. Não faço amigos, guardo rancores, deixei de estar presente. Planejo mudanças que só ficam no pensamento e por uma série de motivos não saem dele.
Está tão difícil, tão confuso. Já virou uma ladaínha e eu sei que nada no mundo vai mudar o ser humano horrível que me tornei. Eu só precisava desabafar.

28.4.11

Morte

Parece mentira que uma família perde um sobrinho e um irmão, ou um primo e um tio, ou um neto e um filho, em menos de 3 meses. Parece mentira que um morreu de câncer e outro de hepatite. Mas não é. E acontece pior. Tem família que morre todinha num incêndio catastrófico e não sobra nem pó pra contar história. É assim.
Eu não conheci meu sogro. Gostaria muito de ter conversado com ele e visto aquele rosto tão lindo de perto. Mas não pude. Perdi meu primo mais bonito e o meu tio que também era conhecido como meu padrinho. Ontem à noite, menos de 5 meses depois do último velório, fico sabendo que a Vó Josepha - é com PH mesmo - está internada. E a coisa tá feia. Dessa vez a dor foi estranha porque ninguém tava esperando. Porque "essa veínha é forte" e um dia ela cai, sem mais nem porquê, e a gente fica aí, perdido, atônito.
Eu sinceramente não aceito a morte. E não há papo cristão que me convença das coisas. Não tem essa de "eles vão pra um lugar melhor" e "calma que ela vai sarar". Nesses últimos meses ninguém sarou de nada. Todo mundo morreu. E eu já começo a encarar com uma falsa frieza as coisas que tem acontecido.
As pessoas definham, morrem sem precisar morrer e a gente fica aqui cheio de culpa, tristeza e encharcado de choro. A morte é mais egoísta que eu e me bota um terror tão grande que chego a perder a vontade de viver. Chego a querer morrer. A morte é ruim, traiçoeira, não faz sentido, chega quando não deve, vitimiza. E eu tô cansada dela estar me rondando, me tirando querida. E não adianta eu me fazer de forte e otimista e acreditar que minha vó tão querida e amada, amada mesmo, vai sair andando daquele hospital hoje mesmo e tudo vai ser o mesmo de sempre. Todo mundo morre. E todo mundo que fica doente tá morrendo aqui perto de mim. Eu queria acreditar de novo na vida e na força que ela tem, mas não tá dando.
Eu tô preparando o meu espírito pra tirar uns dias de folga do estágio e da faculdade pra encarara morte de novo. Pra ver ela deitada ali na nossa frente e vagar os corredores frios da capela mortuária da minha cidade. Pra ver ela ardendo os olhos da gente e cutucando com ferro quente o meio do peito. Tô me preparando pra toda essa dor de novo e dessa vez vai ser a mais dolorida. Porque eu sou próxima da minha avó, porque eu sou a cara dela, porque ela era forte e ia enterrar todos nós, porque meu pai não merece perder a mãe, porque a casinha dela vai deixar de existir, porque ela tava brava comigo porque eu não ia lá há tanto tempo. Porque eu a amo, só isso.

22.4.11

A reason to live

Gimme a reason to live, eu sonhei que dizia isso bem alto no meio da rua, bêbada, flagelada.
E é bem o que anda acontecendo, sabe? But I don't got a reason e isso é foda. É claro que eu tenho o namorado mais lindo do mundo e o mais cheiroso também. Claro que eu tenho um estágio bacana e uns amigos muito legais. Só que alguma coisa acordou dentro de mim bastante inquieta, fica me devorando. Where's the reason? Dunno.
Às vezes acho que o que me fode é a falta de grana. Porque não adianta muito ter vontade antes que o primeiro salário chegue. Não adianta querer voar se você está com as asas coladas. A vontade que tenho é de sair correndo, gritando, rasgando a roupa no meio da rua. Mas para onde?
É quase uma neura adolescente que ando tendo, que sempre tive e agora está mais forte. Dinheiro me empatando, preguiça, medo. Solidão. Não gosto das coisas como estão e sou impotente demais para resolvê-las. Aí o que me resta é afogar num único abraço e viver nessa letargia eterna, sem meio nem fim.
Difícil explicar isso para vocês, mas tá bem foda. Sempre fui uma pessoa descontente, reconheço. Mas tenho medo do que isso tem me causado ultimamente. Andei melhorando meu relacionamento com as pessoas, reciclando o meu bom humor, afinal, ninguém tem nada a ver com a minha insatisfação crônica - valeu, Woody Allen! - e tal. Mas a ordem das coisas ainda está errada e eu preciso mudar isso tudo. Preciso recomeçar and be happy, sabe?
Esse feriado-e-fim-de-semana as coisas vão ser um pouco diferentes e eu espero entender outras coisas que ando meio em dúvida.
Por enquanto I'm searching for a reason e vou tentar manter o controle.

7.4.11

Um tipo de gente

Do tipo de gente que sempre faz tudo errado querendo algum bom resultado que na hora parece coerente mas não é. Do tipo de gente delicadamente impetuosa que mete os pés pelas mãos por causa de sua imensa língua.
Do tipo de gente que fala mais do que deveria e não deveria falar nada. Do tipo de gente que sempre se arrepende de tentar consertar as coisas porque o que sabe fazer de melhor é estragá-las.
Do tipo de gente que sempre faz merda e ao invés de assumir, bola planos de como se safar se for descoberta. Do tipo de gente que nem faz por mal, mas também nem faz por bem.
Do tipo de gente que tem ojeriza de ser um "tadinho" e acha mesmo é que é desastrado, só isso. Do tipo de gente que tem tudo sob controle mas gosta mesmo é de sofrer.
Do tipo de gente que está aqui pensando nas consequências de ser como é mas que tem o peito blindado e a mente preparada. Do tipo de gente que erra o tempo todo mas não tem medo de recomeçar.

27.3.11

Hedonista

Sei lá, ando meio que querendo viver a vida dos outros. Essa felicidade que eles vendem.
Não que eu tenha do que reclamar ultimamente, muito pelo contrário. Mesmo assim é ingrato todo esse sentimento de insatisfação que me ocorre.
O corpo que não tenho, a cultura que não possuo, um corte de cabelo diferente e umas roupas menos sem graça. Queria poder me integrar mais às coisas, ser menos rasa.
Tem esses fins de semana, eu e ele, e as nossas tardes altamente hedonistas que me fazem crer que a vida que eu sempre quis chegou. Aí chega segunda-feira e já é dia de branco. E o dinheiro falta mesmo, o banco avisou. Eu continuo uma pessoa preguiçosa e com muitos, muitos quilogramas a mais.
Talvez eu tenha perdido o gosto das coisas fora desse esquema comer - dormir - você-sabe-o-quês. Tenha virado uma hedonista mesmo, dessas que não sabe ser feliz sem ser com altas doses de insanidade e hormônios. Sabia que faz mal? Porque já gostei de escrever, gostei de ser útil. Gostava de fazer versinhos pelas folhas de caderno à parte, gostava de fazer longos textos pros amigos queridos. De repente me cansei de tudo, dessa falação toda. Desse te amo a todo momento pra todo mundo.
Eu acho que estou entrando numa nova fase, sabe? Descobrindo o que realmente gosto e o que eu quero longe de mim. Tenho traçado novas metas, confesso, bem mais modestas. Tenho me aproximado de uma calmaria que eu nunca havia gostado antes. Do silêncio, do confortável. Continuo, dentre poucas coisas, romântica. Dramática, explosiva, teimosa, autoritária. Reflexiva, articulada, interessada, capaz. Só que agora eu defini muito bem uma coisa que eu havia demorado a entender: eu me amo. E me amando mudei muita coisa. Só que ainda tem bastante coisa pra mudar.

7.3.11

Nova

Vou contar pra vocês, me tornar uma pessoa melhor tem sido mais fácil que emagrecer. Eu fiz uns, sei lá, trinta regimes emagrecedores até hoje. Nutricionistas, endocrinologistas, exorcistas, seitas xiitas. Tudo. Nada que não me fizesse encontrar rapidamente os poucos quilogramas que perdia me privando meses do pecado mais nobre de todos: a gula.
Mas eu nunca havia sentado comigo mesma e decidido: hoje eu vou me reconstruir. Aí eu cheguei num lugar e, de repente, todo um vão se abriu. Ao meu redor, poucos. Uns dois ois, vários deboches, risadinhas, ofensas. Culpa minha, só minha. Da arrogância, infantilidade. Escolhas erradas, tantas delas. Num lapso de pensamento somado à duas canecas de cerveja, decidi que ali era o recomeço da minha vida. Falei com quase dez pessoas, resolvi cem pendências. Eu rasguei meu peito e mostrei o que havia dentro, sem querer ser tão dramática - mas já sendo. Pessoas que eu não gostava e comecei a gostar, pessoas que eu gostava e que não gostavam mais de mim, pessoas que não havia tido tempo de gostar. Agora todas elas ali, vivas, sorrindo pra mim, me abraçando, aceitando uma segunda chance que, acho, mereci. Revestida de humildade e uma coragem que eu nunca tive, pedi desculpas. Muitas delas. Recomecei.
E recomeçando comecei a falar com as pessoas, a cumprimentá-las sem medo. Exercitei uma simpatia que eu não sabia que eu tinha, uma felicidade diferente, a alegria de ser bem quisto. E daí colhi frutos: sorrisos, cumprimentos, cervejas, recados, estágio. Sabe que acredito que tudo é uma questão de merecimento? Fechei janelas, abriram-se portas. O vento agora bate numa face mais doce e serena, mais justa e sem medo de errar. A cada dia venço um podre que carrego em mim. O remédio mata a ansiedade, a mente mata a impulsividade, o amor me bota os pés no chão, o coração em euforia e a cabeça nas nuvens. É um novo tempo que começou e eu estou pronta para o que der e vier.
A próxima meta é emagrecer. Será que devo tentar hipnose?

9.2.11

Doendo

Pode parecer mais um dos meus dramas mas dessa vez não é. Não tem sido drama há tantos dias, tem sido sempre verdade. E essa verdade agora tá doendo muito, tá consumindo mesmo. A minha vontade é, sei lá, entrar num coma profundo e esquecer que tudo isso tá acontecendo com a gente, comigo. Porque, sabe, em mim moram a borboleta e o beija-flor, em mim moram a imaginação fértil igual de criança que sonha com coisas impossíveis. Em mim moram a chorona e a comilona, a engraçada e a desesperada. Essas tantas que conheceu de perto.
Mas há dois dias virei medo, morte. Eu não tô aguentando, tô doente. Me arrasto da sala pro quarto, do quarto pro banheiro. E dói o tempo todo o corpo, mais ainda o coração. Dói uma vontade tão muda de gritar que já entendi, que tô sofrendo de verdade, que meu choro queima a pele quando rola quente e ácida. Tá doendo demais mesmo, de dentro pra fora, incendeia meu corpo inteirinho.
Será que eu sou tão ruim assim que o silêncio tem de ser meu único companheiro agora? Dói muito e eu não mereço tanta dor. A saudade e o medo em mim dançam de mãos dadas. Eu sou tão ansiosa. Respeito a sua mágoa, mas e a minha? Tô magoada por ser eu mesma, pelas coisas. Porque não para de doer um segundo sequer. Eu quero estar perto, sabe? Eu quero presença de novo. Eu quero isso ou sumir. Quero a paz de volta ou morrer. Porque essa dor tá acabando comigo. Me olho no espelho e só vejo olheiras e palidez. Tá doendo. Tá doendo demais.

