22.7.11

Sem título

Pequena, voei. Mesmo pesada, mesmo encharcada, mesmo morrendo de medo, voei. Achei meu recanto seguro, meu ninho mofado, um novo lar. Fui embora de um lugar que nunca pertenci e quase repudio hoje aquilo que um dia amei. Voei e gostei da vista que tive, perdi o medo de altura, ganhei forças para chegar mais alto. E caí, dei de cara com o chão, comi poeira. E como, todos os dias. Inalei fumaça, engoli lágrimas, mordi a própria carne. Fui perdendo a força nos braços, o brilho nos olhos, o ânimo. A vertigem voltou e a tristeza derruba a cabeça contra um dos ombros como fazia antes. O passado assombra como se voltasse dizendo "venha, covarde, venha viver uma vida que não é tua outra vez". Até quando eu vou viver assim, mais ou menos, conformada, amarela. Triste? - pensei. E eis que no meio dos escombros de meus medos, uma força, a velha esperança, que me pegou pela mão tantas vezes, salvou do poço e do precipício, fez subir montanhas, agarrou-me. Dessa vez me pegou pelas asas, me jogou do alto e voei. Voei de novo, planei por horas e horas. Embaixo de mim as coisas foram ficando menores e se encaixando com mais nitidez. Uni tudo como num tabuleiro. Faltou só uma peça, uma bem grande. Com apêndices para todos lados. Sei onde está e chega a hora certa de encaixá-la para poder voar de novo, pra bem longe, respirar novos ares. Tentar ser feliz mais uma vez. Só mais essa vez.

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