18.8.09

Alpiste

Eu não tenho a ambição do ser errante de ser lida e compreendida. Ah, não. Eu tenho aquela velha vontade de encontrar uma mão quando juntos as minha sobre minha face comprimindo o ar que me invade.
Às vezes me assola o triste vazio do silêncio, o fantasma da solidão. Mas eu não tenho a vaidade de querer uma vida diferente, eu só queria algum sorriso mesmo que de improviso perdido na escuridão.
Quando eu tomo banho a água escorre pelo meu corpo de uma maneira dolorosa e fria, será um problema só meu? As páginas dos livros dançam para mim, as músicas destonam por brincadeira e a televisão insiste em chiar. Parece implicância comigo.
Não entendo a sanidade daqueles que acordam cedo e conseguem se calar, não entendo como as bolsas das mulheres estão sempre tão cheias e a cabeça daqueles meninos conseguem dizer coisas tão bonitas. Eu não entendo como algumas meninas são tão mulheres e pra elas é reservado tanto amor e volúpia.
A culpa não é da minha tv errante e nem do horário que eu vou me deitar. A culpa não são os jogos imbecis que matam meu tempo, não são os livros que não li e nem os filmes que eu não sei resumir. A culpa é essa cabeça aguçada que se adapta de uma maneira distinta a cada situação. A culpa são desses tantos eus que me habitam e fazem de mim escrava das minhas próprias palavras. Se errei, foi pela boca. Muitas vezes o corpo permite mas a garganta quer que tudo se acabe.
Eu não tenho aquele desejo de ser feliz plenamente e nem vou fazer de tudo para conhecer Paris e me casar de branco. Eu só queria ter alguém que fizesse o trânsito parecer piada, alguém que colocasse as mãos sobre os meus ombros quando caminhasse comigo na rua, alguém que entendesse de loucura e juventude, alguém que cantasse o Brasil e o universo e que bebesse coca-cola na minha rapidez. Eu queria um encaixe e não precisa ser perfeito.
Mas eu também não tenho a ambição do ser sonhador de acreditar que nasci pra esse tipo de coisa. Eu sei que pra mim resta o pó, resta a dor e o sangue seco. Eu sei que poderei rir mais vezes e sentir meu corpo flutuar pelos céus. Eu vou provar do amargo e do doce por diversas vezes mas não vou chegar a não me importar com a morte.
Eu não levanto algumas bandeiras, eu minto, eu falho... Mas ajo por mim, porque estou só nessa luta. Vou me candidatar a presidente do clube dos sem explicação, daqueles que querem dizer e não sabem como, aqueles que têm tanto amor e não têm pra quem distribuir, daqueles que sentem de longe o cheiro do fracasso e acabam por se destruir.
Esse texto talvez não faça muito sentido amanhã, ou pra você. É que é um vômito luminoso dessa dor de cabeça que eu estou.
Eu não valho a pena porque não confio em mim, porque estou enlouquecendo. É tão claro notar, é tão fácil detectar a minha insanidade. Vocês se cegaram pra mim, filhas da puta.

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