15.10.09

Meio achados, tão perdidos

Foi pegar mais um suco amarelo 76, daqueles que parecem que de uma torneira sai água e da outra o pó. Naquele dia a água parecia ter acabado.
Sentou-se próximo aos amigos, riram um pouco e comeram o feijão meio amargo que serviam lá. Odiava carne de porco. Morar sozinho é um problema às vezes.
- Estamos indo.
- Vou ficar mais um pouco, quero ver se alguém em especial entra.
Ficou numa das mesas solitárias esperando a entrada de alguém que não viria. E não veio. Balançava água entre os dentes, chacoalhava em cada lado das bochechas. O tédio!
De longe viu um cartão branco no chão embaixo de uma das mesas, estava sobre um grossa camada de farofa derrubada:
- Além de distraída é desastrada! - pensou, rindo.
Olhou no relógio de pulso e notou que já estava acontecendo a primeira aula.
- Se fosse um cafézinho eu me daria tempo, não é? - censurou-se.
Sem muito pensar tomou rumo à biblioteca, em passadas curtas foi observando aquele caminho que não percorrera muitas vezes na vida... Estudava do lado oposto, não gostava muito de alugar livros, somente os comprava.
No caminho viu a famigerada pessoa. Estava sentada num banco, lendo uns papéis fotocopiados de algum livro que a capa nunca vira. Permaneceu com a vista fixada, nada de troca de olhares. Ensaiou um sorriso amarelo quando surpreendeu-se com um estalo:
- Oi, meu amor.
Alguém sentara ao lado e beijara aqueles lábios que lhe perteceram um dia. No fundo já sabia disso tudo, foi bom comprovar. Respirou bem fundo e adentrou à biblioteca.
- Moço, perderam uma carteirinha... Posso deixar aqui?
- Pode sim, esse povo distraído é fogo!
- É sim.
Não quis mais assistir aula, foi descendo até encontrar a primeira lanchonete. Vários quase-advogados jogando truco e falando futilidades. Mergulhando numa xícara de café e num docinho de chocolate foi pensando:
- Luciana... Graças à você, Luciana.

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