11.9.09

Ontem fui me deitar - não sei ao certo se foi ontem, costumo errar nesses conceitos - e já era dia. Havia passado das 7 da manhã. Gosto daquele cheiro azulado que a entrada do dia tem.
Fiquei me lembrando de quando eu acordava cedo pra ir à escola. Maldizia milhões de vezes as aulas que teria, tomava um banho pra acordar os neurônios, bebia 5 litros de café e ia muda até a escola.
A umidade do ar da manhã apucaranense sempre me fez bem. Acho que as ideias, concepções e poesias mais brilhantes que escrevi, foram absorvendo esse ar puro e geladinho.
Notei que esse ano acordei raras vezes pela manhã. Hoje, nesse dia aí que abri a janela, acordei às duas da tarde. Não tinha ninguém em casa.
Lembro que tenho amigos, família, ídolos, colegas, conhecidos, amores e objetos de estimação. Lembro que se eu morrer, algumas pessoas irão chorar e vestir preto para protestar a minha ida adiantada. Meu pai chega, Natália me liga, a Claro me manda mensagem, ligo pra Vanessa. Há sinais de vida, há pessoas me cercando. Mas eu estou só.
Eu já não inspiro mais a brisa da manhã depressiva de ir pra escola, não gosto mais de pão de queijo, não tomo leite e nem como feijão, durmo de dia e acordo de tarde, vivo à noite, converso com as mãos, abraço gente nova, canto sem embromar, choro sozinha, recito poesias vendo TV e rezo para sairem de casa e eu poder dormir em paz ainda mais.
Eu não sinto tão forte o gosto da pimenta, eu vivo à base de cafeína, faço xixi uma vez por dia e não sinto a pele macia das pessoas que mais amo. Eu sequer brigo com alguém que tenha algo real a me dizer.
É complicado entender, é complicado mudar. Eu até chego a gostar de ter essa vida meio desregrada, gosto de não ter compromisso. Mas tem ficado cada dia mais letal ver a vida passar e não ter o que fazer, não ter porquê fazer.
Talvez nem seja assim tão necessário alguma mudança, talvez seja claro o que está acontecendo.

Sonho.
Estou deitada num banco preto, todos que amo lá fora, comendo o churrasco. Estou de toalha, não consigo me mover. Alguém está nu ao lado, numa cela preta, tomando banho. Não consigo conversar, mas faço gestos. Eu vejo um rosto, sinto medo.

Estou só.

Um comentário: