9.2.11

Carta de uma doente terminal - ou quase

Olá, ansiedade. Esse texto é para você.
Hoje eu queria te pedir novamente minhas noites de sono. Além disso, queria que devolvesse a normalidade da pressão sanguínea do meu corpo e em troca deixo que leve minhas olheiras tão profundas. Eu gostaria, mais que qualquer outra coisa, que me respondesse algumas questões. Pode ser?
Lá vai a primeira delas: com tantos corpos por aí, mais bonitos, magros, fortes e bronzeados que o meu, por que habitar logo a mim? Por que você precisa se hospedar aqui e sentir-se dona de todas as minhas forças, inclusive da minha dignidade? Também quero saber quem é que deixou você trazer junto de si a tristeza, a dor, o mau humor e essa cambada de enfermidades. Quem foi?
Olha, ansiedade, essa nossa parceria não tem dado certo. Você sabe que está por aqui desde a minha infância. Você me fez comer compulsivamente a vida toda, fez com que eu roesse as unhas, escrevesse tantos textos, desejasse morrer por tantas vezes. Já não é o bastante? Por que eu não posso gostar de você como todos fazem: "ai, tô tão ansiosa por algo", elas dizem. Mas eu não posso dizer que estou ansiosa por nada. Eu sou ansiosa. E o que é um sentimento picante, eufórico, que a gente deixa suar o corpo todinho na espera de alguma coisa, para mim é uma doença, uma onda de calor infernal que sobe o corpo todo, incendeia o cérebro e me fere a carne com o efeito de um milhão de agulhas. Dez milhões. Cem bilhões.
Eu não te aguento mais, não te suporto mais. É vida ou morte. Não tem remédio que te tire daqui, nem toneladas de doces e calorias, nem dormir a manhã toda. Nem droga na veia. Saia daqui, por favor. Saia da minha vida. Você se lembra que me fez desistir de tantas coisas, que me fez chorar por medo incontáveis vezes, que me arrebenta o estômago e faz com que meu relacionamento com as pessoas seja a cada dia pior. Sabe que por sua causa eu me sinto uma esquizofrênica, assustada o tempo todo por talvez, sei lá, ser mesmo uma doente mental. Você fez isso comigo?
Vá embora e feche a porta, minha querida. Por favor! Já me fez alucinar tantos desastres, imaginar tantas mortes, sofrer por acontecimentos impossíveis. Suma daqui, vá procurar outra morada enquanto há tempo. Fica um aviso para você: se você me tirar do sério mais uma vez, dou fim a nós duas, senhoria e inquilino. Deixe-me em paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário