9.9.09

Mocinha Curitibana

Luciana de Castro

A mocinha, com as bochechas forradas de espinhas, desce no ponto de ônibus já derrubando a alcinha da blusa, meio reclinada.
- Já tá aqui, paizinho?
De terno branco ele surge meio excitado pelo perigo e os tornozelinhos dela.
- Nessa idade, pombinha. Nessa idade!
A tipa reclina e mostra a perninha embalada pela meia-calça branca.
- Tem ninguém aqui, paizinho.
Escuro realmente estava, mas sempre havia um sapo coaxador a bendizer a sobriedade na entrada da madrugada. O santo praguejava de ódio ao medo que tinha de ser pego com a saia violeta entre os dedos.
- Tão violeta essa. Parece até amora fresca, menina! Assim você exagera.
Foi quando viu monte mais formoso subindo a colina, emocionou-se. Ao pegar pelos peitinhos tão pequenos quanto duas rosas em botão, partiu a carne ao meio e sujou os dentinhos da frente.
- Tão docinha, pombinha. Ai, assim não me aguento!
Ela chutava os sapatinhos surrados pro lado e bebia do maldito sem que ele pedisse. Devia ser sede ou algo assim, menina mais aprendida nunca se vira, rápida e inteligente, os olhinhos pretos cheios de lágrimas felizes.
- Ai, paizinho! Nessa idade que tenho!



dedicado ao Ilmo. Sr. Dalton Trevisan.

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