24.9.10

Amor

Já fui católica fervorosa, era devota. Ia na missa, rezava antes de dormir, sermão no domingo de manhã. Já estudei a Bíblia por contra própria, dediquei um mês da minha vida ao estudo do hinduísmo, assisti culto evangélico e morri de medo do juízo final. Virei ateísta, sofri, fiz promessa, rezei, orei, autoexorcizei. Assumi-me pagã, profanei, ri, fiz descaso, pouco caso, nem liguei. Voltei a sofrer, ser herege e orar, tudo ao mesmo tempo. Botei-me de joelhos ao chão, não fui mais à procissão e decidi deixar rolar.
Há uns meses atrás descobri o amor, virei adepta. Toda noite penso nele antes de dormir. Vivo por ele. Comungo de sua carne, sangue e suor e ele da minha. Somos um só corpo e um só espírito. Digo uma só palavra e entro em sua morada, fria, desconsolada. E de lá saio renovada, porque o meu nome está no amor. Dentro, fora, pelas beiradas.
Se quer saber, talvez Deus seja mesmo o amor. Se não for, ainda haverá tempo de descobrir. Fiquem com amor.

17.9.10

Sobre o que tem acontecido

Não me lembro que dia foi, mas esses dias a minha mãe me ligou quando eu estava dentro do 307 indo para UEL. Ando bem esquecida, mas me recordo de estar um pouco atrasada para aula do Bola. "É, filha, o primo piorou", foi o que ela disse de início. Eu senti uma fincada na nuca e as pernas amolecendo. Eu estava em pé próxima à porta e a vontade na hora foi de arrombá-la com o pés e, sei lá, sair correndo. O primo piorou. O câncer voltou e voltou violento. As dores absurdas nas costas já anunciavam o pior e todo mundo respirou bem fundo antes dessa notícia. Sim, o câncer voltou.
Esses dias têm sido estranhos. Domingo comecei a somatizar as coisas erradas mas, repito, tenho estado confusa com datas. Não sei se foi após esse telefonema que o resto desandou ou se estava desandado e eu parei para pensar só nesse momento. Não importa. O que tem acontecido é que as coisas estão muito erradas. Tenho dormido mal e não tenho vontade alguma de acordar. Meu curso me enoja e meu trabalho me enche o saco. Tudo fica ainda mais doloroso porque eu sei que aqui em casa as coisas não andam nada bem.
Paira sobre mim uma grande culpa por ter ido embora contra a vontade dos meus pais. Talvez eles precisem de mim nessa hora de aflição. Mas, acima de tudo, tenho precisado deles. De ouví-los lavando a louça e fazendo comentários desconexos sobre qualquer coisa. E não é uma saudade comum. É uma dor por ser uma filha ausente. Uma dor por estar perdendo um primo e estar longe cuidando de um monte de coisa que eu não gostaria de cuidar.
O primo está com dores, toma bastante morfina. Está menos pálido e muito magro, os ossos estão visíveis e o machucam. O câncer se alastrou como uma praga - pensando bem, câncer é uma praga. Hoje os médicos desiludiram a família. Apesar de tudo, está lúcido, embora esquecido. Quer sarar ou ir embora logo, permite-nos chorar e não sente fome. A tia está desesperada, revoltada. Dessa vez parece que não tem saída e eu só entendi a dimensão disso aqui em Apucarana. Vejo meu pai como nunca vi, os olhos molhados e sem muita piada. A mãe chora o tempo todo, não costuma esconder nada mesmo. Escondemos um do outro o que estamos sentido, mas toda hora escapa uma palavra e já falamos dele, de como isso dói.
Eu, já de saco cheio de tudo, fico sem saída. Não há nada que eu possa fazer, nada mesmo. Nem ao lado da família posso estar. Mas dói muito. Não sou a prima mais ligada a ele, nunca tivemos tanta intimidade. Mas quando ele se curou da primeira vez, me deu um novo sentido às coisas. Meu herói. Curou-se de três tipos de câncer e teve um Natal só para ele. Um Natal tão lindo que eu nunca vou me esquecer. A família toda numa felicidade absurda, celebrando a vida que tinha retornado a ele. Parecia que havia sido uma prova, sabe? Que, pronto, ele e nós aprendemos a lição.
Nada disso. Ele está mais doente que da outra vez, nós estamos descrentes, clamando por uma fé que poucos de nós têm. Eu mesma não tenho. Sei lá, eu sou bem egoísta mesmo. Mesmo pensando nos pais dele, nos meus pais, no restante da família, penso em mim. Como vou ficar se o pior acontecer. Porque eu não aceito a morte e nunca vou aceitar. Porque sei que é a ordem das coisas, mas não aceito que aos 22 alguém tenha que dar fim a essa progressão. Eu não aceito.
Hoje meu coração sangra de cansaço, medo, dor, saudade. Hoje estou confusa. É o que tem acontecido. Preciso de férias da vida, preciso do Danylo o tempo todo, preciso passar uns dias em Apucarana. Acima de qualquer coisa, preciso de um milagre que salve a vida do José Eduardo. Do Zuido. Do Dudé.

Esse é o meu desabafo sobre o que tem acontecido.

12.9.10

Um leão de cada vez

Eu não faço ideia de quando ouvi essa expressão pela primeira vez. "Um leão de cada vez". Só sei que ultimamente tem martelado na minha cabeça com muita frequência. Vai ver porque são muitos leões. Vai ver quero matá-los todos de uma vez. Vai ver são as duas coisas.
O meu maior leão, além de tantos outros, é o jornalismo. Há o tablóide, o notebook sem indesign, o trabalho e a prova de literatura, a matéria condensada do Shoni, alguma coisa do della Santa, matéria de rádio por vir, trabalho e resenha do Miguel. Parece que não vai dar tempo.

Um leão de cada vez, mesmo que todos estejam em volta de você. Você tem de enfrentar um de cada vez, deixe-os saber que você irá encará-los um a um, com a lealdade de um guerreiro. Um leão de cada vez, mortal. Porque seu sangue é ácido e mata, porque seu nervo é aço. Dez leões numa só noite, cem, mil. Milhões. E você irá matá-los com os dentes, rasgará com os punhos. Porque você é mais forte que eu um leão. Você tem a nobreza de mil gladiadores e força de um deus.

Eu acredito nisso. Um leão de cada vez.

10.9.10

A menina ainda dança

Mais uma vez o meu título vai fazer referência a Novos Baianos. Vai fazer sentido com meu mesversário de 19 anos, que parece ter sido ontem.
Mas a menina ainda dança porque hoje faz outro mês, um primeiro mês. A menina hoje dança porque fazem 30 dias que o amor resolveu fazer-se compromisso e ter data fixa: 10 de agosto. E um sorriso maior é dado a cada dia 10 de todo mês.
Na verdade esse texto é de desnecessário a você, meu garoto, porque tudo o que sinto você sabe. Tenho até medo que se canse de saber. Esse texto é para que agora todos saibam que eu te amo. E que todos saibam que você ama aquela que era impossível de ser amada, aquela que era acostumada com o sofrimento, aquela que fazia-se triste para, talvez, se sentir melhor. Esse texto festeja nosso um mês de namoro e nosso infinito de amor mútuo.
"Se depender de mim você só vai escrever sobre suas conquistas", e cá estou eu, botando em prática a tua promessa. Porque a vida tem lá suas dificuldades, coisas que deveriam mudar e a gente cansa de outro tanto. Mas a menina ainda dança, a menina ri e dorme em paz porque você existe.
Obrigada por esse mês, por essa paz, por esse amor tão lindo. Obrigada por se apaixonar por mim e por ser minha metade tão completa, tão linda.
Eu te amo, te quero, te espero, vida. E a menina sempre vai dançar apaixonada por você. Felicidades e vinho!


À nós.