5.12.11

05 de novembro

Eu ainda não consegui escrever de forma longa e detalhada o que aconteceu naquele dia 05 de novembro. Por mais que hoje faça exatamente um mês que tudo aconteceu, as coisas ainda permanecem vivas num silêncio de quem não quer perturbar a própria paz. Tudo o que aconteceu ainda acontece todos os dias num canto escondido da minha mente, das minhas emoções. Tudo ainda existe e sempre vai existir de forma inconsciente e pura, mágica. Sem maiores explicações.
Consigo me recordar de cada segundo. De quando dormi, das pessoas inconvenientes, de cada segundo de dor, dos pés inchados, da sede, do calor infernal, da vontade de desmaiar. Lembro de não sentir fome, das quase 24 horas sem fazer xixi. Lembro das pessoas, do halls de minuto em minuto, lembro daquele medo absurdo de quando eles entrassem no palco e eu não saberia o que fazer. Como eu reagiria?
Foram horas, horas e horas. Muitas horas. De bandas boas, não tão boas, de bandas horríveis. Foram 9 horas. Em pé, com calor, com mochila pesada, com necessidade real e dolorosa de sentar e esticar as pernas. Foram mais de 30 minutos de palco vazio esperando aquele que deve ter sido o momento mais lindo da minha vida. Porque aí a gente tá lá achando que vai gritar, sei lá, quando o Julian, o Julian Casablancas, ele que salvou a sua vida adolescente nada agradável, entrar. Você vai achar legal e talvez você vá chorar. Mas daí ele entra de verdade, ele sorri, ele é meio tímido e ele é lindo. Ele é ainda mais lindo do que você esperava. E doce, educado, meigo. Ele começa NYCC e você não entende mais nada. Eu não entendi mais nada. O meu corpo seguiu um movimento vertical que a massa atrás de mim fazia de maneira coordenada. As pessoas gritavam as letras das músicas e eu gritava também. Eu cantava olhando para ele porque dá aquela inocente sensação de que ele vai te chamar pro palco e você vai embora com eles depois do show.
Eu não conseguia tirar os olhos do Julian porque é meio que inacreditável. Aquela pessoa que escreveu suas letras favoritas, que já foi seu namorado imaginário, o primeiro deles, que você veste em camisetas, que você guarda em fotos. É bonito e triste ao mesmo tempo, é... Inacreditável. Eu não sabia onde começava o choro e o riso, sozinha, na grade, com as dores indo embora, a mente se esvaziando...
Foi o maior momento de paz que eu já tive na minha vida. Aquela sensação de que isso tudo vai valer a pena, sabe? Eles sempre me deram essa noção, mas naquele dia 05 foi muito maior. Era como se eles me dissessem que tudo ia ficar bem.
Até entendo que esse texto soe como fanático e bastante desconexo. Mas é a primeira tentativa de transcrever tudo o que eu senti há um mês atrás. Não me interessa se pareço infantil ou ridícula, agradeço aos cinco meninos por ter resistido a tantos momentos ruins ao longo dos meus depressivos anos da adolescência. Por ter me ajudado a suportar as tristezas pelas quais passei e passo, por ter as palavras exatas e delicadas que ninguém foi capaz de me dizer em todas as vezes que precisei. Eles são meus melhores amigos e esse show, esse dia, foi o melhor da minha vida. Obrigada.

Um comentário:

  1. Muito linda a sua postura de compartilhar um momento tão seu com outras pessoas, Lucy. Eu, em nenhum momento, achei isso ridículo ou infantil. E o momento em que mais me identifiquei com a tua narrativa nem foi a mesma angustiante espera da fila, mas foi o seu agradecimento. Faço suas as minhas palavras ao considerar a minha admiração - um tanto excessiva às vezes - pela Melanie C. : "Por ter me ajudado a suportar as tristezas pelas quais passei e passo, por ter as palavras exatas e delicadas que ninguém foi capaz de me dizer em todas as vezes que precisei."
    Nossos ídolos são isso, se não o fossem não seriam ídolos! bj

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