17.8.09

De mim

Eu sou dourada, eu sou um herpes
Eu sou gigante, eu sou um Hércules
Eu sou o fim, eu sou buraco
Eu sou sujeira, eu sou um trapo

Ninguém se importa quando eu não estou
Ninguém me cobre dos raios de Sol
O teto de zinco apodrecido
Deixa passar o medo e o perigo

Chafurdando no lixo úmido que me cerca
Alimento-me do podre que resta
Ninguém me amamenta quando eu nasço
A Lua se parece com uma lasca de aço

Eu sou poesia, eu sou mitológica
Eu sou vadia, eu sou ilógica
Eu sou cordeiro, eu sou sagrada
Eu sou rebanho, eu sou boiada

Juntando as mãos à altura dos olhos
A visão aguça e a mente se enquadra
Ninguém reza quando me vê delirar
Ninguém chora quando me vê mofar

A almofada é roxa e perfumada
E os ombros parecem querer se colar
Ninguém ri quando o vê o dia incendiar
O guarda-chuva faz o fogo desviar

Eu sou pedaço, eu sou cerne
Eu sou sólida, eu sou um verme
Eu sou roída, eu sou porosa
Eu sou doença, sou venenosa

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