Carta de uma doente terminal - ou quase

Olá, ansiedade. Esse texto é para você.
Hoje eu queria te pedir novamente minhas noites de sono. Além disso, queria que devolvesse a normalidade da pressão sanguínea do meu corpo e em troca deixo que leve minhas olheiras tão profundas. Eu gostaria, mais que qualquer outra coisa, que me respondesse algumas questões. Pode ser?
Lá vai a primeira delas: com tantos corpos por aí, mais bonitos, magros, fortes e bronzeados que o meu, por que habitar logo a mim? Por que você precisa se hospedar aqui e sentir-se dona de todas as minhas forças, inclusive da minha dignidade? Também quero saber quem é que deixou você trazer junto de si a tristeza, a dor, o mau humor e essa cambada de enfermidades. Quem foi?
Olha, ansiedade, essa nossa parceria não tem dado certo. Você sabe que está por aqui desde a minha infância. Você me fez comer compulsivamente a vida toda, fez com que eu roesse as unhas, escrevesse tantos textos, desejasse morrer por tantas vezes. Já não é o bastante? Por que eu não posso gostar de você como todos fazem: "ai, tô tão ansiosa por algo", elas dizem. Mas eu não posso dizer que estou ansiosa por nada. Eu sou ansiosa. E o que é um sentimento picante, eufórico, que a gente deixa suar o corpo todinho na espera de alguma coisa, para mim é uma doença, uma onda de calor infernal que sobe o corpo todo, incendeia o cérebro e me fere a carne com o efeito de um milhão de agulhas. Dez milhões. Cem bilhões.
Eu não te aguento mais, não te suporto mais. É vida ou morte. Não tem remédio que te tire daqui, nem toneladas de doces e calorias, nem dormir a manhã toda. Nem droga na veia. Saia daqui, por favor. Saia da minha vida. Você se lembra que me fez desistir de tantas coisas, que me fez chorar por medo incontáveis vezes, que me arrebenta o estômago e faz com que meu relacionamento com as pessoas seja a cada dia pior. Sabe que por sua causa eu me sinto uma esquizofrênica, assustada o tempo todo por talvez, sei lá, ser mesmo uma doente mental. Você fez isso comigo?
Vá embora e feche a porta, minha querida. Por favor! Já me fez alucinar tantos desastres, imaginar tantas mortes, sofrer por acontecimentos impossíveis. Suma daqui, vá procurar outra morada enquanto há tempo. Fica um aviso para você: se você me tirar do sério mais uma vez, dou fim a nós duas, senhoria e inquilino. Deixe-me em paz.

3.2.11

Wishlist

Não quero mais ser polida porque isso não é coisa minha, não quero mais terminar emails com "obrigada pela atenção" porque eu nunca agradeço a atenção de ninguém. Eu não quero, nem de longe, parecer meiga e também não quero ter vergonha de usar as minhas roupas ridículas de anos anteriores por medo da censura das pessoas. Não quero mais pensar duas vezes antes de reclamar de algo porque eu preciso reclamar das coisas, é minha forma de superá-las. Não quero mais sentir dó porque ninguém que me cerca merece esse sentimento horrível e covarde. Não quero dever nada a ninguém, as pessoas me fazem favores porque assim quiseram. Não quero ser ameaçada por pressões psicológicas, ofensas públicas e egos fragilizados. Não quero mais shows caros de bandas que não conheço. Não quero mais perder vestidos. Não quero mais blablablá na minha orelha sobre futilidades fantasiosas que não me interessam. Não quero gente dementinha me enchendo o saco sobre justiça, amizade e problemas psicológicos. Não quero calouro me chamado de veterana e se chamar de "vet" as consequências serão ainda piores. Não quero mais Heineken. Não quero ter que pagar 12 reais pra entrar no Valentino e também não quero pisar naqueles cinzeiros gigantes que ficam no chão do fumódromo. Não quero perder tempo com internet. Não quero mais passar madrugadas em claro sem fazer nada.
Quero mais madrugadas cheias de aventura. Quero mais camisetas, sapatilhas, vestidos, canecas, incensos, bolsas e imãs de painel. Quero que aumentem as assinaturas na minha parede e os rabiscos sobre a minha pele. Quero um lugar novo para por um piercing. Quero estudar mais, entender mais, produzir no curso, no estágio. Quero gente bonita, feliz e compreensiva do meu lado. Quero gente que não use perfume muito doce. Quero perder peso e ganhar mais neurônios. Quero meu namorado todos os dias por pelo menos uma hora, quero longos telefonemas dele, quero um ano de namoro e 20 anos de idade comemorados no Vitrola ou numa festa de república. Quero fotos espontâneas, pessoas novas, cerveja gelada e longas risadas. Quero dinheiro, superfluidade material, sentimentos vivos e sinceros e bebês gordinhos no meu colo. Quero conseguir dizer não sem inventar mentiras. Quero Rita Lee no Demosul e Terra Celta em qualquer lugar. Quero álbum novo e show dos Strokes. Quero felicidade, prazer, insanidade, cansaço, loucura, inspiração. Quero escrever mais, todos os dias, sempre. Quero viver de verdade.

28.1.11

Você não pensou que eu fosse esquecer, né?


Hoje é o novo dia de um novo tempo que começou. Hoje os nossos sonhos serão verdade porque o futuro já começou: é dia de anos, de anos do Thiago Guimarães, vulgo Beure, conhecido ~internacionalmente~ como @oraporra. Hoje é também aniversário de Apucarana, minha cidade natal, e devido a esse fato maravilhoso é decretado feriado municipal. Prefiro acreditar que é em homenagem ao Beuroca. Bom, conheci o Beure em 2006 numa comunidade de tiopês (hummm que modernos). E, embora eu tivesse 14 anos na época, ele sempre foi esse lindo que é e a gente se *apaixonou* bem rápido e gostoso. O Beure me viu crescer praticamente, acompanhou os meus DRAMAS DA ADOLESCÊNCIA, me viu digivoluir de Luciana para Lusi, de Lusi para Luci, de Luci para Dulce, de RS, Enfim, de meninota para essa vaca véia que eu me tornei hoje em dia.
Passei muita coisa boa com o Beuroca, muita mesmo. Rimos muito de tudo e de todos, principalmente do jeito como ele conta as coisas - é sério, às vezes ele
conta uma coisa triste e você acaba rindo porque NÃO TEM OUTRO JEITO - e conhecemos muito da vida um do outro. Nos conhecemos pessoalmente em Londrina em abril de 2009, quase dois anos, e eu espero que ele pegue as malinhas nordestinas dele e venha passar umas férias na minha casinha nova porque a vontade de tê-lo por perto é imensa e constante.
Ando meio ruim com as palavras, neno, mas esse texto é para te dar os mil beijos e sete bilhões de abraços que você merece pelo seu aniversário e por ser quem você é. Pelo seu bom humor, sua inteligência, fofura, lindeza e por me fazer ouvir qualquer nordestino falando e dizer: nossa, parece o Beure. Por me fazer ver uns ócludos na balada e sempre
pensar comigo que parecem com você, por me fazer repassar as suas piadas para vida ~real e contar que é de um amigo de Recife, por fazer Pernambuco parecer ficar do lado de casa tamanha é a sua importância para mim.




Felicidades, lindo. Você REALMENTE merece tudo de bom na sua vida porque é, sem dúvida, uma das melhores pessoas que já conheci.
Eu te amo muito, viu? Muito mesmo.

25.1.11

O Cheiro

Um dia eu li por aí um negócio que me ocorreu ainda agora num desses flashes rápidos de lembrança. Li de uma menina perdidamente apaixonada que, quando ela encontrava o namorado, não adiantava tomar banho, passar cremes, perfumes, dormir, acordar e correr a Maratona de São Silvestre: o cheiro dele sempre permanecia nela. Eu achei isso muito bonito, apesar de eu não conseguir reproduzir a poeticidade com a qual ela escreveu essa declaração de amor.
Já devem fazer cinco anos que eu sequer acho essa menina pela Internet, mal tenho certeza do nome dela. Mas lembro dessa frase quase todos os dias da minha vida. Lembro porque sinto um cheiro embriagante me invadindo as narinas, tomando minhas maçãs do rosto e dançando pelos meus cabelos. Um perfume vivo de quem está por perto. E não está. Não adianta eu tentar sufocá-lo, tapar o nariz, acender incenso, incendiar a casa. O cheiro entra pelo quarto rasgando as cortinas, apossa meus ombros, me deita na cama e beija os lábios. É o cheiro do meu amor.
Cheiro refrescante de quando você me sorri mansinho, me abraça apertado e me chama de nomes cafonas que só a gente acha romântico. Cheiro pesado de quando o ciúmes nos vence, das saudades doloridas e dos desentendimentos tão irracionais. Cheiro alegre de quando a gente não consegue parar de falar do quanto se ama, se beija, se morde e ri sem parar de tanta coisa que não dá pra enumerar. Cheiro que eu sei que é seu de longe, que não sai nem trocando seu perfume, cheiro do seu corpo, do seu ser, da sua certeza, da sua felicidade. Cheiro que agora também sou eu, parte sua, carne, alma, coração. O melhor cheiro do mundo.

11.1.11

Quote

"É chato demais ver teus sonhos indo pelo ralo, ver que você vai encontrar mais problemas do que alegrias e que tua felicidade se resume a sair ileso de encrencas".



Poeta (des)conhecido.

6.1.11

Epitáfio I

Eu te imagino morrendo aos 25 anos. Achou que podia sacolejar esse dedinho petulante na cara de qualquer um. Não podia. Balançou e derramou meio litro de vinho na camisa. A mão imensa te acertou a face brutalmente, caiu no chão e chorou. Saiu correndo e ele ficou parado, gritou uma dúzia de palavrões e pediu a saideira. Você morava longe, esse foi o descuido. Foi caminhando apressadamente e olhando para trás vez em quando: imbecil, nojento, covarde. Praguejava como lhe é de costume. Mas não era um dia como todos os outros em que você achou que podia sair por aí cuspindo essa saliva fétida nas narinas das pessoas. Ele te encontrou chorando num ponto de ônibus, a meia-fina rasgada no joelho sangrento. Encostou o carro. Você, ingênua e prepotente como sempre fora, já foi emendando: não vou te perdoar. Ele te olhou dentro dos olhos e sem mirar disparou 3 balas. Pá, pá. Pá. Essa última no meio do peito, furando o broche da sua blusa. Você não teve tempo de raciocinar - o que foi bom, você nunca dominou essa arte.
Um pedreiro a encontrou na manhã daquele dia fedendo a carniça. Formigas te atacavam e um besouro beliscava a tua boca cheia de carnes. Sua família vestiu o luto e os tantos que tentaram ser seus amigos foram dar o último adeus. Você repousava imperativa no caixão, esse rosto sisudo, a cabeça enfaixada. Apareceram 4 ou 5 homens, um com câncer e outro não tem certeza se te conhecia. Duas mulheres passaram por lá, juro ter visto uma lágrima lá pelas 4 da madrugada. Coroa de flores não te mandaram. Caro demais.
No seu enterro 12 pessoas contadas nos dedos das mãos e mais duas narinas. Uma cruz azul espetada no topo, o nome escrito errado. Sua mãe colocou uma florzinha enterrada de mau jeito na terra cru de sua tumba. Era amarela como a sua vida foi. Mais tarde uma mulher trajando branco passou por lá, sussurrou umas palavras e num gesto pensado sambou em cima do seu jazigo. Amassou a flor e levou a cruz consigo. "Ninguém vai notar", pensou em voz alta.
Depois desse dia jamais ouviu-se falar de você novamente.