28.4.11

Morte

Parece mentira que uma família perde um sobrinho e um irmão, ou um primo e um tio, ou um neto e um filho, em menos de 3 meses. Parece mentira que um morreu de câncer e outro de hepatite. Mas não é. E acontece pior. Tem família que morre todinha num incêndio catastrófico e não sobra nem pó pra contar história. É assim.
Eu não conheci meu sogro. Gostaria muito de ter conversado com ele e visto aquele rosto tão lindo de perto. Mas não pude. Perdi meu primo mais bonito e o meu tio que também era conhecido como meu padrinho. Ontem à noite, menos de 5 meses depois do último velório, fico sabendo que a Vó Josepha - é com PH mesmo - está internada. E a coisa tá feia. Dessa vez a dor foi estranha porque ninguém tava esperando. Porque "essa veínha é forte" e um dia ela cai, sem mais nem porquê, e a gente fica aí, perdido, atônito.
Eu sinceramente não aceito a morte. E não há papo cristão que me convença das coisas. Não tem essa de "eles vão pra um lugar melhor" e "calma que ela vai sarar". Nesses últimos meses ninguém sarou de nada. Todo mundo morreu. E eu já começo a encarar com uma falsa frieza as coisas que tem acontecido.
As pessoas definham, morrem sem precisar morrer e a gente fica aqui cheio de culpa, tristeza e encharcado de choro. A morte é mais egoísta que eu e me bota um terror tão grande que chego a perder a vontade de viver. Chego a querer morrer. A morte é ruim, traiçoeira, não faz sentido, chega quando não deve, vitimiza. E eu tô cansada dela estar me rondando, me tirando querida. E não adianta eu me fazer de forte e otimista e acreditar que minha vó tão querida e amada, amada mesmo, vai sair andando daquele hospital hoje mesmo e tudo vai ser o mesmo de sempre. Todo mundo morre. E todo mundo que fica doente tá morrendo aqui perto de mim. Eu queria acreditar de novo na vida e na força que ela tem, mas não tá dando.
Eu tô preparando o meu espírito pra tirar uns dias de folga do estágio e da faculdade pra encarara morte de novo. Pra ver ela deitada ali na nossa frente e vagar os corredores frios da capela mortuária da minha cidade. Pra ver ela ardendo os olhos da gente e cutucando com ferro quente o meio do peito. Tô me preparando pra toda essa dor de novo e dessa vez vai ser a mais dolorida. Porque eu sou próxima da minha avó, porque eu sou a cara dela, porque ela era forte e ia enterrar todos nós, porque meu pai não merece perder a mãe, porque a casinha dela vai deixar de existir, porque ela tava brava comigo porque eu não ia lá há tanto tempo. Porque eu a amo, só isso.

Um comentário:

  1. A morte é assim mesmo. Vem sorrateira e pega quem acha que deve. Nessa mesma capela mortuária da sua cidade, ouvi frases como "a morte só quer uma desculpa" e "que pena, ela era tão jovem" enquanto o maior medo da minha vida era encenado como em um filme projetado no telão amarelado de um cinema velho do interior. Às vezes perdia detalhes do longa metragem quando o inundar dos olhos ofuscava a minha vista.

    Tudo tinha acabado, mas eu continuava achando que havia cura. Mesmo quando disseram que haviam feito tudo, eu achava que havia algo mais a se fazer.

    E, por mais estranho que pareça, eu acabei vendo e tendo certeza de que, então, estava tudo bem, mesmo sem estar.

    Quando tudo está ruim, eu não acredito que tudo vai ficar bem porque eu quero. Eu acredito porque eu preciso.

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