20.5.09

Eu peço

Dessa vez não peço por mim, por mais que o faria se não fossem outros motivos mais fortes.
Pediria por mim pois sou egoísta e a vida me estapeia para eu entendê-la.
A vida é grande, a morte é maior. A saúde é gigante, a doença não tem fim.
Não dá pra brincar. Eu peço por ele, e só por ele. Por mais que eu não possa pedir, por mais injusto que seja, eu peço.
Eu não vou conseguir admitir, assimilar, entender. Eu peço por ele. Pela cura, pela sanidade, pela calma e pela fé. Essa fé que eu não entendo mais mas um dia já entendi. Essa fé que funciona.
Eu só peço por ele. Por mais que a minha paixão grite e esperneie, por mais que eu queira o mundo.
Eu quero ele pra sempre. Por favor.

Embalo da Menina Sonolenta

É nessa mesa de bar
Desejos e corações quebrados
É nesse canto de olhar
de sorrisos amarelados

Vem poesia doce e malandra
Vem o tear da negra aranha
E o gelado da salamandra
Vem embalar

É nessa valsa tão triste
o samba para ninar
É o amor que resiste
o barco a afundar

É nesse carteado
A mosca a me irritar
É esse óculos embaçado
vontade de vadiar

Vem cantiga quente e sacana
Vem o cachorro a arfar
O calor dessa cigana
Vem embalar



ps: quem achou?

17.5.09

Coisas que eu não entendo

Como algumas pessoas podem ir para a praia e não entrar no mar?
Como algumas pessoas deixam cachorros lamberem suas bocas?
Como os vegetarianos conseguem ser vegetarianos?
Como crianças enfiam o dedo no nariz e colocam na boca?
Como minha mãe pode se sacrificar tanto por mim?
Como o meu pai pode ser tão bobo e engraçado ao mesmo tempo?
Como o café da minha mãe pode ser tão mais gostoso que todos os outros que existem?
Como algumas pessoas conseguem ser magras?
Como alguém pode gostar de Guns n' Roses?
Como a tecnologia pode ser tão avançada?
Como eu posso achar que minhas poesias são boas?
Como Manuel Bandeira pode ser tão perfeito?
Como algumas meninas podem ser bonitas?
Como a beleza pode ser fundamental para a maioria dos seres humanos?
Como eu sou considerada humana?
Como pode tomar banho sem lavar o cabelo?
Como conseguem acordar de bom humor e falando?
Como não amar a ponto de enlouquecer?
Como algumas pessoas sabem jogar truco?
Como alguém pode não gostar de cerveja?
Como a minha irmã pode não gostar de carne de porco?
Como a Nayara não gosta de polenta?
Como as pessoas podem entender física?
Como vencer o tempo?
Como entender o coração alheio?
Como algumas pessoas feias se dão bem no amor?
Como fazer diferença no mundo?
Como parar de sonhar com coisas impossíveis?
Como se fazer ser amado?
Como andar de chinelo dentro de casa?
Como não ter nojo de dentes feios e amarelos?
Como acreditar nos políticos?
Como algumas pessoas nos esquecem tão rápido?
Como algumas pessoas conseguem emagrecer?
Como ouvir Radiohead sem dormir?
E o mais importante: como algumas pessoas podem ir para a praia e não entrar no mar?



Algumas dessas coisas eu nunca vou entender.

15.5.09

Samba do Infeliz

Nessa Estrada
Fria estrada
estreita, longa
e abandonada
Foi nessa estrada
que o meu amor deixei.
Nessa vida
Curta vida
seca, pacata
e sofrida
Foi nessa vida
que o meu coração eu abortei.
Nesse rumo
Errado rumo
torto, sombrio
e fora do prumo
Foi nesse rumo
que sem saber eu me guiei.
Nessa roda
Grande roda
mágica, alegre
e fora de moda
Foi nessa roda
que eu sambei.

9.5.09

Medo

Eu tenho medo, eu tenho muito medo.
Eu tenho medo da minha voz se calar logo agora, medo de regredir, medo de não conseguir.
Eu tenho medo de estar condenada, de estar fadada a um destino que não fui eu que fiz.
Eu tenho medo de que não saibam, que não percebam ou que esqueçam que eu sou capaz.
Eu tenho medo de só me restar o choro, o drama e o agouro, de não me sobrar a paz.
Eu tenho medo de ser um nada, de não saber que o sou e ficar enganada.
Eu tenho medo de não escrever nessas linhas tortas que sempre segui, eu tenho medo dos outros que a percorrem, eu tenho medo do fluxo que as coisas correm.
Eu tenho medo porque sou só, tenho medo porque não tenho sorte, tenho medo porque nessa rua escura não tem poste.

Eu tenho medo.